Mox in the Sky with Diamonds

domingo, maio 03, 2009

OS LIMITES DO RACIONALISMO

TODOS AGEM conforme seus interesses, maximizando aquilo que lhes traz maior utilidade e prazer, certo? Parece básico que, tomando um caso a sério, todos concordem acerca daquilo que é mais útil e razoável, certo? O "egoísmo" natural de cada um de nós acaba desembocando em uma concepção adequada de justiça, em que cada um abre mão de um pedaço das suas crenças para poder viver em paz, certo?
Errado. Errado. Errado.
Fico impressionado no poder da crença no sujeito racional da consciência típico do pensamento do século XVII ainda se mantém até hoje. Ao que me consta, por exemplo, tanto uma boa parte da filosofia analítica quanto a economia se baseiam na crença de que o comportamento humano é uma espécie de "cálculo racional" entre custos e benefícios de uma ação. Todo discussão de Derrida com Searle, por exemplo, era uma crítica não entendida por este do conceito de "sério" na teoria de Austin, ou seja, Derrida tinha esse recorte como algo contingente e bastante arbitrário. É, aliás, impressionante o prestígio que goza o conceito do "reasonable man" no mundo anglo-saxônico. A maioria das análises dos fenômenos sociais -- geralmente de bom senso e por isso convincentes -- parte desse conceito.
O problema é que o ser humano não é bom senso. A psicanálise, por exemplo, nos mostrou que muitas vezes nos sabotamos, por culpa, ou que não atuamos na linha da racionalidade porque nossos desejos pedem mais. Há mais coisas entre o Céu e a Terra do que nossa "consciência" (essa invenção cartesiana). Grande parte da filosofia do século XX explorou justamente essa franja "inconsciente" que era arbitrariamente excluída, como se fosse um detalhe (e, no entanto, decide).
Sem compreender que não somos apenas esse jogo de custo/benefício, as áreas humanas vão ficar empacadas nas exceções. Porque, a rigor, essas exceções não são exceções, mas parte da complexidade humana que extrapola esse "indivíduo racional". Gosto do pragmatismo e do bom senso das análises do mundo anglo-saxônico, mas elas sempre sofrem desse problema: perdem toda riqueza do comportamento que extrapola o pensamento estratégico e, por isso, perdem complexidade e rigor. As novas ciências humanas devem ser atravessadas pelos novos problemas postos pelo pensamento do século XX: inconsciente, mundo, linguagem, desejo, culpa, etc.

Marcadores: