A COERÊNCIA DOS FORTES
UMA DAS DISTINÇÕES MAIS problemáticas da atualidade é entre direita e esquerda na área política. Seja porque, no campo programático, o socialismo ruiu; seja porque, no campo prático, as políticas de direita e esquerda têm poucas diferenças [economia, crime, área social]. No entanto, eu mesmo já escrevi sobre o tema e vejo dois campos plenamente opostos, jamais podendo ser igualados.
O que chama atenção é que, a cada grande questão, a distinção - que os tecnocratas gostariam de apagar com o "Fim da História" - aparece veementemente. O caso da Reserva Raposa/Sol, as cotas raciais, os crimes de colarinho branco ou, hoje, o conflito Israel/Palestina. Em todos os momentos que surge uma questão nova aparece novamente a distinção entre direita e esquerda. E fica muito claro que a direita se posiciona a favor dos fortes [brancos, israelenses, colarinho branco] e a esquerda dos mais fracos [índios, negros, palestinos]. Quem está acompanhando os debates pela mídia pode constatar que todos os articulistas do campo conservador apóiam Israel, e vice-versa [basta dar um giro pelos blogs mais lidos da Internet para constatar isso].
É verdade que a questão tem vários nuances importantes. O discurso esquerdista é muitas vezes equivocado [caso do colarinho branco, onde há erros e acertos] e ressentido. Um certo afastamento dos fatos, uma certa ponderação, um pouco de sensatez é bom para moderar o ímpeto de certos esquerdistas mais fervorosos e indignados.
No entanto, quanto mais leio a mídia e as colunas de convidados, mais me confirmo de esquerda. É impossível não enxergar que, enquanto o esquerdista quer derrubar a ordem e confirmar a justiça para as vozes vencidas que ficaram emudecidas pela lança do estado de exceção da história, o conservador tem medo e quer manter tudo como está, de preferência silenciando todo aquele que se levanta contra a hegemonia do forte.
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