Mox in the Sky with Diamonds

terça-feira, dezembro 23, 2008

HÁ ESPERANÇA

RESOLVI ABDICAR DE ESCREVER sobre outras coisas e escrever, nesses dias natalinos, sobre a esperança.
Contrasta com meu modo crítico de ver o mundo uma espécie de esperança invencível na possibilidade de nos renovarmos, de vivermos futuramente uma vida feliz. Se hoje em dia enxergo violência, poder e indiferença como molas propulsoras de dispositivos que se apropriam da vida humana, é certo que mudar isso está ao alcance da nossa mão. Um segundo, um instante, uma pequena piscada de olhos é suficiente para que ousemos mudar a rota.
O sonho da totalidade - essa "ideologia" que encobre a vida real nas suas representações que se materializam - é paralizar o tempo e, assim, paralizar a esperança. Colocar tudo em "ordem" e deixar tudo como está. Infelizmente para eles, o tempo é imparável e segue correndo. Com ele, a vida se renova permanentemente e caminha em direção à felicidade.
A esperança renasce a cada dia e é a possibilidade que temos de hesitar, de abrir uma fresta no horror do mundo, de sorrir naturalmente, voltar à ingenuidade infantil como a descrita pelo Gabriel. Cinismo e conformismo são posturas que nos fazem perder a inocência. É bom lembrar que o super-homem de Nietzsche não é o "leão", um super-poderoso narciso que sobrepuja os "camelos", mas a "criança", que é capaz de viver a vida na inocência do brinquedo. O Natal parece uma oportunidade sincera de retomada dessa inocência, inocência que sempre contrasta com a culpa, e é ela que nos dá a possibilidade de renovarmos constantemente nossos laços e criar efetivamente vida humana. Vida humana que é vida de relações: para as pessoas, na sua alteridade.
Cada vez mais me convenço que, ao contrário do que o horror cotidiano tenta nos convencer, a relação sadia é a raiz do humano - a raiz da linguagem e do mundo - e, portanto, é o nosso estado normal, não o anormal. Enquanto os cínicos fazem questão de dizer: "Viu? Todo mundo é canalha!", eu prefiro enxergar isso como a corrupção de algo sadio que é o normal, que abastece desde o início nossa humanidade, que abre a possibilidade, inclusive, da sua deturpação. A esperança, por isso, está mais próxima de nós do que imaginamos, pois já vivemos normalmente na relação sadia, cada vez mais interrompida por um massacre de imagens e instituições que se interpõem entre nós. Pensar a esperança é, então, pensar a raiz do pensamento, a própria possibilidade de pensar, ou seja, pensar o cuidado que me permite pensar. E se hoje penso, é porque fui cuidado para pensar. A esperança da vida feliz é a esperança do cuidado irrestrito entre nós.
Feliz natal a todos, com muita esperança!

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