Mox in the Sky with Diamonds

sábado, setembro 13, 2008

SÓ LULA SALVA

AO QUE PARECE, apesar de todas as reticências que merece toda e qualquer pesquisa, a tendência é a vão para o segundo turno Manuela D'Ávila e José Fogaça em Porto Alegre. Maria do Rosário ficou para trás por um conjunto de erros indesculpáveis na campanha, especialmente em uma cidade com anti-petismo disseminado e uma cada vez maior alergia aos pobres (moradores de rua, carroceiros, flanelinhas, etc). Alguns desses erros são visíveis: o marketing é triste e preferiu transformar "Maria" numa espécie de santa, revestindo-a de uma aura angélica e usando uma imagem que parece aqueles ícones de igreja; a campanha beira ao superficial e discute os temas que interessam a quem não quer fazer nada (quantas creches construiu Fogaça, quantos postos de saúde, etc.); e, por fim, faltou saber sopesar a circunstância de ter governado Porto Alegre por 16 anos com um ar de novidade, deixando a campanha, na realidade, com ar de nostalgia.
Todo esse discurso sem sal acabou potencializando os defeitos de Maria do Rosário: sua feminilidade, que irrita a tantos que seguem a leitura "falocêntrica" da política que Derrida ajudou a mostrar, acabou transformando-se em ausência de firmeza, sua suavidade deixou-a insossa em meio a um discurso sem contundência e conteúdo. A campanha do PT deveria ter estabelecido claramente as diferenças entre os candidatos: para quem cada um governa. Fogaça é o candidato do Moinhos de Vento; Rosário, da Restinga. Deveria ter partido para o embate concreto, pois é assim mesmo que está dividida a cidade. Polarizar nem sempre é ruim, muitas vezes é necessário e fomenta uma democracia radical, como nos ensina Chantal Mouffe. Era necessário polarizar os projetos. Ficando apenas na casca, discutindo quantidade de postos de saúde ou creches, não é possível visualizar a diferença de projeto. Visualizar o quanto Manuela é vazia, Fogaça é burocrata, Onyx é neocon. Todos têm seus defeitos, inclusive Maria do Rosário, mas sua militância nos direitos humanos deveria ter sido posta como bandeira principal na discussão sobre carroças, lixo, moradores de rua, políticas de drogas, segurança municipal e assim por diante.
Só resta uma improvável chance: que Lula resolva intervir. O Presidente bate todos os recordes de aprovação, inclusive nas classes altas, e já começa a se estabelecer no mesmo patamar das figuras históricas reconhecidas da república. Sua intervenção direta poderia fazer subirem consistentemente as taxas de Maria nas classes mais baixas, podendo atingir índices altíssimos se ficar bem claro que é quem representa Lula. Claro, por Manuela ser da base e por Lula estar economizando capital político, é provável que essa interferência não ocorra. Mas é a única forma de Maria do Rosário ir para o segundo turno.
O triste, no entanto, é que o erro na campanha indica, na realidade, que o PT ainda não se renovou o suficiente para concentrar os votos da esquerda e da população de baixa renda, não merecendo, mesmo, ser eleito.
Mais triste que isso só uma cidade que aprova em mais de 40% um prefeito inexistente.

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