Mox in the Sky with Diamonds

sexta-feira, agosto 08, 2008

OBAMA MESSIÂNICO?

A maioria dos entusiastas de Barack Obama tem repetido que o candidato à Presidência dos EUA não é um messias. Faz-se questão de retirar qualquer véu de especialidade, temendo uma reação desfavorável do eleitorado conservador.
As reticências aos messiânicos são plenamente compreensíveis. Depois que encaramos os totalitarismos do entre-guerras, a ordem liberal tornou-se espécie de dogma inatacável, sempre preferível às experiências revolucionárias da direita e da esquerda. O efeito no Direito, por exemplo, é uma super-inflação narcísica do discurso constitucionalista a ponto de querer reduzir a política ao cumprimento da metas constitucionais, como se o texto fosse "dirigente" e capaz de induzir o futuro. Na política, o candidato viável deve se adequar ao status quo e, no máximo, pregar um reformismo moderado. É o tédio, então, que tem sido propriamente a emoção democrática por excelência.
É evidente que isso não é ruim. No entanto, não podemos desprezar de todo a figura messiânica, essa que tanto interessou a Walter Benjamin e hoje é destaque na obra do seu seguidor Giorgio Agamben.
Obama tem se destacado exatamente pelo seu caráter "messiânico", e não pelo seu caráter reformista. Reformistas com propostas de reconciliação entre negros e brancos, trabalhadores e empresários, homens e mulheres, meio ambiente e produção, podem surgir a qualquer momento. Basta ler Richard Rorty para ver que ali está todo embrião da revitalização do "sonho americano" (do american dream, e não do american way of life) utilizado por Obama nessas eleições. O que empolga Obama é que ele desafia o modo atual de fazer política, ousando o tempo inteiro contestar aquilo que acredita equivocado sem dar um passo atrás. Seu lema, a "audácia da esperança", é o próprio rompimento com o tempo cronológico e ressurgimento do tempo da qualidade, do "agora", do instante que rompe com a história.
De tudo que Obama fala, o que mais fica e empolga as pessoas é o messianismo desse rompimento, do "Yes, we can", ou seja, podemos sim agarrar o momento e mudar, a história não nos governa, podemos romper com o que está aí, com o conservadorismo, com a hipocrisia, com o conformismo (para o qual colaboram blogs políticos cínicos). Seus discursos não são diplomáticos; são messiânicos. Obama substitui o tédio democrático por uma espécie de esperança de rompimento.
A esperança que Obama desperta não é a mesma que Lula despertou, anos atrás, embora seu lema fosse "esperança vence o medo". Lula já vinha de um recuo estratégico, aliando a setores conservadores e aderindo a um plano econômico relativamente conservador. O que elegeu Lula foi exatamente o seu pragmatismo. Com Obama, as coisas são inversas. O que tem causado furor e adoração é exatamente sua ousadia, sua coragem, sua capacidade de falar fora do vocabulário político tradicional.
Se isso o elegerá, não sei. Há outros blogs - vários linkados aqui - que podem analisar muito melhor. Mas, pelo que tenho acompanhado e visto em vídeos de Obama, é sua "audácia" que tem despertado sucessivas paixões e rompido com o quadro entendiante tradicional.
Vejam a ênfase no TEMPO do discurso a seguir:


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