Mox in the Sky with Diamonds

terça-feira, agosto 12, 2008

A ARTE SE MOVE, QUEIRAM OU NÃO

A coisa mais engraçada nos fundamentalistas e conservadores da arte é que eles estão destinados à frustração permanente. Tornam-se cínicos, irônicos, autistas, idiossincráticos ou revoltados. Não importa. Encontram alguma estratégia de evasão.
Se está correta a hipótese de que a filosofia sempre teve pretensão de ser uma Totalidade que representa o mundo como um espelho, arquivando nas respectivas pastas os "objetos" percebidos e deduzidos por esquemas lógicos, o certo é que, como tantas vezes afirmou o Professor Ricardo Timm (cujas lições vou absorvendo aos poucos, mesmo sem ouvi-lo há algum tempo) em aula, a estética jamais foi aprisionada. Por isso, sempre foi tida como superficial e desnecessária. É impossível aprisioná-la.
Muitos movimentos sectários tentaram reduzir a arte a si mesmos, eliminando todo resto como anacronismo ou lixo. Nenhum foi capaz. Nenhum será. A arte nasce dessa polifonia irredutível, da pluralidade incontrolável, da capacidade tipicamente humana de jamais deixar de exercitar o atrevimento, não importa o grau do terror. Todo totalitarismo tem suas obras de contestação, seu Outro subversivo, seus "versos satânicos". É inevitável. Nem mesmo a crueldade humana conseguiu impedir a arte de ser atre-vida. Não serão os conservadores ou os dogmáticos que conseguirão. Felizmente, vivemos numa democracia e há espaço para todos.
Fico pensando nisso quando ouço os tantos conservadores do rock falar. Não são só os que lêem porventura esse blog. São muitos, muitos mesmo. Formam praticamente uma tribo. Uma tribo que acha que o rock vai até o final dos anos 70 e, a partir de então, nada se salva. Acham que Beatles, Stones, Led, Pink Floyd, Neil Young, Bob Dylan e The Who esgotam o assunto.
"Data vênia", meus amigos, não concordo. Gosto da maioria dessas bandas (das citadas, todas, embora Led um pouco menos). Mas tem muita coisa que vale a pena depois. É bom ouvir a tosqueira underground norte-americana dos anos 80 e 90 (Pixies, Nirvana, Pavement, Flaming Lips), é bom ouvir os que ousaram combinações várias com eletrônica (de Nine Inch Nails a Massive Attack, de Prodigy a Garbage, de Primal Scream a Portishead), é bom ouvir os que criaram gigantescas paredes de guitarras encontrando formas novas (My Bloody Valentine, Slowdive), enfim, é bom variar. E, quando a própria banda é genial o suficiente para se reinventar (Radiohead, U2), nós reconhecemos e gostamos. Não adianta querer nos prender na gaiola de ferro do dogma do "rock". A gente gosta de coisas novas. Gostamos de Beatles e Pink Floyd, mas também gostamos de Bright Eyes, Guillemots, Mercury Rev, Jesus and Mary Chain, Deerhunter e M83. Assim como gostamos de Da Vinci, Dali, Goya, Velasquez, Zurbarán, Picasso e Andy Warhol. E de Baudelaire, Byron, Rimbaud, Poe e Rilke. Ninguém nos aprisiona.

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