Mox in the Sky with Diamonds

quinta-feira, julho 31, 2008

RORTY E DAVIDSON: DOIS ASCETAS FILOSÓFICOS

No último dia de RJ, minha namorada queria dar uma olhada em roupas e lojas. Normal. A mulher (e especialmente ela) é linda mesmo, e deve aproveitar a sua posição estética privilegiada na natureza, desde que, claro, a estética não se torne uma espécie de totalidade fechada que a torne incapaz de pensar ou refletir. Como, além de linda, minha namorada é inteligente, não tem problema. Só que - convenhamos - acompanhar a mulher para fazer compras é, seguramente, A COISA MAIS CHATA do mundo. Não tem cena mais patética que os dois ou três magrões parados, olhando para o nada, com a mão no queixo ou sentados, enquanto aguardam, com certo constrangimento, sua mulher experimentar 750 blusas e vestidos. O pior é que, geralmente, homens não entendem nada de roupas e, por isso, são péssimos conselheiros. Eu, por exemplo, acho feias 90% das novas modas, simplesmente porque para mim não existem modas. As roupas femininas que eu gosto são as mesmas que gostava em 2000. (Saia plisada vale? Hehehe).
Tá, nada a ver essa digressão com o post de filosofia hard que segue. Vamos lá.
Enquanto ela passeava, comprei uma revista e fui ler, sozinho, na beira da praia. A revista é a ótima "Mente e Cérebro", publicação séria e nada superficial, embora cara (R$ 12,90). Tratava dos pragmatistas, ou melhor, da "redescrição pragmática do sujeito".
Me empolguei com Richard Rorty nos idos de 2005, quando devorei os dois volumes dos seus philosophical papers, os livretos "Para realizar a América" e "Pragmatismo e Política", além de alguns outros textos esparsos (não terminei de ler seu clássico "A Filosofia e o Espelho da Natureza"). Rorty é um pensador de luxo. Por ele e pelo seu divulgador Paulo Ghiraldelli Jr, conheci também Donald Davidson, de quem só li passagens e vários papers sobre suas teorias.
Se, àquela época, o pragmatismo me fascinou ao ponto de delinear-se como referencial, a influência durou apenas até conhecer a fenomenologia e Levinas, que, a meu ver, superam Rorty e Davidson.
Com a leitura da revista, composta de excelentes artigos sobre James, Dewey, Rorty e Davidson, reafirmei essa impressão. E creio que o que hoje em dia me afasta de Rorty e Davidson é seu excessivo "ascetismo" filosófico, especialmente no primeiro. Se é verdade que Rorty é o anti-metafísico radical, o anti-platonista do excelência, é também verdade que, para mim, o excessivo ascetismo na sua linguagem e o medo de soar metafísico acaba impedindo Rorty de ir mais longe nas suas reflexões. Essa linguagem demasiado higienizada acaba não conseguindo penetrar nas profundezas do humano, por se precaver contra toda metafísica, refugiando no naturalismo darwinista de Quine. Com isso, sem querer, Rorty acaba se aproximando daquilo que ele mais combateu: o positivismo.
Davidson, por sua vez, para mim exibe o limite de toda filosofia da mente. Com sua concepção de linguagem como "adaptação", por exemplo, ele permanece dentro do naturalismo e não revela nada sobre essa linguagem. O mesmo ascetismo de Rorty.
A fenomenologia, tal como Levinas e Heidegger a usam, a meu ver permite transpor esse abismo. Priorizando o sentido e dessubstancializando os conceitos, é possível penetrar na complexidade do humano sem cair na metafísica. Levinas não hesita, por exemplo, em usar linguagem bíblica, mas isso não muda nada e não comporta nenhuma idéia de metafísica no sentido tradicional.
Por outro lado, o próprio Rorty, quando precisa situar um ponto arquimediano na sua filosofia para não cair no relativismo, utiliza o parâmetro do liberalismo e, mais adiante, da democracia para, ao final, reduzir tudo ao denominador comum da evitação do sofrimento. Ora, não é precisamente isso uma demanda ética?
Minha tese é que Rorty está mais próximo de Levinas do que imaginou, e acabou sendo injusto nas suas críticas ao filósofo lituano.

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