Mox in the Sky with Diamonds

quinta-feira, julho 03, 2008

O DIFÍCIL EQUILÍBRIO ENTRE ATAQUE E DEFESA

A minha geração dá pra dizer que é bastante sui generis em matéria de futebol: entre os meus amigos, a quase totalidade é gremista, e todos viram o Grêmio levantar várias taças durante a década de 90 com o Felipão no comando, influenciando sua formação sobre como se deve jogar futebol.
Não é à-toa que a maioria detesta times "faceiros", aprovam a existência de dois volantes duros à frente da área, pregam um futebol cauteloso e vangloriam o técnico turrão e cabeça-dura. Todas as características daquele vitorioso Grêmio de Paulo Nunes, Dinho, Arce e Jardel. Equipe raçuda, defensiva, competitiva e treinada por um cabeçudo teimoso, persistente e adepto da segurança defensiva.
Eu também já pensei assim. Olhar mais futebol, ver as equipes européias jogando em várias Championsleague e acompanhar com maturidade pelo menos quatro Copas do Mundo me fez mudar o ângulo um pouco. A isso colabora também a minha tendência ao não-apego às idéias, a minha ojeriza a dogmas e respostas prontas. O futebol também tem seus dogmas e seus fundamentalismos.
Foi assistindo equipes como o Chelsea de José Mourinho, o Barcelona de Rikjaard, o ManUnt de Ferguson, o Arsenal de Wenger e a Holanda atual, a Espanha ou Portugal que ficou claro para mim que a dualidade ofensivismo versus defensivismo é um duelo entre maus treinadores. Essas equipes tinham como características atacar muito (afinal, o objetivo do futebol é o gol) sem perder a compactação defensiva, usando estratégias diversas como a velocidade dos contra-ataques, a marcação-pressão ou o toque de bola incessante e de primeira. Começo a perceber que técnicos que montam equipes que sabem atacar sem saber se defender são tão ruins quanto os que só sabem se defender. É verdade que, vez que outra, eles (ambos) costumam vencer torneios. Mas, se podemos ter os dois aspectos, por que razão precisamos só defender ou jogar expostos ao adversário?
O desafio do grande técnico é montar uma equipe compacta, que saiba defender e atacar, como os Grêmios de 2001 e 2006, sólido atrás, marcando desde o ataque e pressionando o adversário por todos os lados. Mourinho nos ensinou que até com pontas é possível jogar, hoje em dia, sem perder qualidade defensiva. Basta que a marcação seja implacável e no campo todo.
Aos gremistas apolegetas de Felipão, presos nos anos 90, dogmáticos e fechados, convido a analisarem a própria conduta do seu professor. Felipão escalou apenas Petit para a cabeça de área, seguido de João Moutinho e Deco na armação, Simão e Ronaldo abertos nas pontas e Nuno Gomes como finalizador. Felipão escalou Juninho Paulista de segundo jogador de meio durante a Copa de 2002. E já comprou Deco e planeja trazer Ronaldinho para o Chelsea.
Felipão é o exemplo da evolução do próprio futebol nos últimos anos. As seleções e equipes da década de 90 e início de 2000 que jogavam fechadas, com dois marcadores pesados aos poucos vão substituindo por jogadores mais leves, velozes ou capazes de enfrentamento físico com agressividade no ataque (como Essien, Ballack, Lampard, Gerrard). Os próprios volantes estão trocando o perfil, ficando mais parecidos com Pirlo do que com Gattuso. É o futebol que começa a sair da sua era mais defensiva para reestabelecer o ofensivo, mas transposto um estágio dialético que permitiu incorporar a compactação como elemento fundamental da equipe.
Esse nesse tênue fio que transita o grande técnico. É isso que diferencia Mourinho, Felipão ou Luxemburgo de técnicos excessivamente defensivistas, como Muricy (seus times só alçam bola na área) e Roth (espero que evolua), ou excessivamente ofensivistas, que não conseguem o equilíbrio (como Renato ou Cuca). Ambos podem evoluir e encontro o ponto ótimo da equipe, como Tite e Mano imprimiram nos seus grandes anos no Grêmio (2001 e 2006). Esse é o futuro do futebol. Quem não está vendo isso está cego nos seus dogmas. Só que o tempo não perdoa os dogmáticos.

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