Mox in the Sky with Diamonds

sexta-feira, outubro 16, 2009

50 DISCOS IMPERDÍVEIS DOS ANOS 2000 (em quatro posts)
Parte I - 50-36.

Inspirado pela Pitchfork, resolvi publicar uma listinha de 50 discos que considero imperdíveis da nossa década e arriscar, ao final, algum comentariozinho mais intenso sobre cada um.




50. ELIOTT SMITH, "FROM A BASEMENT ON THE HILL" (2004)
O álbum mais precisamente impuro de Eliott Smith, inclusive acusado por familiares e amigos de distorcer a visão do músico, é o que considero melhor. Embora grande compositor, a meu ver sempre faltou em Eliott algo a mais que garantisse canções mais elaboradas. E isso é que ocorre nesse álbum, cheio de baladas desvastadoras e efeitos criativos.
Subir e descer do topo em segundos: eis a tônica do álbum que, como o seu próprio póstumo autor, reflete a melancolia nas suas idas-e-vindas. Recusa qualquer declínio de intensidade.




49. BLACK REBEL MOTORCYCLE CLUB, "HOWL" (2003)
Saindo da influência dos J&MC e do shoegaze, o BRMC se volta para um álbum que mescla os estilos de raiz da cultura norte-americana: soul, folk, gospel e country. O resultado é um belíssimo álbum que reflete com facilidade a estrada e uma vida boêmia. Estar com o BRMC em "Howl" é compartilhar o habitat dos bêbados, andarilhos e vagabundos, dos indomáveis, tudo ao som de potentes violões elétricos que nos guiam para o aberto da aventura da vida.




48. COLDPLAY, "A RUSH OF BLOOD TO THE HEAD" (2002)
O segundo álbum do Coldplay foi responsável pela sua ascensão mundial e lançou a banda nas paradas que transcendem o rock. "A Rush of Blood to the Head" bebe na fonte do U2, com vestígios claros do Radiohead, e alcança as massas com baladas inspiradas, revezadas, no álbum, com faixas mais violentas que são levadas pelo piano de Chris Martin e pela guitarra de Jon Buckland. Temas como "The Scientist", "Clocks", "A Rush..." e "Amsterdam" dispensam maiores comentários. "A Rush of Blood", apesar de ser um disco pop de massas, é ainda algo feito com o coração: tem a marca da juventude e da inocência. Sua vitalidade vem precisamente desse ar despretensioso e leve que vai conduzindo a audição.




47. LAURA VEIRS, "CARBON GLACIER" (2004)
A mocinha-geóloga do Colorado traz nesse álbum um punhado de canções doces,tristes e delicadas. Sua voz quase infantil contrasta com arranjos ricos e ousadia, situando o ouvinte numa espécie de paz gelada (daquelas que só os melancólicos sabem apreciar). Belíssimos vocais como em "Ether Sings", "Shadow Blues" ou "Rapture" ganham uma acolchoada cobertura por arranjos de cordas como em "Icebound stream". Estar com Laura é viver na frieza "glacial" das suas canções que, paradoxalmente, são reflexo de uma alma quente o suficiente para agüentar aquilo que de mais frio há.




46. GRANDADDY, "SUMDAY" (2003)
um tanto conhecido pelo seu amálgama homem/robô, o Grandaddy volta-se para a pureza do semi-acústico, expressando com violões e deliciosos backing vocals serenidade, calmaria, paz. Os barbudos de Montana não cansam de nos trazer um tom dos EUA rural, revisitado a partir do rock moderno e bebendo as fontes de Neil Young e companhia. Sem qualquer resquício de nostalgia, o Grandaddy visita o meio rural para trazê-lo hibridizado com a tecnologia e a angústia dos nossos dias, trazendo um clima decadente e blasé das pequenas cidades do longínquo interior. "Sumday" é a experiência daqueles longos e infinitos campos onde o ar é mais puro e o vento mais frio, a solidão é mais intensa e nada há do barulho e inquietação do mundo urbano.




44. MANIC STREET PREACHERS, "LIFEBLOOD" (2004)
Disco menos festejado da década dos Manics - e talvez de toda sua carreira - "Lifeblood" é talvez o único mergulho de uma década saturada dos anos 80 no rock dos anos 80, isto é, do que se fez em termos de guitarras por aquele tempo. De um U2, por exemplo. O álbum não tem a agressividade típica de outros dos Manics, mas é inspirado nas melodias e faz pop com muita classe, usando os teclados com habilidade e sem breguice. Destaque para "Empty Souls", "The love of Richard Nixon" e "1985" (que já entrega a referência do álbum).





43. PJ HARVEY, "WHITE CHALK" (2007)
Álbum mais sui generis da carreira de PJ Harvey, geralmente repleta de guitarras abrasivas e versos fortes, "White Chalk" é um melancólico registro que contempla canções de infância, tudo em ritmo sufocante e ao mesmo tempo absolutamente particular, íntimo. É um disco impressionista que provoca o ouvinte. Uma criança atormentada que se liberta da angústia e sofrimento despejando-os sem qualquer medo de atingir outros pela tempestade.



42. LOW, "DRUMS AND GUNS" (2007)
A única palavra que define corretamente esse álbum é: dilacerador. Precioso manifesto de uma tristeza sufocante, angústia desesperadora, melancolia mortífera, tudo no mais último grau de possibilidade, chegando ao assassinato, estupro, na morte. Com canções curtas e repletas de detalhes só alcançáveis com fones de ouvido, "Drums and Guns" é uma experiência no extremo minimalismo que só é suportável para poucos. Ouvir esse álbum é como entrar em uma estrada que não promete redenção; é o desespero, ele e só ele, que percorre música-a-música. Mas não é senão o desespero extremo que nos abre os portais de esperança.





41. FRANZ FERDINAND, "YOU COULD HAVE IT SO MUCH BETTER" (2005)
Uma das bandas de maior sucesso nos anos 00, o Franz Ferdinand recuperou o conceito de rock dançante e, empunhando suas guitarras em bons riffs e esmerando-se ao máximo nos shows, deixaram sua marca. "You could have..." tem um punhado de singles que agitaram as pistas nos últimos anos, dentre eles especialmente a onipresente "Do you want to" e "The Fallen". Além dessas canções com seus riffs "zapeadores", ainda há melhores momentos em que a banda ousa mais e transcende seu estilo, como as excelentes "Walk away" e "Outsiders".




40. ARCTIC MONKEYS, "WHATEVER THEY SAY ABOUT ME THAT'S WHAT I'M NOT" (2006)
Ah, é... Pois é, os guris são bons, admito. Foi tanta badalação exagerada que o hype acabou os prejudicando comigo. No entanto, não há como negar que as músicas são contagiantes, empolgantes, que conseguem conciliar Franz, Libertines e Strokes numa unidade inspirada, que o álbum tem poucas canções realmente dispensáveis e muitas arrasa-quarteirão. No seu ritmo enlouquecido e embalado - típico dos anos 00 - os Monkeys realmente mostraram que têm lugar por aqui: "I bet you look good on the dancefloor", "When the sun goes down" e as baladinhas "Riot Van" e "Mardy Bum" são fantásticas. Nem as paredes conseguem ouvir "Dancing shoes" sem balançar.




39. QUEENS OF THE STONE AGE, "SONGS FOR THE DEAF" (2002)
Os deuses do stoner rock apresentam aqui toda fúria de guitarras que marca seu som numa brutalidade sem concessões, mas tudo feito com a mais exímia perfeição. Narrado como um programa de rádio latino, "Songs for the deaf" tem a participação não apenas de Mark Lanegan, ex-parceiro de Josh Homme no Screaming Trees, mas também do SR. DAVID GHROL - leia-se: o mestre da bateria. E ele, junto com os demais, realmente estraçalha em canções como "No one knows", "First it giveth" e "Go with the flow". Um petardo sonoro.





38. THE KNIFE, "SILENT SHOUT" (2006)
Vem da Suécia o disco mais estranho de toda essa lista, certamente aquele que apresenta o mergulho mais radical no que poderia ser um disco totalmente gelado. The Knife é, do início ao fim, máquina sem sangue, pura psicodelia pós-humana. Não há mais nenhum resquício de vida; as máquinas celebram apenas sua vitória final em que qualquer gota de sangue é vista como a mais completa desnecessidade e estranheza. De atordoantes sintetizadores até a psicodelia extrema que parece o mergulhar no mais escuro dos abismos. Viajar com "Silent Shout" é visitar o ponto mais extremo da geleira, sentir as profundezas de um mundo em que a humanidade não é apêndice desnecessário, mas apenas vestígio de um passado.




37. BLONDE REDHEAD, "23" (2007)
Respirando na suavidade psicodélica do dream pop, o Blonde Redhead constrói esse inconstante, mas apetitoso álbum. Quando Kazu Makino está nos vocais, a viagem nos leva a cenários suaves, delirantes, pacíficos ou sensuais. Canções como "23", "Silently", "Heroin" e "Top Ranking" alçariam o disco para ainda mais alto na lista se não fosse a irregularidade restante. Mas essas... Com "23", somos convidados a viajar suavemente para mundos celestiais onde nos deitamos sobre as nuvens ou andamos nas costas de anjos.


36. THE STROKES, "ROOM ON FIRE" (2003)
Parece mentira, mas muita gente ficou frustrada porque esse disco é bom. Para os que desejavam tomar os Strokes como fogo de palha, "Room on Fire" é uma tapa na cara. Já começa com a estupenda "I wanna be forgotten", passa pela clássica "Reptilia" -- obrigatória no repertório futuro de qualquer Jukebox dos anos 00 -- e tem coisas lindas como "Under Control" ou "The End has no End".

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