FILHOS: NÃO!
APESAR DOS COMENTÁRIOS DO FABS, que foram bem interessantes (e desconfirmaram algumas das minhas "certezas"), tenho que continuar minhas reflexões sobre a vida pessoal e seus tabus. Um deles é o quanto ainda é desconcertante para as pessoas lidar com quem não quer ter filhos.
ATENÇÃO: eu não tenho NADA contra quem quer ter filhos; ao contrário, é uma coisa bem bonita. Mas nós não estamos no meio de uma hecatombe em que o gênero humano está prestes a desaparecer e eu me nego a engravidar a Regina Casé. O mundo não vai acabar se eu não me reproduzir. As coisas continuarão seguindo seu fluxo totalmente normal, sem qualquer problema de escassez humana. Tem gente pra burro para nascer.
Também não tenho nada contra crianças. Não sou muito bobão e brincalhão, nem acho bebês lindos (normalmente são feios). Tampouco tenho muita paciência. Mas as crianças não precisam de nós, adultos, para se divertir. Disse Benjamin uma vez -- sob o efeito de cânhamo -- que o que mais estranham as crianças nos adultos é sua falta de magia. Então, para elas basta que não as incomodemos. Elas sabem brincar, algo que perdemos quando perdemos nossa inocência. Então que continuem existindo e recheando de magia nosso mundo.
O que é estranho é como uma opção perfeitamente natural, feita com base em uma escolha de vida, pode ainda causar tanto choque. Volta e meia, o sujeito é visto com estranheza, chamado de egoísta, amaldiçoado pela diferença. A questão é, na realidade, muito simples: não ter filhos não é uma atitude egoísta porque se não está privando ninguém de nada. O suposto filho simplesmente não existe. Portanto, é uma impossibilidade não só lógica, mas fática, de que alguém saia perdendo. Esse "alguém" não existe. O egoísmo só pode existir se alguém está sendo privado de algo. Reitero: esse "alguém" não existe.
Nada contra as pessoas que querem ter filhos, mas tê-los significa uma série de restrições que não estou disposto a comprar. E ninguém perde nada com isso. O "outro" - o suposto filho - não existe. Eu sei que tem muita gente que só consegue enxergar sua vida a partir da imagem da família burguesa, organizada a partir dos filhos, com casinha, esposa, tomando café e levando as crianças para o colégio, saindo para trabalhar e depois voltando cansado. BELEZA. É a opção de vocês. Não queiram dizer que eu preciso aderir a isso. Porque eu tenho outros planos. Porque eu vejo sentido na vida sem ter casinha, crianças e sucrilhos. Porque eu acho que tem um monte de coisas legais para se viver sem precisar recorrer à relação parental.
Desculpem, mas nunca mais me recuperei da leitura de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", do Machado de Assis. Nunca mais. Desde que li "não deixei a ninguém o legado da nossa miséria", jamais sonhei novamente em ter filhos. Esse mundo é cão demais. E, reitero, porque não custa repetir, não estou prejudicando ninguém na sua não-existência, porque "não existir" não comporta, lógica e faticamente, uma privação. A sensação que temos a esse respeito é sempre uma sensação baseada numa "idéia de filho" dona de uma espessura representacional tão poderosa que parece real. Mas não é.
Claro, o egoísmo pode acontecer se a parceira quer ter filhos. Nesse caso, não vejo bem como equacionar as coisas. Mas é outra coisa distinta. O importante para mim é ressaltar que não há nada, absolutamente NADA, de errado em não ter filhos. Lógico, não? É, mas, pensa bem, tu sempre fica com uma pulga atrás da orelha a respeito. Ligue a vigília já.
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