Mox in the Sky with Diamonds

sexta-feira, março 13, 2009


TERRORISMO MUSICAL

"HAIL TO THE THIEF" é o álbum mais diretamente político do Radiohead. Impossível não mencionar a relação com o lema de George W. Bush ["Hail to the chief"] e a ironia desde o título. Assim como várias grandes bandas [ex. os Flaming Lips com "At war with the mystics"], o Radiohead também não suporta ver a obscenidade do líder do Império e sua paranóia delirante e corrupta após o 11 de setembro.
E, se "Hail to the Thief" é um álbum político, sua estratégia é o terrorismo. Mensagens cifradas, ironias incompreensíveis, ritmos quebrados e raivosos. O Radiohead usa a máquina da linguagem pura, sem significado, contra a indústria cultural. Lança palavras desconexas ao vento, explora doenças de coelhos, frases sem sentido, demonstrando uma alternativa à crítica tradicional que é quase inofensiva em relação ao astronômico poder midiático [uma das armas do Governo Bush]. É como se, em resposta a "Você não tem medo de ser vítima de Anthrax?", eles respondessem: "Comi meio melão hoje pela manhã, peixes são bonitos e passaram dois carros pela minha garagem".
O terrorismo da linguagem é a estratégia que joga a linguagem contra si mesma, comunicando a sua própria incomunicação. Dessa forma, a linguagem torna-se gestual [sem significado] e atinge o nervo do funcionamento do mecanismo do espetáculo, causando espécie de pane no sistema. "Hail to the thief" é um vírus desde a sua bela capa, que cola mensagens sem qualquer finalidade que não seja parodiar esse máquina de fabricação de informações. Emenda "Myxomatosis" com "2 + 2 = 5". Parodia o espetáculo do medo e da canalhice a partir da lógica do absurdo, levando o modelo "supermercado" até a própria comunicação da música. "2 + 2 = 5" é uma referência bastante nítida a Bush e sua eleição fraudulenta, espelhada em uma máxima orwelliana e repleta de ironias. Impossível também não notar a referência à guerra do Iraque em "There there" ("just cause you feel that, doesn't mean its there...").
E mais terrorismo:

- "I will eat you alive" ("Where I end and you begin");
- "We suck young blood" ("We suck young blood");
- "They you suck down / to the other side" ("The Gloaming");
- "I got myxomatosis" ("Myxomatosis");

E "I Will" inteirinha:

I Will

I will
lay me down
in a bunker
underground
I won't let this happen to my children
meet the real world
coming out of your shell
With white elephants
sitting ducks
I will
rise up
Little babies' eyes, eyes, eyes, eyes
Little babies' eyes, eyes, eyes, eyes
Little babies' eyes, eyes, eyes, eyes
Little babies' eyes, eyes, eyes, eyes, eyes, eyes

Musicalmente, "Hail to the thief" mostra o retorno das guitarras e dos riffs em alta intensidade, ainda que permeados de eletrônica confusa, ruídos, palmas, percussões e o escambau. A viradas de ritmo mostram maestria da banda e perfeito domínio dos recursos que manuseia. Entretanto, confesso que acho que o acabamento das canções, considerando o nível do Radiohead, poderia ter sido melhor trabalhado [a própria banda admite isso, dizendo que a crueza foi intencional]. Aparentemente, aqui a perfeição simétrica de "Ok Computer" e "Kid A" foi deixada de lado em nome da dispersão e do incômodo ao ouvinte, que demora algumas vezes até se acostumar com o exotismo do álbum [a prova desse pequeno "desleixo" pode ser obtida no confuso EP "Com Lag" -- comparem HTTT e CL com "Ok Computer" e "Airbag EP"]. A audição é toda quebradiça e esvoaçante -- freqüentemente a melodia se quebra em pedaços.
"There there" e "2 + 2 = 5" retomam o clima "The Bends" e por isso fazem alguns fãs gozarem; "The Gloaming", "I Will" e "Where I end and you begin" são apetitosos resumos de todas as fases da banda; "We suck young blood" é provavelmente a única música com palminhas triste pra cacete; "Myxomatosis" é monstruosa e pesada; enfim, o álbum todo é uma bela combinação do estilo "Amnesiac" de arranjo quebrado com a entrada de guitarras mais rasgadas. Aparentemente, o terrorismo ficou acima até da qualidade das composições.
A breve queda no padrão musical altíssimo será recompensada no próximo álbum.






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