DE VOLTA AO PLANETA TERRA
"THE BENDS" -- adolescência rebelde, melancolia do mundo falso do espetáculo.
"Ok Computer" -- imersão profunda no mundo contemporâneo, frieza e opacidade do cotidiano das grandes cidades.
"Kid A" -- mudança para outro planeta, terra natal das máquinas com seus hinos e nomes paranóicos e esquizofrênicos.
"Hail to the thief" -- alienígenas encaminham mensagens terroristas para desestabilizar o controle terrestre.
"In Rainbows" -- seja bem-vindos de volta à Terra.
Depois de toda parafernália instrumental que levou a banda a migrar de um estilo para outro, e dali ir e voltar ir e voltar, o Radiohead resolve finalmente estacionar novamente em praias conhecidas: o rock. "In Rainbows" é isso: um disco de rock extremamente sofisticado e bem produzido, mas apenas um disco de rock. Nada da maquinaria inumana de Kid A/Amnesiac, nada da confusão quebradiça de HTTT; simplesmente o Radiohead tocando para o público novamente. E como é bom.
Não que a banda tenha retornado a fazer músicas como fazia 12, 13 anos antes. É claro que não. Você pode viajar para um lugar distante, voltar para sua casa e ficar melancólico, pesaroso da mediocridade de onde você vive. Mas você também pode viajar, conhecer vários lugares distantes, e, depois de acumulada toda essa experiência, voltar a conversar com seus antigos amigos sobre tudo que vivenciou. É o caso de "In Rainbows". Não haveria como voltar ao que era antes de "Kid A", como os mais conservadores e nostálgicos desejariam, mas voltar a tocar como em "The Bends" depois de ter passado por "Kid A". Trazendo, na bagagem, a experiência de ter saído de si mesmo e visto tudo com outros olhos.
Foi essa a sensação que me passou "In Rainbows". Tudo está exatamente no lugar certo, com a perfeita simbiose entre os recursos utilizados, das baterias eletrônicas às guitarras e seus riffs, dos samples e sintetizadores ao vocal mais cru e o contrabaixo marcante de, p. ex., "Weird Fishes/Arpeggi". Tudo ali está no seu devido e perfeito lugar. É como se o acabamento que [a meu ver] faltava em "Hail to the thief" estivesse aqui perfeitinho, fazendo as canções redondinhas.
É simplesmente a melhor banda do mundo tocando para nós. Quer mais? Gente como Paul McCartney e Roger Waters já derramou seus elogios ao Radiohead. Da nova geração, poucos puderam ignorar o furacão que passou pelas suas cabeças. A mídia fica praticamente de joelhos para a banda. A decisão de furar a gravadora botando das canções na internet pode ter marcado nova era, apesar dos protestos de alguns outros artistas que não aceitam o tempo passar.
"In Rainbows", musicalmente, é um álbum tremendo. Nenhuma música ruim. Das mais anfíbias entre o eletrônico e o rock como "15 steps" e "All I need", passando pelos rocks diretos "Bodysnatchers" e "Jigsaw falling into place", os climões "Nude" e "Weird Fishes" até chegar nas belíssimas baladas "Reckoner" e "House of Cards" -- tudo é perfeitamente encaixado. Quem ouviu com cuidado os discos do Coldplay e do Portishead ano passado pode perceber que "in Rainbows" já está produzindo influência. Inevitável. Nenhuma banda atual foi alvo de tanta admiração quanto o Radiohead.
E é isso. Já falei bastante desse disco por aqui e despejei meu xiitismo para vocês. Agora com licença, tenho que ir aos shows.
Abraços!
:D
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