Mox in the Sky with Diamonds

terça-feira, março 11, 2008



PORTISHEAD, "THIRD" (2008)

A espera foi longa. A banda vinha de discos sensacionais, históricos. Cheguei quase a pensar que não lançariam mais nada.
O disco começa com uma pregação evangélica brasileira. SIM! Isso mesmo. Estranho, mas... fazer o quê? "Silence" tem a cara do Radiohead. Um sintetizador percorre "horizontalmente" a música, acompanhado de instrumentos diversos em um ritmo "Kid A", muito mais rápido que costumava ser a música do Portishead. As batucadas só confirmam a influência. O final é brusco.
"Hunter" começa grave, mas o barulho dá lugar a um violão que acompanha suavemente a voz de Beth Gibbons, em uma deliciosa e angelical melodia. O uso da guitarra é totalmente inusitado, parece servir apenas como pretexto, detalhe, para cortar a harmonia. Mas ele é seguido por um sintetizador doentio. E, de explosão brusca à doçura habitual, a música se alterna em ritmo e harmonia. Os tons da voz de Gibbons ajudam.
"Nylon Smile" novamente me lembra Radiohead em seus momentos mais viajantes e densos, como Amnesiac. A voz de Gibbons é com certeza mais doce, longa e triste que a atordoada e doentia de York, mas as semelhanças são grandes. "The Rip" começa com violão e lembra bastante o álbum solo da Beth, com aquele clima sentimental e, ao mesmo tempo, solitário, invernal. A virada em meio à canção, quando entra um sintetizador que "enche" o tema, é brilhante como "Weird Fishes/Arpeggi", conseguindo a transição com perfeita naturalidade.
"Plastic" segue como quinta faixa, e é, sem dúvida alguma, a mais semelhante com os antigos trabalhos do Portishead dos outros álbuns. A batida quebrada, o uso e abuso da mesa de som, os vocais emocionados e emocionantes de Gibbons, tudo remete ao clima típico do Portishead. Leia-se: música perfeita para se ouvir transando.
"We carry on" é veloz e lembra, para os apressados, gente como os Klaxons e o pessoal do "nu rave". Prefiro pensar em coisas como o Primal Scream, especialmente dos últimos álbuns, e suas repetições doentias eletrônicas e até o pessoal do Animal Collective, que o Portishead deve ter ouvido bastante. Boa, tri boa, e totalmente diferente de tudo que eles fizeram até agora. Segue uma transição folk mediana, "Deep water".
"Machine Gun" é de extrema violência, dessas que deixaria gente demente como os Wolf Eyes tonta, situando-se como uma pancada direta no ouvido. Uma bateria eletrônica inclemente martela como, de fato, uma metralhadora. A voz de Gibbons é triste, triste, triste, parece pronta para a morte. No final, um sintetizador gigantesco vai tomando conta da música, como se fosse um avião passando, lembrando um pouco de krautrock, e a canção termina como um profundo exercício de rock progressivo, talvez até Vangelis, em pleno 2008. Pior, rock progressivo bom. Tudo absolutamente ANGUSTIANTE e FUDEROSO.
Depois, mais uma canção na linha de "Portishead", o disco -- "Small". Um violão folk e vocal depressivo, seguido de muita eletronicice -- teclados gigantescos, elementos meios retro-espaciais, etc e tal. Tudo meio barroco para, ao final, voltar para aqueles dedilhados westerns que estão presentes desde sempre no som do Portishead e finalmente desabar em mais maluquices.
"Magic Doors" tem pitadas de Radiohead, novamente, é uma música com formato bem definido para os padrões quebrados do Portishead. "Threads" termina belamente o álbum, no ritmo do segundo álbum, até conservando a batida cadenciada típica da banda, sendo a segunda mais parecida com tudo que se produziu até agora, embora ligeiramente mais pesada, lembrando bastante coisas como Tricky e Massive Attack. Beth canta, para variar, maravilhosamente, e confirma seu status [na minha opinião] de melhor cantora rock [?] dos últimos 10, 15 anos, especialmente pelo brilhante e grandiloqüente desfecho do tema.
Resultado: o álbum fica entre o álbum solo da Beth Gibbons, pitadas de "Kid A" e uma continuação de "Portishead" definitivamente sem o "hop" -- ficou apenas o "trip". Nota? Ainda não. Mas posso dizer que o álbum é redondinho, redondinho, apesar de profundamente experimental, e concorre a melhor do ano.

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