ESTADO DOS COWBOYS
OK, agora o Brasil também tem seu Rambo: o Capitão Nascimento. Ele está lá para metralhar os inimigos. Mas não vou falar disso, nem vi o filme [e vou ver quando quiser]. O fato é que é uma injustiça com os gaúchos acharmos que pela primeira vez o Brasil consegue copiar um "machão americano". Os gaúchos são cowboys há muito mais tempo.
Essa reportagem da ZH, que curiosamente não consegue esconder a alta taxa de homicídios no Estado, chama-nos de "gauleses". O gaúcho se orgulha de ter votado contra o desarmamento, de ter sido o Estado que rejeitou com maior veemência "entregar suas armas". Uma macheza só.
Falando nisso, lembrei-me até do Brokeback Mountain. Um filme mediano pra bom, e só, mas que funciona bem para quebrarmos os estereótipos e rir deles um pouco. O cowboy gay serve como espécie de ironia a essa figura cômica que é o machão gaúcho, que empunha sua arma com orgulho e quer "caçar a bandidagem". Tudo isso é muito engraçado, se não fosse trágico. Não poderíamos nutrir uma auto-imagem uma pouco mais descontraída, rir das nossas próprias tradições quando elas soam exageradas e forçadas? Precisamos dançar fandango até o século XXX? Não podemos aproveitar o exemplo norte-americano e desconstruir um pouco nossos rígidos personagens? Não podemos enxergar nesse machismo exacerbado um homossexualismo enrustido? Quem é heterossexual convicto não preciso ter medo de rir. Não precisa ter medo dos travestis desfilando no Parque Farroupilha. Isso tudo é muito engraçado, e só.
Os gaúchos continuam enredados nas suas tradições inventadas, acreditando, mesmo, que aqui é o melhor lugar do mundo. Eu realmente fico estupefato quando converso com um amigo qualquer, que acho inteligente, e ele realmente adere a toda essa coisa engraçada como uma espécie de religião. Precisamos de mitos mais leves, rir dos nossos próprios mitos, satirizá-los, desconstruí-los, para que sejamos menos violentos e assassinos.
O amor pela arma do gaúcho só merece um comentário, também de autoria norte-americana, dirigido aos cowboys de lá: big gun, little penis.
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THE BREEDERS
Já falei um monte de vezes dessa banda por aqui, mas esses dias quis gravar um coletânea de rock norte-americano para uma amiga e acabei colocando "Cannonball" [que nem é a minha favorita, mas o CD tem que ter certos momentos de acessibilidade]. É bom isso, né? Acho que "Last Splash" é, certamente, um dos discos dos anos 90. É tão bom quanto Pixies.
Imperdíveis: Invisible Man, Cannonball, Do you love me now?, No Aloha, Roi, Divine Hammer, Hag.
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JAMES WATSON
Um monte de gente já escreveu sobre o Prêmio Nobel de Biologia que declarou serem os negros inferiores intelectualmente aos brancos. Me impressionou a convergência em um aspecto: a questão é fundamentalmente moral, não cognitiva. Belo passo, do ponto de vista de um levinasiano como eu.
Da minha parte, só vou escrever o óbvio: isso só mostra como a razão técnica não se confunde com a razão ética. Mas na escola só aprendemos a primeira. Estranho, não?
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AGUARDANDO
É isso, meus caros, agora só aguardo a data da banca. Enquanto isso, relendo o velho Foucault.
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Trilha sonora do post: The Breeders, "Hag".