Mox in the Sky with Diamonds

quarta-feira, agosto 01, 2007


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BALANÇO DAS CRÍTICAS AO GOVERNO FEDERAL


Se, no post passado, falei do burro político, é hora de colocar em prática e dar nome aos bois.

Para isso, temos que constatar os dois fatos que estão na agenda da imprensa: o problema do acidente da TAM e o movimento "Cansei", organizado pela OAB/SP e por empresários paulistas.
De um lado, temos a posição de que o Governo é culpado pelo caos da aviação e Marco Aurélio Garcia foi desrespeitoso no seu "top top". De outro, temos por exemplo a filósofa Marilena Chauí e o jornalista Paulo Henrique Amorim, que sustentam estarmos diante de uma crise orquestrada pela mídia para atingir o Governo.
Ora, se não estamos na perspectiva do "burro político", parece nítido que ambos os lados têm parcela de razão. O Governo não foi eficiente na resolução dos problemas aéreos -- isso parece bastante óbvio. Mas também é possível ver que a mídia se precipa ao culpar de antemão pelo acidente. Ao que tudo indica, e desde o início tinha essa impressão, é muito mais provável que tenha ocorrido falha do piloto, algo que é humanamente possível e plausível. Também a mídia, como disse Chauí, foi de uma cautela intrigante com a TAM e de uma precipitação incrível contra o Governo. O que não significa, de outro lado, que a mídia esteja errada em cobrar o Governo Federal e, só por isso, seja golpista.
A mídia perde a credibilidade ao atacar sempre e por tudo o Governo. Os governantes não são onipotentes, nem perfeitos. Do outro lado, os esquerdistas imputam a tudo uma "teoria da conspiração" que visaria a derrubar Lula. Se os dois lados fossem menos radicais, poderíamos ter um entendimento congruente: o Governo precisa e deve ser cobrado, e isso é função da mídia; mas existe uma certa "implicância" - é fato - com os governos petistas, basta observar qualquer estudo quantitativo e qualitativo sobre as notícias. Assim como é absurdo dizer que "o Governo cometeu assassinato de 200 pessoas no acidente" é também ridículo reduzir toda a questão complexa da aviação a uma conspiração contra o PT.
O mesmo ocorre com o "Cansei". De um lado, estão os críticos que dizem ser mero golpismo o movimento, como Mino Carta ou o próprio PT. De outro, os conservadores -- como Onyx Lorenzoni -- que dizem que o Governo se incomoda por ser "chavista".
Ora, nem lá nem cá. Reivindicações fazem parte da democracia. O que os esquerdistas não souberam expressar -- e vários jornalistas e intelectuais de esquerda que não seguem a "cartilha" conseguiram -- é o repúdio político a essa manifestação, que espelha bem o estado da classe média no Brasil.
Imóvel, ela diz: "cansei". Quer de volta os valores do "civismo" e do "olho por olho", como declarou um dos líderes. Esse é visivelmente um ideário conservador, bastante semelhante ao TFP, que compatua com a tendência neoconservadora que se instaurou na sociedade desde o final dos anos 70. A crítica, portanto, não deve se dar em outro território senão no político em sentido estrito: não aderimos a esses valores e não aceitamos essa postura da classe média. Não concordamos com o ideal do "cidadão de bem que paga seus impostos", nem com todas as posturas que daí decorrem: repressivismo penal, retorno de valores patriarcais, etc. Não queremos voltar para o estágio pré-68.
Uma esquerda madura poderia rebater isso. Uma esquerda madura poderia ser rortyana -- poderia dizer que estamos a favor das lutas sociais, que queremos transformações, mas também estamos preocupados em reduzir a crueldade nas nossas relações interpessoais. Essas bandeiras "neocons" não expressam nada disso, e por isso são nossas adversárias políticas. O "cansei" é o jargão MAIS ADEQUADO É IMPOSSÍVEL para expressar o estágio patético da elite brasileira, que não faz absolutamente nada e aguarda tudo do Governo, reclamando. "Cansei" é o retrato do imobilismo, na não-ação, da reclamação do leitor indignado no jornal que reclama de tudo e todos e não faz absolutamente nada para mudar nada, sem saber que discurso também é ação, e esse discurso apenas contribui para aumentar ainda mais o fosso social.
Estou ao lado do Governo, por isso, apenas em parte. Lula vem sofrendo críticas injustas, muitas delas que "esticam" um problema até alcançá-lo, porque atingiu um grande nível de popularidade com muitas políticas corretas -- e isso incomoda muitos setores ligados à direita. Mas também me nego a ver qualquer conspiração e golpismo. A oposição é parte da democracia. Nem lá, nem cá.