Assim como não é todo século que nasce um Nietzsche ou Heidegger, parece que, na primeira década do século XXI, ainda não nasceu um Lennon ou Yorke. A música não está muito diferente de outras várias áreas da cultura: estamos diante de um pós-modernismo bricoleur, pronto a fazer colagens das mais diversas texturas sonoras que se acumularam ao longo de 50 anos de rock.
Que isso pareça falta de originalidade a alguns, ou algo pueril e fugaz, para outros, é algo compreensível. Afinal, vivemos mesmo o tempo do "líquido". Prefiro, no entanto, tentar abocanhar aquilo que me parece bom nesse emaranhado de bricolagens que percorre o cenário roqueiro atual.
Todos já estamos familiarizados com o revival punk [Monkeys, Libertines, Rakes, Cribs, Yeah Yeah Yeahs, etc.] e pós-punk [Interpol, Editors, Stills, Departure] -- esses saltam aos olhos. O que começa a surgir nos últimos anos é um novo revival, dessa vez baseado na combinação do rock britânico do final dos anos 80 e início dos 90, apelidado shoegaze. O que unia as bandas do gênero era a utilização de uma imensa parede de guitarras nas canções, criando uma sensação etérea e noisy, simultaneamente. Essa psicodelia - que nasce com "Psychocandy" (1985), do Jesus and Mary Chain [que, entretanto, não é considerado shoegaze] -- é o laço que reunía bandas distintas como My Bloody Valentine, Slowdive, Ride, Chapterhouse e Lush, e foi apropriada, por exemplo, pelo Verve [especialmente nos dois primeiros álbuns].
Hoje é possível perceber o que a mídia apelidou de "nugaze": um revival que combina a utilização das paredes de guitarras com outras texturas sonoras. Silversun Pickups, Asobi Seksu, Mew e Fields são exemplos de bandas que procedem essa bricolagem.
O The Twilight Sad talvez seja a banda mais esquisita desse movimento. Essa nova banda escocesa é um monstro sonoro que combina uma atmosfera folk/country de trovador com explosões inesperadas de camadas superpostas de guitarras. Baseadas numa poética um tanto quanto própria de Morrissey e recheadas de boas letras, as canções se alternam em movimento de calmaria absoluta na voz grave de James Graham e grandes reverbações psicodélicas de guitarras furiosas e invasivas, que entram sem pedir licença.
Nesse pêndulo estranho, que sai da crueza da violão e do folk para a eletricidade extrema do shoegaze, o Twilight Sad vai construindo com competência seus temas fortes, com versos marcantes que vão se repetindo numa interpretação enfática do vocalista. Assim, ao contrário das outras bandas que marcadamente optaram por alternar texturas elétricas [p.ex., o rock americano visceral do Sonic Youth ou dos Pumpkins, no caso do Silversun Pickups] ou psicodélicas [p.ex., o dream pop no caso do Fields], aqui a bricolagem é feita da forma mais improvável e estranha, mas funciona.
Destaco o tema "That summer at home I became the invisible boy", bem ao estilo trovador com gaita e tudo, mas que é invadido de forma estrondosa por um plano de guitarra furioso que destrói qualquer calmaria antes assolada. É como a melancolia que, cantada sutilmente em versos, vai sendo substituída pela raiva cujas palavras não dão conta. Mas a guitarra dá.
COMO SE TORNAR UM BURRO POLÍTICO
Não há dúvida que há o idiota político. Ele é a pessoa que não conhece nada de política, é ignorante, e por isso é governada pelos outros. É o maria-vai-com-as-outras que não tem opinião própria, compõe a massa. É contra ele que Brecht lançou aqueles preciosos versos que aniquilam qualquer um que permaneça indiferente à política. No caso da política, mesmo a indiferença já é política. Assim como na ética, é algo que não dá pra fugir. Estamos lançados dentro do mundo e, por isso, temos que conviver com o poder. Podemos ignorar a arte, passar a vida sem ver um quadro ou ouvir música; podemos ignorar a ciência, acreditando em crenças religiosas, e daí por diante. Mas da política não dá para fugir. Estamos jogados nela.
Mas eu não quero falar do idiota político, e sim do burro político.
O burro político é aquele que, como burro que é, não pensa mais. Ele aderiu a algo e não solta mais. Ele é semelhante ao fanático religioso, a diferença é que o fanático religioso o é por causa de uma questão que é eminentemente de crença, e nada mais, enquanto que o burro político não é capaz de perceber que as questões de política não podem ser analisadas em bloco, mas caso-a-caso. O burro político fica ainda mais burro quando se identifica com X. Tudo que X diz, faz ou não faz está correto. É preciso defender X em qualquer caso. O burro político não pensa mais: ele apenas defende X. É X quem pensa por ele.
Notem que, com X, quero dizer tanto um partido [ou Estado], quanto um anti-partido [ou anti-Estado]. Tanto faz. Os anti-comunistas eram tão fanáticos quanto os comunistas. O nazismo -- a suprema manifestação da burrice política -- foi se construindo sobre os ombros do anti-comunismo. Os burros políticos só conseguiam dizer sim e defender tudo que Hitler fazia porque, afinal de contas, ele era anti-comunista.
Há muitos burros políticos no jornalismo atual. Contra e a favor do governo. Ambos lados são patéticos. Um só consegue criticar e alfinetar. O outro, defender e acusar os "inimigos". A cegueira política é a pior doença. Ela causa burrice. É preciso analisar a política não em bloco, mas a partir de cada iniciativa concreta. Ninguém é infalível, nenhum "X". O que não significa que "ter partido" [ou "anti-partido"] seja algo errado; mas que isso não signifique abdicar de pensar.
Fala, aqui, um ex-burro.
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FUTEBOL
Nunca vi campeonato brasileiro tão fraco como este. É a chance do Tricolor vencer sem precisar de grandes esforços. Tem no seu banco o melhor estrategista do país e basta reforçar-se com mais dois ou três jogadores e estaremos prontos para levantar o caneco. Marcel pode dar certo, é uma boa aposta. Gustavo Nery é bom jogador, mas quer jogar? Em boa forma física e técnica, prefiro ele ao Jadílson, mas no momento atual... Precisamos de mais um zagueiro e um lateral-esquerdo, com urgência absoluta.
Já do outro lado do continente o Madrid se reforça razoavelmente, contratanto zagueiros como Pepe e Metzelder, o que é bom para a linha defensiva, que deve contar com Sergio Ramos na lateral e o excelente Cicinho no banco. Falta lateral-esquerdo. No meio, o time tem jogadores de marcação suficiente [Emerson, Diarra, Guti, Gago], pretende manter Reyes e contratar Arjen Robben para o lado esquerdo. O sonho Kaká ficou distante. Seria o jogador ideal, o que falta é alguém de armação na equipe.
De qualquer forma, já vou adiantando: a menos que Rikjaard cometa o absurdo de colocar 04 atacantes, é provável que o Barcelona pape todos os títulos esse ano. Não há como vencer de um time com Messi, Henry e Ronaldinho no ataque. Eles destróem qualquer sistema defensivo.
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Trilha sonora do post: The National, "Brainy".