Mox in the Sky with Diamonds

domingo, julho 08, 2007

"Eis um disco"



Se eu dizia, há uns posts atrás, que nenhum disco havia ainda me convencido no ano, agora já temos um: o novo álbum do Interpol é primor do início ao fim. Repleto das estruturas melódicas obscuras que a banda aproveitou em "Turn on the Bright Lights", inspirada no Joy Division, revive, com classe, aquele momento iluminado de 2002 cinco anos após. Se "Antics" (2004) era um disco bem menos convincente, apesar de ter boa acolhida [não no meu caso, salvo alguns temas], "Our love to admire" é precioso, preciso, acerta no alvo. Não traz grande diferença em relação àquilo que a banda havia feito, mas consolida o Interpol como uma das melhores bandas da nova safra, especialmente por conseguir fazer álbuns INTEIROS bons, e não um punhado de dois ou três singles.
Basta comparar com os britânicos do Editors -- que lançaram disco chatíssimo e insosso -- ou com os promissores Cinematics, que tem duas das melhores canções do ano -- a maravilhosa "Sunday Sun" e a dançante "Break" -- mas não conseguiram transformar isso em um disco coeso. Sem falar no péssimo álbum do Bloc Party, outro que só consegue acertar de vez em quando.
O álbum do Interpol junta-se a "Turn on the bright lights", "Logic will break your heart", do The Stills [que não conseguiu repetir a dose] e "Fear is on our side", dos texanos I love you but I've chosen darkness e forma o quarteto do que melhor se produziu no revival pós-punk. Esqueçam as besteirinhas de pistas, como o She wants revenge ou The Departure. Esses quatro são a fina flor do negócio.
Interpol, "Our love to admire", é o primeiro disco que me convenceu no ano. E agora, enquanto escuto "Lighthouse", fico pensando em Pink Floyd, no Explosions in the Sky e outras influências que percorrem essa bela banda de Nova York. Finalmente.
Outras coisas
Houve quem falasse de Menomena, Blonde Redhead ou Battles. Confesso que adoro música experimental, ouço com grande prazer e sem esforço, porque a música é como uma arte a destrinchar, não há qualquer graça em obviedade excessivas [caso do Jet, por exemplo]. Mas ainda tenho meus limites. O TV on the Radio, por exemplo, foi o caso típico em que eu senti uma certa ausência de apuro melódico, em prol de um experimentalismo excessivo, quase como se a tendência de ser "artê" esmagasse qualquer vestígio do pop.
Eu gosto do pop. Não do pop "industrial", como aquela mina do Black Eye Peas [Fergie, né?]. Nossa, que coisa mal cantada, clichê, banal e desagradável. É de mal gosto mesmo. Mas uma veiazinha pop vai bem com um toque de surpresa -- o disco dos Manics talvez seja o exemplo maior.
É por isso que meus "tops" nunca são totalmente indies. Por isso eu coloco Oasis, Interpol, Snow Patrol, The Strokes e outros nas minhas listas. Os Battles podem até fazer seu math-rock interessante. Eu posso até gostar. Mas os meus preferidos, aqueles que eu carrego comigo, são os que fazem as músicas cantáveis, tocáveis, aquelas que eu posso tentar vender aos meus amigos. Há exceções, é claro. Porém ainda sou do mais banal.
Título
A brincadeira do título é com a recepção de Napoleão Bonaparte a Goethe, quando aquele afirmou "Eis um homem!".
Double bind
Então, os cariocas são ou não são "criminosos"? Nesse código, ficou muito claro algo que a "sociedade" não percebe. Essa parcela da população -- que se auto-nomeia "a" sociedade -- criou uma espécie de "estereótipo" criminal. É-se criminoso, portanto, como se fosse "criminoso nato". X "é" criminoso.
O que não se percebe é que não existe "o" criminoso: o que o define é apenas a prática de crimes. Portanto, qualquer um pode ser "criminoso". Mas a palavra é carregada de tal forma semântica e pejorativa, que se chega a perguntar: pode alguém igual a mim [classe média, branco, com criação "normal"] ser criminoso?
Há um significativo preconceito encoberto. Preconceito que assusta tanto que é sistematicamente negado, escondido para baixo do tapete. Preconceito que diz: criminoso é o negro pobre, aquele que é abordado dia e noite pela Polícia.
O que significa, nesse contexto, olhar o Outro?
Significa admitir que a representação "criminoso" encobre o ser real da pessoa que recebe essa qualidade. E qual é o problema ético envolvido? Quando começo a pensar as pessoas por "representações" [criminoso, prostituta, judeu, negro], as pessoas deixam de ser pessoas, e passam a ser outra coisa. E, quando estamos diante de outra coisa, somos capazes de tudo. Por isso os judeus foram exterminados como "pulgas", como queria Hitler. Eles simplesmente não eram pessoas. Eles eram "judeus". As representações que tinha deles encobriram o que de fato eles eram.
É esse mecanismo perverso que faz com que perguntamos: "serão esses garotos criminosos?".
Noite
Estava lá. Mal participando, quase que observando. Prazeres proibidos na minha cara. Caos. Nenhum respeito por convenções, uma espécie de gozar sem limites. Duas lindas flores se beijavam na minha cara, e foi maravilha ver. A transgressão cultuada. Enquanto isso, temas roqueiros se davam no fundo, e não há como negar que, se toca música no inferno, só pode ser rock. A guitarra é o som do inferno.
Infelizmente, a noite se divide em freak show vs. pittpatybostas. Não conseguimos ainda descolar um lugar que não seja tão repleto de clichês. Em todo caso, por enquanto vou com os Manics: "this song is for the freaks".
Nessa história, uma mina simplesmente ficou com o namorado da amiga na cara-de-pau, enquanto a outra ia ao banheiro. Cruz credo. Depois foi a vez dos dois, disfarçadamente, irem ao banheiro ao mesm tempo. Acho que estou ficando louco, nessa história de ética da alteridade. Foi simplesmente a coisa mais aberrante que já vi. Ninguém mais respeita nada? É assim: "faço o que quero e pronto"?
Acho que vou ficar louco.
.
.
Trilha sonora do post: Manic Street Preachers, "Winterlovers".