Mox in the Sky with Diamonds

domingo, junho 24, 2007

Autonomia para não fazer nada

Muito se leu sobre a invasão da Reitoria na USP. No entanto, consoante todos aqueles que participaram das discussões, nada se tirou de concreto. A grande bandeira defendida foi a "autonomia universitária".

Como estudante do ensino público universitário (UFRGS) durante minha graduação, deixo por aqui minha opinião.
A suposta "autonomia universitária", hoje em dia, funciona tão-somente como uma espécie de "campo" corporativo, mais ou menos como pensou Bordieu sobre o tema. As supostas razões para a autonomia, hoje em dia, são risíveis: a UFRGS, pelo menos no Direito, é dos centros mais conservadores e subservientes ao poder que existem no Estado. Ensino crítico = 0. Para que serve, então, a autonomia?
Ora, dou basicamente três razões: 1) para os professores se protegerem em um corporativismo ferrenho, sob o pretexto do concurso, negligenciando suas aulas e fingindo que ensinam; 2) para que os alunos-bicho-grilos possam bradar contra o "neoliberalismo", o "capitalismo" e a "globalização", como se tais fenômenos fossem obra de uma mente maquiavélica [localizada nos EUA, é claro]; 3) para manter em vigor o grande jargão que alimenta a UFRGS: professor finge que ensina, aluno finge que aprende. Um protege o outro e, no final das contas, todos vão contra o "Governo" [é mais fácil] e o "FMI" [aliás, o que será que eles discursam agora que o Brasil pagou a dívida e o FMI quase está quebrado?].
Há dias, li que um filósofo britânico estava palestrando e procurou ouvir as reivindicações. Achou-as confusas. Evidente: ele, filósofo pragmático, como todo britânico, buscou algo de concreto. Ali só havia "falação".
A autonomia universitária, hoje em dia, é puro corporativismo. Não sou contrário a ela; apenas chamo atenção para o fato de que, nessa greve, as bibliotecas fecharam. É óbvio: esses alunos não abrem um livro há vários, vários anos. O marxismo de boca é o que tem saído desses discursos pífios.
Desse jeito, com essa oposição, a Universidade Pública vai de mal a pior.
Patética
O comando de Dunga na seleção é, até agora, patético. Colocar Ronaldinho Gaúcho e Kaká no banco de Elano e Daniel Carvalho foi a primeira piada. O treinador, ao invés de motivar seus super-craques, comprou briga. Qualquer pessoa que entenda minimamente de futebol sabe que esses dois são titulares de qualquer seleção do mundo, e o problema na Copa foi motivação e, principalmente, posicionamento.
O episódio da dispensa dos dois, aliás, foi mais uma alfinetada ridícula.
Mas vou por mais dois detalhes: 1) goleiros: Helton e Doni! Só pode ser brincadeira. Com Rogério Ceni no Brasil, convocar esses dois. Até o Gomes é melhor que qualquer um deles; e 2) centroavantes: é hora de assumir logo, Ronaldo e Adriano são os melhores que temos, e pronto. Fred, Vagner Love e Afonso (!) não têm condições de competir.
O que me preocupa é a invencionite. Os técnicos que inventaram demais [p.ex., Leão ou Falcão] caíram feio. E Dunga está inventando. A seleção tem que ter como titulares Rogério Ceni ou Júlio César, Lúcio, Juan, Gilberto Silva [ou Emerson, se quiser ainda], Kaká, Robinho, Ronaldinho e Adriano. Não tem o que inventar. As disputas estão com os laterais [Maicon, Cicinho, Daniel Alves, Gilberto, Kléber] e a segunda função do meio campo [Lucas será esse cara, anotem aí]. O resto é balela.
Senado
Ao conduzir as questões da forma como está sendo feita, o Senado mais uma vez coloca em perigo a democracia. O Parlamento da Reich caiu assim, no descrédito oriundo da inação e da corrupção.
Vergonhoso.
Aliás, por que raios o Senado ainda existe?
A beleza dos Secret Machines
Meu segundo álbum do ano passado continua belo demais. "Ten Silver Drops", a preciosa pérola das Máquinas Secretas, não é um disco fácil, desses que dessem em um estalo, como o The Shins, por exemplo.
Com um miolo difícil, no qual eles pretendem atualizar o Pink Floyd a partir do shoegaze e do pós-rock, em uma psicodelia verviana de mastigação complicada, o álbum soa estranho aos ouvidos de alguns. Mas as canções de abertura de fechamento - "Alone, Jealous and Stoned" e "1.000 seconds" são dream pop de primeira qualidade. De uma beleza emocionante.
Perdemos mais um
Depois da morte de Jacques Derrida, perdemos mais um filósofo de primeira linha: Richard Rorty. Dessa forma, o último grande filósofo vivo se torna Jürgen Habermas, embora haja estrelas ascendentes como Giorgio Agamben e mesmo Zygmunt Bauman, na área da sociologia.
Rorty foi o intelectual que me convenceu a abandonar posturas comuns como o anti-americanismo e a ver a democracia liberal com outros olhos, elaborando novas formas de conversação política.
Além de ter desbancado a epistemologia tradicional a partir da filosofia analítica, coisa que precisávamos, Rorty fez, como ninguém, uma ponte entre a tradição anglo-americana [Davidson, Quine, James, Dewey] com a filosofia "continental" [Heidegger, Nietzsche, Derrida, o próprio Habermas].
Embora, hoje em dia, não concorde com certos pontos da sua filosofia [especialmente a subestimação da dimensão ética em prol de uma política "patriótica" aberta], Rorty será uma constante referência em tudo que penso e escrevo.
Novo do Interpol
O aguardado novo álbum do Interpol, "Our love to admire", já vazou e causa rebuliço no mundinho indie. Nem eu sabia que os caras tinham tanta repercussãp.
O que posso adiantar, sem ter me aprofundado na avaliação, é que "Pioneer to the falls", tema que abre o álbum, é brilhante. Traz novamente as guitarras atmosféricas do melhor Interpol [Turn on the Bright Lights, 2002] e joga o ouvinte em uma viagem na escuridão.

Trilha sonora do post: Interpol, "No I in threesome".