Mox in the Sky with Diamonds

quinta-feira, maio 17, 2007

TUDO ERRADO

Quando um governante se elege, os jornais se dedicam, durante pelo menos um mês, em ficar esperando quem vai e quem não vai se aliar a ele.
Paradoxalmente, castigam o Governante quando ele não consegue montar uma base ampla, chamando-o de fracasso político, e igualmente o criticam quando monta, chamando-o de vendedor de cargos.
Há partidos que vergonhosamente vivem como sanguessugas de cargos públicos. Aliás, qual não é?
A força de um Governo é avaliada pelo número de aliados no Poder Legislativo. O Governo vai bem politicamente se consegue aprovar todos os projetos. Se não consegue, cargos. Quando um projeto polêmico está em pauta, discute-se apenas se o Governo terá votos suficientes para aprová-lo.
A imprensa fala sobre a relação do Governante com ela própria como se a crítica partisse de lugar algum, ou seja, o jornalista diz, vagamente, que "o ___ [coloque o que quiser aqui] se relaciona mal com a imprensa", como se ele próprio não fosse imprensa. Quando __ discorda, ele "critica a imprensa" -- e dê-lhe chineladas dos colunistas.
Linhas, linhas e linhas para falar sobre 1 ponto percentual a mais ou a menos de PIB. 1.001 colunas para falar sobre 0,5% da taxa Selic.
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ESTÁ TUDO ERRADO.
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Primeiro, os políticos e a imprensa impuseram essa agenda política de que o Executivo deve formar uma base ampla. Isso não é necessário. No Brasil, o sistema é presidencialista. O Congresso é o Congresso e o Governo é o Governo. Isso é uma armadilha montada por um sistema podre que obriga os governos a cederem cargos aos partidos que vivem pendurados em cargos públicos. Uma das tantas raízes da corrupção generalizada.
Segundo, a imprensa tem que parar de falar de si mesma na terceira pessoa. Ela tem seus interesses, de imprensa. O governante TEM TODO direito de criticar o que quiser, sem que isso fira, nem de longe, a liberdade de imprensa. Ao contrário: faz parte do debate democrático e representa o exercício de outra liberdade, também fundamental: a de expressão. O governante pode e deve criticar o que considera absurdo, e não dá para continuar essa confusão entre crítica de idéias e censura.
Terceiro, é hora de a imprensa começar a discutir OS ASSUNTOS da lei proposta, e não apenas se o governo tem quórum para aprová-la. Como pudemos ter aprovado uma lei de biossegurança, tratando dos temas mais polêmicos do mundo atual, sem sequer o mínimo de discussão? Tudo que se discutiu é se o Governo teria votos para aprová-la, se o PMDB iria votar contra ou a favor, etc. É esse VAZIO absoluto de jornalismo político que faz com que o Congresso tenha se tornado o quintal do Executivo, mero ratificador, sem que se possa imaginar, por exemplo, que um projeto de lei discutido amplamente e produto da democracia possa ser aprovado sem que o Governo tenha que nomear o Zé do PX para o cargo de aspone da Curadoria de serviços da porra nenhuma.
Quarto, não é proibido falar, mas chega desse blá-blá-blá por causa de meio ponto de PIB - esse mantra infindável do "crescimento". O que interessa realmente são taxas de desemprego, nível de pobreza, etc. São esses índices -- vinculados diretamente com as PESSOAS -- que interessam, e não só o "risco-Brasil". Crescer dois pontos percentuais devastando o meio ambiente? Virou dogma.
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Governo(s), imprensa e oposição(ões) parecem enredados nessa confusão terrível. Todos escravos de uma agenda invisível e errada, que retroalimenta um círculo de corrupção infindável. Ou será que é o que estou pensando -- que os políticos não sabem o que discutir e a imprensa não entende de nada mesmo?
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Trilha sonora do post: Regina Spektor, "Apres Moi".