Mox in the Sky with Diamonds

segunda-feira, maio 07, 2007

BRASIL NA CONTRAMÃO

Quando parece que finalmente as grandes potências mundiais -- à exceção da China, é claro -- parecem se conscientizar que, a continuar dessa forma, iremos destruir o mundo em menos de 100 anos, eis que parece que o Brasil paga o preço por ter atrasado sua democracia em pelo menos 20 anos.

O assunto crescimento econômico, que é o mantra repetido à exaustão como ÚNICO termômetro de medição da competência dos Governos, especialmente pela imprensa, empresariado e sindicatos, ofusca completamente o assunto ambiental no Brasil.
Não é por coincidência que acontece A MESMA COISA no Governo Federal e no Estadual, embora com partidos e tendências opostas: há um "foco de resistência" dentro dos próprios Governos, vinculado à área do meio ambiente, que vem sendo sufocado por tecnocratas com forte acento desenvolvimentista e que simplesmente não querem saber de ambiente.
Fico preocupado porque, em nível federal, correm boatos de exploração de petróleo no Acre [o link é esse, mas o colunista não é muito confiável; está permanentemente contrário ao Governo, o que tira um pouco sua credibilidade, mas não de todo], o que poderia causar danos ao ecossistema; Lula admitiu, ainda, utilizar e desenvolver energia nuclear; além das costumeiras e já públicas brigas entre as Ministras Dilma e Marina. Aquela, de viés marxista tradicional, parece carregar a bandeira do industrialismo alucinado.
O mais preocupante é que no RS, com o partido de oposição no poder, com uma Governadora completamente anti-lula, ocorre exatamente o mesmo. Recentemente, surgiu um termo de ajustamento de conduta assinado pela Secretário do Meio Ambiente com o Ministério Público e, surpresa, eis que cai a Secretária. Os mesmos tecnocratas, na matriz ideológica inversa, cujo nascedouro é o mesmo.
O pior foi a forma de abordagem: falou-se apenas dos 4 bilhões que o Estado perderia de investimentos. Não tenho condições de opinar se era ou não viável ambientalmente; certamente, há problemas, do contrário não estariam os dois órgãos do Estado mais envolvidos com meio ambiente [Executivo e MP] a cuidar do problema. A cobertura, contudo, foi monolítica: só se enfatizava o obstáculo ao "crescimento" do Estado.
Quando França e Alemanha elegem Governos de direita e, mesmo assim, aceitam o tema do aquecimento global; quando os EUA, mesmo sendo devastadores do ambiente, começam, de baixo para cima, a reagir; enfim, quando o tema finalmente entra na agenda global, estamos atrasados a ponto de ignorá-lo! Queremos estar ao lado da China com seu crescimento compulsivo e devastador?
É verdade que a Europa já alcançou um grau de desenvolvimento social capaz de entrar nesse tipo de discussão. Mas é também verdade que as lições de quem chegou lá podem nos impedir de cometer os mesmos erros. Justiça social? Sim. Mas sem devastação do meio ambiente. De que adianta alcançar boas condições de vida agora se, daqui a três gerações, o planeta irá sumir?
É necessário voltar a perceber a Terra enquanto oikos, nossa casa - Gaia. A natureza, tal como a concebeu Francis Bacon, era um território a ser explorado e dominado pelo homem, que seria o seu senhor. Vontade de domínio levada ao extremo pela ciência e pela técnica, até chegarmos ao estado de desequilíbrio em que estamos. É nessa matriz epistemológica que foram construídas nossas ideologias políticas -- frutos do Iluminismo, tanto o marxismo quanto o liberalismo vêm da mesma raiz -- na qual a natureza era uma escrava a nosso dispor. Hoje, testemunhamos o fracasso. É por isso que os Governos Lula e Yeda, embora com atores e matrizes totalmente distintas, se encontram nesse ponto: é lá, no nascedouro das concepções modernas, com Descartes e Bacon, que se inaugurou essa idéia de trazer "felicidade" ao homem mediante domínio da natureza.
O que mais me preocupa é a ausência total de vozes a denunciar isso: nem mesmo a imprensa, que pode ser independente, tem vozes que saiam do tom monolítico do crescimento. Como se o Brasil não tivesse a imensa responsabilidade de carregar o pulmão do mundo [Amazônia], responsabilidade que ele não pode renunciar, além de uma biodiversidade incrível que todos nós sabemos que o nosso país dispõe.
Desse jeito, aquele discurso irônico e bem articulado de Cristovam Buarque -- que todos gostamos, à época -- acerca da internacionalização da Amazônia, vai ficar cômico, senão trágico.
Ou reagimos, ou seremos soterrados por um crescimento com data para acabar.
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Trilha sonora do post: Fields, "The Death".