O PARADOXO DO MARXISMO
O maior filósofo do século XX, Emmanuel Lévinas, afirmou certa vez que "o humano só se mostra onde não há poder". Indaguemos sobre como costumamos ver o mundo. Lévinas propõe que a primeira das relações -- antes mesmo do pensamento e da compreensão -- é a relação com o Outro, rosto-a-rosto. É a partir dessa relação com o Outro que constituo todas as formas de pensamento.
É a racionalidade da relação ética, portanto, que deve preponderar. A ética é a primeira das coisas, vem antes mesmo do pensamento, da reflexão, da verdade. Olhar para o Outro já é falar-lhe, invocar-lhe. Mesmo que eu não diga uma palavra, já estou me comunicando.
Quando Lévinas fala do humano, ele está a referir essa relação de retidão ética. Uma inflexão de respeito ao Outro, na sua infinitude. Infinitude? Sim, o Outro é sempre infinito em relação à minha percepção. Pense em você mesmo. Existirá alguém capaz de contemplar a infinitude dos seus pensamentos, sentimentos, lembranças? O Outro, por isso, sempre será infinito.
Estranha digressão, essa que começa esse post. Porque eu tinha em mente apenas falar do poder: o "humano", ou seja, essa relação rosto-a-rosto, reta, ética, desaparece quando surge o poder e, por isso, a submissão.
Bom Dia, Noite (2003) é um longa italiano dirigido por Marco Bellocchio que traz o paradoxo do marxismo. Belíssimo filme, que relata o seqüestro do deputado Aldo Moro pela Brigada Vermelha, discorre com sensibilidade imperdível sobre o episódio. Paradoxo do marxismo que, libertário nas suas intenções, não atentou para a primazia da ética nas relações humanas.
O poder sempre submete e, a partir dessa submissão, não emancipa. Narrativas totalizantes, doutrinas, somente induzem à cegueira e à desumanidade. A caridade e a justiça se dão pela paz, no vínculo ético que reconhece o Outro e assume a responsabilidade por ele. A desfaçatez do marxismo não é o reconhecimento da pobreza e da injustiça, mas o desejo de impor um novo projeto de poder por meio da violência.
Chiara, a belíssima Maya Sansa, se dá conta disso por meio do mais simples: a morte. Ao impor a pena de morte ao ministro, exsurgiu, da forma mais brutal e evidente, que o simples Rosto do político era suficiente para tornar pó toda uma ideologia, na sua pretensão de esgotar a totalidade dos fatos.
O humano, repita-se, só se manifesta onde não há poder.
Excelente filme, com a graça de "Shine on your crazy diamond", do Pink Floyd.
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Playlist de início de ano!!! [dêem uma chance e assistam os vídeos...]
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The Fratellis, "Chelsea Dagger".
The Good, The Bad & The Queen, "Herculean" [vídeo não-oficial].
Arcade Fire, "Intervention".
LCD Soundsystem,. "North American Scum".
The Shins, "Phantom Limb".