GEORGE WALKER BUSH é, sem sombra de dúvidas, uma das figuras mais desprezíveis do cenário mundial. Provavelmente o pior Presidente da história dos EUA, já começou seu primeiro mandato, há uns sete anos atrás, falando em "guerra" e "inimigo", quando não se ouvia tal retórica desde a época da Guerra Fria. Causou estranheza. Bush representa tudo que há de pior nos EUA: puritanismo, conservadorismo, militarismo, indústria bélica e plutocracia. Governa para os ricos e ainda defende campanhas militares -- certamente o que mais me oponho.
Isso significa que vou vestir nariz de palhaço e ir para a esquina democrática protestar contra Bush?
Até poderia ser, mas não da forma como alguns esquerdistas fazem. O Brasil e os EUA começam negociações importantíssimas para fazer circular o etanol -- biocombustível que pode ajudar a redução dos danos ao clima global --, algo que é do interesse não apenas dos dois países, mas da humanidade em geral. É preciso investir nisso.
Os esquerdistas que gritam contra Bush, no entanto, só sabem repetir chavões como "neoliberalismo" e "globalização", como se fossem "diabo" e "bruxa". É o pessoal que decorou trinta linhas de Chomsky e repete como se fosse um mantra, atirando contra os EUA como se fossem a causa de toda injustiça no mundo. São os marxóides doutrinados por meia dúzia de jesuítas de universidade ou cursinho, que aprenderam Marx por tabela. Jamais refletiram sobre o que estão falando.
Esses mesmos burros são os que apóiam um quase-Ditador na Venezuela, que aos poucos vai minando a democracia liberal por lá e deteriorando as instituições em prol de um personalismo financiado por petrodólares. Não por acaso, se opõe ao Etanol. E aos burricos esquerdetes, ingenuamente, o seguem.
Há espaço, contudo, para uma esquerda inteligente. Aqueles que apostam nas transformações sociais, que defendem temas como a reforma agrária, a justiça social, a igualdade de direitos, o respeito aos direitos humanos, a preservação do meio ambiente, a erradicação do racismo e dos conservadorismos sociais -- todos aqueles que se opõe ao status quo quando colocados numa balança ordem e justiça, esses ainda podem pensar além de Marx, Chomsky ou o "pensador" da moda.
É conhecendo filósofos como Richard Rorty, Jürgen Habermas ou John Rawls que aprendemos a valorizar as instituições e a democracia como ela é. Bush é um escroto, mas foi eleito dentro das regras democráticas [eventuais fraudes são problemas dos americanos; a nós, estrangeiros, basta que eles o reconheçam como legítimo dentro do quadro institucional] e deve ser tratado dessa forma. Lula se revela um estadista inteligente e pragmático com negocia com um antípoda ideológico, porque é assim que se constrói as coisas.
Então, de que lado você está? Da esquerda liberal e democrática, como Lula, em que se aposta nas soluções consensuais, numa ampla negociação e na estabilização político-econômica [manutenção de política econômica rígida e governo de coalizão], buscando um choque social, ou na esquerda que vai protestar contra o "neoliberalismo" e a "globalização" de Hugo Chavez?
Você gostaria que Lula recebesse Bush com vaias e tomates, apesar de achar o último um cretino?
Trilha sonora do post: LCD Soundsystem, "North American Scum".