Mox in the Sky with Diamonds

segunda-feira, janeiro 15, 2007

URSOS GRIZZLY


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O Urso "Grizzly", conhecido como "Urso Pardo" por aqui, foi objeto de duas obras ímpares no ano de 2006, que pretendo fechar nesse post, para podermos virar a página e cair em 2007 de vez.

A primeira obra a ser divulgada é "O Homem-Urso", documentário do diretor alemão Werner Herzog.

Herzog conta a história de Timothy Treadwell, americano que costumava "visitar" os ursos e chegou a passar 13 temporadas de verão ao seu lado. Tragicamente, morreu devorado por um deles.

A grande sacada desse excelente documentário -- vangloriado por grande parte da crítica cinematográfica mundial -- é trazer o conflito entre duas visões da natureza: a ingênua e simples, de Treadwell, em que costuma apontar o homem como predador e valorizar a harmonia e beleza das relações extra-humanas, travadas com os ursos; e a conflitual e caótica, de Herzog, que não se omite em contrapor o personagem e expor sua própria visão da violência, dominação e competição do mundo natural.

Com uma película onde é observada a sutileza, o respeito ao personagem, uma narrativa verossímel e sensível aos traços específicos de cada um implicado, Herzog nos presenteou uma das melhores obras de 2006 (um ano, modo geral, fraquíssimo para o cinema, talvez o pior da década).


GRIZZLY BEAR, "Yellow House" (2006)

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É dos EUA que vem essa banda, composta por Ed Droste, Chris Bear, Chris Taylor, and Dan Rossen, que coloca seu segundo álbum na praça, seguimento de "Horn of Plenty", de produção lo-fi, hoje distante do estilo adotado pela banda.

"Yellow house" é, provavelmente, um dos discos mais ousados dos anos 2000. Tem a ousadia de um "Magic and Medicine" (2003), do The Coral, ao trazer duas ambiências distintas para a mesma sonoridade -- o clima bucólico e a psicodelia extrema.

As semelhanças, contudo, param por aí. Enquanto o The Coral, no seu esplêndido álbum pouco valorizado, colocam num caldeirão e mexem uma mistura de country, folk e psicodelia sessentista, o Grizzly Bear está mais próximo de um folk mais puro com experimentações múltiplas, variações climáticas, algo como o que faz Sufjan Stevens. Os temas são bi ou tripartidos em dissonâncias distintas, com alterações inimagináveis ao longo do seu desenrolar. Algo como faz Sufjan em "Come on! Feel the Illinoise", mas levado ao extremo.

Eu sugiro que "Plans", ao nos colocar face-a-face com a multiplicidade originária do som do disco, seja tomada como exemplo: ali se encontra os belíssimos e afinadíssimos vocais, tomados quase em coro uníssono; uma batida psicodélica, quase psicótica, e, ao final, ainda a introdução, sem qualquer forçada de barra ou acanhamento, de um laptop furioso que cai como uma luva para enlouquecer ainda mais uma melodia de harmonias múltiplas.

O mesmo ocorre, por exemplo, em "On a Neck, on a Spit", agressiva e estranhamente limpa, de dedilhados claros, incrivelmente intacta na sua melodia à toda barulheira que lhe acompanha. A dedilhados divinos seguem-se efeitos alucinantes. Em "Lullabye", a mesma beleza -- celestial e terrível. Teclados enervados muitas vezes acompanham vocais etéreos, como na exótica "Colorado", carregada da ambivalência bucólica/psicodélica [eu diria, nesse caso, quase espacial] que permeia todos os temas, numa repetição alucinada em uma batida quase marcial.

Até mesmo uma "Knife", que parece ao início uma balada com levada anos 50/60, ganha, ao final, momentos de experimentação eletrônica ao estilo "The Eraser". A conferir, ainda, a belíssima "Marla". Um universo misterioso e apaixonante que, quanto mais ouvido, mais prazer causa, mais surpresas revela, nas suas harmonias turbinadas e melodias doces.

Se o meu crédito anda baixo em torno das dicas musicais, acreditem na chatonilda Pitchfork: o disco ficou entre os dez melhores do ano e está na maioria das listas dos colunistas, inclusive em primeiro lugar em mais de uma.

Belle and Sebastian, "The Life Pursuit" (2006)

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O Belle and Sebastian sempre me despertou uma certa antipatia: trata-se de uma das bandas "típicas" adotadas pelo povo indie, como Sonic Youth e Teenage Fanclub, e era visivelmente superestimada diante do som proposto -- um twee pop de boas histórias losers.

"The Life Pursuit", no entanto, foi distinto de tudo aqui que havia ouvido da banda até então. Aquela sonoridade simplória e repetitiva foi sendo substituída por um pop clicletudo, bebido na fonte dos anos 60, com belos trabalhos de backing vocais, harmonias doces e refrões contagiantes. Músicas como "Blues are still blue", "White collar boy" e "Funny Little Frog" mostram a banda aproximada de um pop "ensolarado", com arranjos cuidadosos e sonoridade limpa, mas ousada. De minha parte, "Act of the apostle II", em dois momentos, é a mais preciosa do disco, exatamente por trazer, na primeira parte, o melhor do disco sintetizado: o simples pop de harmonias vocais.

05 FILMES DE 2006 RECOMENDADOS:

Esse ano, devido a um Mestrado turbulento e um grande número de leituras, acabei não acompanhando muito de perta a cena cinematográfica, embora tenha visto a maioria das películas mais comentadas. Entretanto, por coerência, deixei de fazer o topten do ano, para simplesmente fazer cinco recomendações.

Posso dizer que foi um ano, em geral, muito fraco no cinema. Poucas vezes vi tantos meses com tantos filmes ruins ou medianos, tornando bem pouco atrativa a visita aos cinemas. Os cinco filmes recomendados, na minha modesta e puramente idiossincrática opinião, estão abaixo de vários outros que figuraram nas listas dos anos anteriores. Não houve nenhum "Crash" esse ano.


O QUE VOCÊ FARIA?

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Filme espanhol pouco comentado por aqui, que se passa em uma sala de entrevistas para um cargo de executivo. É um drama psicológico potente, jogando desafios ao expectador e expondo paradoxos da conduta humana. Bem melhor que o frustrante "O Corte", de Costa-Gravas, de temática um tanto semelhante.

MATCH POINT


O grande retorno de Woody Allen, depois de uma seqüência de filmes contestáveis. O filme é uma inteligente ironia a "Crime e Castigo", obra absolutamente clássica de Dostoievski, com um certo teor "pós-moderno". Além disso, a beleza de Scarlett Johansson é algo apocalíptico: há alguns ângulos e imagens que parecem simplesmente inacreditáveis.

FILHOS DA ESPERANÇA

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Outro filme não tão comentado, mas excelente. A temática é uma Terra, em 2009, onde as mulheres estão inférteis e o ser humano mais jovem acaba de ser ameaçado. Com uma boa atuação de Clive Owen, o filme não é apenas ótimo por trazer tomadas cruas e secas, com seqüências estarrecedoras, mas por seu conteúdo altamente metafórico e questionador das nossas estruturas sociais perversas.

V DE VINGANÇA



Baseado na HQ de Allan Moore, e dirigido pelos irmãos Wachowski, de Matrix, aborda temática semelhante: o controle. Estamos diante da ascensão de um Estado fascista, baseado no medo e supressor das liberdades fundamentais, a da figura ambivalente de um terrorista de trejeitos elegantes, que parece ser mais refinado do que os próprios governantes medíocres dessa Inglaterra do futuro.
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O HOMEM-URSO

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Um documentário intringante do excêntrico diretor alemão Werner Herzog, onde as relações entre a civilização e a natureza são tratadas com pormenores: vírgulas, ponto-e-vírgulas, reticências, parênteses. Trata-se da história de Timothy, que viveu durante 13 anos os verões com os Ursos Grizzly, e acabou devorado por um deles. Herzog explora a personalidade desse personagem, mas para nos jogar em uma discussão mais ampla sobre as nossas relações e a visão acerca do mundo como um todo.


Acrescentaria, mas como filmes médios que vale a pena assistir, mas, na minha opinião, não podem ser "eternizados": "Os Infiltrados", "Boa Noite Boa Sorte", "Capote", "O Segredo de Brokeback Montain" e "Bonecas Russas".
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Trilha sonora do post: ...And you will know us by the trail of dead, "Monsoon".