Mox in the Sky with Diamonds

sábado, janeiro 27, 2007


The Shins, "Wincing the night away" (2007).

Por falta de modéstia ou honestidade intelectual, poucas resenhas costumam citar umas às outras. Pois eu vou começar a resenha desse disco do The Shins com a descrição precisa da Pitchfork:

"While indie rock has embraced grander and more elaborate productions, the Shins have remained unlikely champions of uncertainty and understatement. Unlike many of their meteorically successful indie peers, the Shins don't want to change your life-- and that's a good thing, because the band's biggest strength is an uncanny gift for conjuring a deep, vivid, and palpable sense of the familiar. Many of the Shins' best songs evoke a feeling of comfort and closeness that's immediately recognizable but rarely experienced-- intimacy is the band's best weapon, amplifying the subtle ebbs and flows of their music so that the slightest injection of unease or melancholy hits with remarkable force."

Eis, com exatidão, a sensação que me passou "Wincing the night away". A partir dos belíssimos arranjos, com grande vivacidade e força pop, ao longo das audições senti uma imensa familiaridade com tudo aquilo que a banda nos brindava. É incrível como bandas como o The Shins, Death Cab for Cutie ou My Morning Jacket mostram como não é necessário reinventar o rock ou proceder combinações inusitadas para fazer um bom trabalho. É recorrendo à simplicidade e ao familiar que elas nos satisfazem.

Ao tentar descrever esse álbum, procurei enquadrá-lo em diversos rótulos, mas a imensa sensação de proximidade me impediu de cair em outro que não seja "indie pop", ou seja, nada [antigamente, inclusive, uma contradição em si mesma]. Talvez "indie" porque não reflete apenas tendências mercadológicas vinculadas a adolescentes chorosos ou um pseudometal combinado com hip hop, e "pop" porque é recheado daquilo que é a quintessência desse conceito: melodia e aderência.


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O álbum roda e já começa com um tema simplesmente primoroso: "Sleeping lessons". Tudo ali já se torna claro: harmonias, melodias, ritmo. Tudo meticulosamente cuidado para que o som seja aveludado, mas ao mesmo tempo instigante. Essa é daquelas músicas que pegam direto, grudam e terminam te deixando com um belo de um sorriso. Discretamente, segue num crescente mágico, ganhando intensidade impressionante ao longo da sua evolução.

"Pam Berry" começa com o riff de Pulp Fiction, mas ao invés de eclodir em um ritmo dançante, se prolonga ao lado de um vocal melancólico, causando certo incômodo sufocante. Isso apenas para realçar a parada que dá margem a mais uma bela melodia, mais uma vez acompanhada por vocalizações plenas de harmonia, "Phantom Limb", o primeiro single do álbum, que, não estranhe, é de uma esquisita familiaridade.

"Sea legs" é a primeira a causar uma sutil alteração de ritmo, guiada por um baixo incansável, mas ainda contendo harmonias doces, a despeito da mudança rítmica. O disco ainda nos presenteia as belas "Red Habbits", de climatização variada, e "Split Needles".

No final, há uma pequena decaída, com temas um tanto dispersos e sem o vigor pop dos iniciais, mas que não chega a comprometer a beleza integral do álbum.
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Trilha sonora do post: The Knife, "The Captain".