Air, "Pocket Symphony" (2007)
O Air [Jean-Benöit Dunckel e Nicolas Godin] é, de longe, a banda mais interessante a fazer música eletrônica nos dias atuais.
O grande problema dos discos que pretendem ser ideais para um lounge é a terrível dispersão e conseqüente irrelevância do som que produzem. A partir de bases soltas, as músicas vão se construindo precariamente, sem qualquer senso melódico, acabando por se tornar mero fundo do ambiente [a maldita praga do "easy listening"].
Desse mal, não sofre o Air.
Convencionou-se dizer que, por baixo da camada eletrônica, existe uma base "orgânica", que na realidade diz respeito à estrutura melódica que subjaz aos elementos eletrônicos variados expostos na superfície. Ou seja, as canções do Air, conquanto regadas apenas por música eletrônica, são compostas da mesma forma tradicional [em "Left Bank" temos até violões]. Não custa lembrar que os franceses formavam uma banda de rock antes de se tornarem um duo eletrônico, como o 2ManyDJs, que mantém o Soulwax.
Depois do imprescindível "Talkie Walkie" (2004), eleito por este blog o melhor disco eletrônico daquele ano, com as pérolas "Surfin' on a rocket" e "Cherry Blossom Girls", estava curiosíssimo para ouvir "Pocket Symphony", lançamento vazado dos caras em 2007.
Viadinhos avant garde
E, em princípio, a banda não decepciona novamente. Se vamos ganhando familiaridade com um álbum quando algum dos temas nos pega de jeito, fazendo a ligação com o entorno [uma tese a ser desenvolvida, qualquer dia desses], "Napalm love" é a poderosa música que me liga a esse disco, com sua melodia suave e densa, simultaneamente. Uma base pesada e repetitiva guiam o vocal doce, sussurrado -- algo próximo ao trip hop.
É talvez nesse registro de ambivalência entre o suave e o denso, em uma sutileza praticamente feminina que navega na densidade encorpada de elementos eletrônicos psicodélicos, que se poderia definir o som do Air. Também a belíssima "Mer du Japon" ganha um final de virada grandiloqüente, capaz de levar o ouvinte a territórios oníricos desconhecidos, próximos de onde apenas outras vias [Mercury Rev, por exemplo] haviam chegado.
Mais uma prova de que não existe apenas uma estrada para a boa música.
Trilha sonora do post: Air, "Mer du Japon".
O Air [Jean-Benöit Dunckel e Nicolas Godin] é, de longe, a banda mais interessante a fazer música eletrônica nos dias atuais.
O grande problema dos discos que pretendem ser ideais para um lounge é a terrível dispersão e conseqüente irrelevância do som que produzem. A partir de bases soltas, as músicas vão se construindo precariamente, sem qualquer senso melódico, acabando por se tornar mero fundo do ambiente [a maldita praga do "easy listening"].
Desse mal, não sofre o Air.
Convencionou-se dizer que, por baixo da camada eletrônica, existe uma base "orgânica", que na realidade diz respeito à estrutura melódica que subjaz aos elementos eletrônicos variados expostos na superfície. Ou seja, as canções do Air, conquanto regadas apenas por música eletrônica, são compostas da mesma forma tradicional [em "Left Bank" temos até violões]. Não custa lembrar que os franceses formavam uma banda de rock antes de se tornarem um duo eletrônico, como o 2ManyDJs, que mantém o Soulwax.
Depois do imprescindível "Talkie Walkie" (2004), eleito por este blog o melhor disco eletrônico daquele ano, com as pérolas "Surfin' on a rocket" e "Cherry Blossom Girls", estava curiosíssimo para ouvir "Pocket Symphony", lançamento vazado dos caras em 2007.
Viadinhos avant garde
E, em princípio, a banda não decepciona novamente. Se vamos ganhando familiaridade com um álbum quando algum dos temas nos pega de jeito, fazendo a ligação com o entorno [uma tese a ser desenvolvida, qualquer dia desses], "Napalm love" é a poderosa música que me liga a esse disco, com sua melodia suave e densa, simultaneamente. Uma base pesada e repetitiva guiam o vocal doce, sussurrado -- algo próximo ao trip hop.
É talvez nesse registro de ambivalência entre o suave e o denso, em uma sutileza praticamente feminina que navega na densidade encorpada de elementos eletrônicos psicodélicos, que se poderia definir o som do Air. Também a belíssima "Mer du Japon" ganha um final de virada grandiloqüente, capaz de levar o ouvinte a territórios oníricos desconhecidos, próximos de onde apenas outras vias [Mercury Rev, por exemplo] haviam chegado.
Mais uma prova de que não existe apenas uma estrada para a boa música.
Trilha sonora do post: Air, "Mer du Japon".