Nos tempos de lançamento de álbum de Jarvis Cocker
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Uma coisa é certa: o Franz Ferdinand é o Pulp que deu certo.
Curiosidade: no site do Pulp, além da eleição para melhor disco e música, há também a eleição para pior música. Apenas um sinal da instável carreira da banda.
Os Infiltrados
Primeiro, uma advertência. Martin Scorcese é sabidamente grande diretor, e a cada filme bom seu a quantidade de elogios é imensa, de forma a fazer parecer o filme melhor do que é, pela repercussão multiplicada. "Os Infiltrados" não será o filme que dará o Oscar a Scorcese, e não é melhor que "Cassino", para citar um filme recente, que se seguiu por longas que apenas batem na linha média para aprovação [Vivendo no Limite, Gangues de Nova York, O Aviador].
Mas "Os Infiltrados", mesmo assim, é excelente. Ao trabalhar com o duplo inflitrado/criminoso, essa ambivalência que se joga na personalidade do agente do Estado e é psicologicamente inaceitável, Scorcese explora a inscrição dupla do bem/mal que está na evidência da conduta do Outro-que-se-torna-Mesmo, e brinca com a ausência de fixidez que esse jogo infinito produz. Matt Damon e Di Caprio estão constantemente assombrados por essa duplicidade de inscrição, que faz com que Damon, paradoxalmente, se torne um "rat" exemplar e criminoso, que quer ser exemplar, mas é engrenagem de uma armadilha que ele próprio ajudou a construir. Di Caprio, por outro lado, vê-se constantamente no duelo entre o ser da Lei, suas origens criminais e violência exuberante. Temos um jogo do policial/bandido que deseja ser policial e do bandido/policial que deseja ser bandido. Desejos e realidades em uma contraposição não binária, mas tripla. Uma inscrição da ambivalência que não se fecha.
A partir dessa estrutura narrativa fascinante, Scorcese tira o máximo dos atores [e eu não sou fã de nenhum dos dois, embora reconheça bons trabalhos de ambos], que demonstram extrema capacidade ao se multiplicarem em identidades divergentes, nesse jogo de vai-e-vem entre inflitrado e criminoso. Sem falar da atuação previsivelmente fantástica do mestre Jack Nicholson, um gênio da composição de um personagem nietzschiano que se constrói com base na sua própria força e vontade de poder, interpretando a vida como um desvairio dionisíaco em que não há limites para a própria ação. Se Nietzsche pode levar a isso, poderíamos discutir. Mas a construção do personagem pressupõe essa idéia de ética do forte, celebrada em boas gargalhadas com os trejeitos de Mr. Nicholson.
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Trilha sonora do post: TV on the Radio, "I was a lover".
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