Terceira Via ou Golpismo?
A Agência Reuters anuncia que Lula planeja criar um novo partido, alinhavando forças políticas do PT, PSDB e PMDB. Seu principal aliado seria Aécio Neves, candidato com 70% de aprovação em MG que dificilmente conseguirá bater José Serra como sucessor à Presidência em 2010.
A interpretação disso pode passar por dois matizes. O primeiro é uma leitura de golpismo getulista por parte de Lula, que, não tendo base congressual, organiza um pseudopartido para ganhar força no Parlamento.
Mas também é possível outra interpretação. Há uma forte dissonância, na realidade, entre o "lulismo" e o "petismo", na atualidade. Enquanto o PT continua com o discurso "socialista democrático", Lula se encaminha muito mais para a via social-democrata, com claro ímpeto reformista. Figuras como Miguel Rosseto, Tarso Genro e Olívio Dutra representam muito mais a "cara" do PT do que quem verdadeiramente manda -- José Dirceu, Palocci, Pimentel e Lula, do "Campo Majoritário".
A cisão é muito mais profunda do que, propriamente, parece. Não há apenas uma briga interna do partido, em que campos distintos -- de Raul Pont a Aloisio Mercadante -- disputariam a hegemonia. Na realidade, é a própria feição do partido que está em jogo. De um lado, temos uma tendência de esquerda mais "radical", com viés marxista; de outro, uma esquerda "liberal", com viés mais reformista. A fatia marxista já deixou em parte o PT, inclusive, para criar o PSOL.
A criação de um partido novo, na realidade, estaria a refletir uma tendência de centro com inclinação para a esquerda, tendência que inclui setores do PSDB, PMDB, PT e até alguns do PDT (Jefferson Peres e Cristovam Buarque são exemplos). Essas forças congregadas formariam um aglomerado ideológico visando à "concertação", um acordo com acento político-econômico moderado e reformas estruturais, especialmente na área social.
Isso é bom? Pode até ser. Realmente, está faltando uma base clara para apoiar o reformismo atual do Governo, que não encontrou sequer na base petista apoio incondicional, exatamente pela cisão que falei. Foi "preciso", por isso, comprar votos do Congresso, sustentando uma base fisiológica sem ideologia alguma, composta por simples aproveitadores, especialmente do PL, PP e PTB. Essa aglutinação de setores do PSDB, PT e PMDB pode até dar bons resultados, sustentando a idéia de defendi, desde que explodiu o escândalo dos mensaleiros, de que a melhor solução para o Brasil, embora seja a mais distante dos fatos, é a coligação PT-PSDB, jogando o "atraso" para o escanteio. Essa idéia pode se concretizar nessa terceira força alternativa, criada a partir do fato político real de que Lula é diferente do PT e Aécio dificilmente teria respaldo no PSDB.
No entanto, é preciso ter cautela. A iniciativa pode, muito bem, ser um mero golpe getulista de Lula, sim, e congregar as forças podres do PMDB, como Jader Barbalho e Ney Suassuna, formando mais um aparelho fisiológico de controle do Congresso.
Lula precisa desfazer a imagem que formou no eleitorado político esclarecido: a de um político que, por meio de José Dirceu, buscou comprar o Congresso Nacional mediante adesão de Deputados fisiologistas [ainda que eu não tenha me convencido de que houve mais do que "caixa 02", o que, por si só, já é grave suficiente], tentando implodir as bases da democracia em nome de um projeto de poder.
O "novo Partido", assim, pode até ser uma boa idéia, se realmente tiver a intenção de agregar setores de uma "esquerda liberal", reformista, que atua fora dos princípios marxistas e lida com a globalização como fato consumado, congregando gente como Cristovam Buarque, Jefferson Peres, Pedro Simon, Aécio Neves, Rigotto, Luiz Eduardo Soares, Mangabeira Unger e outros. No entanto, deve-se ter um pé atrás: podemos estar simplesmente diante de golpismo escancarado.
Antes do PT e de Lula, estou com a democracia.
Trilha sonora do post: The Stills, "Lola Stars and Stripes".
A Agência Reuters anuncia que Lula planeja criar um novo partido, alinhavando forças políticas do PT, PSDB e PMDB. Seu principal aliado seria Aécio Neves, candidato com 70% de aprovação em MG que dificilmente conseguirá bater José Serra como sucessor à Presidência em 2010.
A interpretação disso pode passar por dois matizes. O primeiro é uma leitura de golpismo getulista por parte de Lula, que, não tendo base congressual, organiza um pseudopartido para ganhar força no Parlamento.
Mas também é possível outra interpretação. Há uma forte dissonância, na realidade, entre o "lulismo" e o "petismo", na atualidade. Enquanto o PT continua com o discurso "socialista democrático", Lula se encaminha muito mais para a via social-democrata, com claro ímpeto reformista. Figuras como Miguel Rosseto, Tarso Genro e Olívio Dutra representam muito mais a "cara" do PT do que quem verdadeiramente manda -- José Dirceu, Palocci, Pimentel e Lula, do "Campo Majoritário".
A cisão é muito mais profunda do que, propriamente, parece. Não há apenas uma briga interna do partido, em que campos distintos -- de Raul Pont a Aloisio Mercadante -- disputariam a hegemonia. Na realidade, é a própria feição do partido que está em jogo. De um lado, temos uma tendência de esquerda mais "radical", com viés marxista; de outro, uma esquerda "liberal", com viés mais reformista. A fatia marxista já deixou em parte o PT, inclusive, para criar o PSOL.
A criação de um partido novo, na realidade, estaria a refletir uma tendência de centro com inclinação para a esquerda, tendência que inclui setores do PSDB, PMDB, PT e até alguns do PDT (Jefferson Peres e Cristovam Buarque são exemplos). Essas forças congregadas formariam um aglomerado ideológico visando à "concertação", um acordo com acento político-econômico moderado e reformas estruturais, especialmente na área social.
Isso é bom? Pode até ser. Realmente, está faltando uma base clara para apoiar o reformismo atual do Governo, que não encontrou sequer na base petista apoio incondicional, exatamente pela cisão que falei. Foi "preciso", por isso, comprar votos do Congresso, sustentando uma base fisiológica sem ideologia alguma, composta por simples aproveitadores, especialmente do PL, PP e PTB. Essa aglutinação de setores do PSDB, PT e PMDB pode até dar bons resultados, sustentando a idéia de defendi, desde que explodiu o escândalo dos mensaleiros, de que a melhor solução para o Brasil, embora seja a mais distante dos fatos, é a coligação PT-PSDB, jogando o "atraso" para o escanteio. Essa idéia pode se concretizar nessa terceira força alternativa, criada a partir do fato político real de que Lula é diferente do PT e Aécio dificilmente teria respaldo no PSDB.
No entanto, é preciso ter cautela. A iniciativa pode, muito bem, ser um mero golpe getulista de Lula, sim, e congregar as forças podres do PMDB, como Jader Barbalho e Ney Suassuna, formando mais um aparelho fisiológico de controle do Congresso.
Lula precisa desfazer a imagem que formou no eleitorado político esclarecido: a de um político que, por meio de José Dirceu, buscou comprar o Congresso Nacional mediante adesão de Deputados fisiologistas [ainda que eu não tenha me convencido de que houve mais do que "caixa 02", o que, por si só, já é grave suficiente], tentando implodir as bases da democracia em nome de um projeto de poder.
O "novo Partido", assim, pode até ser uma boa idéia, se realmente tiver a intenção de agregar setores de uma "esquerda liberal", reformista, que atua fora dos princípios marxistas e lida com a globalização como fato consumado, congregando gente como Cristovam Buarque, Jefferson Peres, Pedro Simon, Aécio Neves, Rigotto, Luiz Eduardo Soares, Mangabeira Unger e outros. No entanto, deve-se ter um pé atrás: podemos estar simplesmente diante de golpismo escancarado.
Antes do PT e de Lula, estou com a democracia.
Trilha sonora do post: The Stills, "Lola Stars and Stripes".