Ler "Que é Metafísica", de Martin Heidegger, e entender o que está dito já é um grande passo. Meu final de semana foi permeado por interessantes leituras filosóficas, monumentais, que regridem ao ponto mais "antigo", do pensamento, em claro espírito meditativo. Mas o convite para o texto é Heidegger é o convite para a angústia. No caso do alemão, não a angústia enquanto sentimento, mas a angústia enquanto condição transcendental, estado em que vivenciamos o Nada.
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A angústia de Heidegger, no entanto, apenas aumentou a minha própria. A minha -- menor -- não a angústia do espírito filosófico, nem mesmo a angústia enquanto "temor" ou "receio", mas a angústia de ser possuído pelo desprazer absoluto, a incapacidade de sentir a intensidade das coisas, uma certa sensação de impotência generalizada. Um sentimento que, aos poucos, vai permeando meus dias, que agora parecem transcorrer como pura eventualidade, sem destino ou objetivo.
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Tudo parece extremamente insosso e sem apetite. Talvez a minha libertinagem habitual tenha colocado padrões demasiado exigentes de prazer, de forma que é preciso de muita "felicidade" para quebrar a "infelicidade" habitual, que é nossa condição, como bem apanhou Freud.
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Não é Freud ou Heidegger que me interessam: é o calor da vida que se torna ameno, o colorido se torna opaco, tudo parece bastante desprovido de sentido -- não sentido como "significado", mas como "sentimento", forma de "contato".
As palavras, realmente, são demasiado fracas para expressar certas coisas. Talvez, como fala Heidegger, melhor seja a suspensão no nada.
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Trilha sonora do post: Grandaddy, "Levitz".