Mox in the Sky with Diamonds

quinta-feira, julho 27, 2006

BIBLIOTECA SOMEPILLS
Leitura Recomendada

"A Náusea" ("La nauseé") - Jean-Paul Sartre.
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"A Náusea" foi um romance que me fascinou, há uns oito anos atrás [cruz credo, quanto tempo!]. Pela primeira vez, senti pulsar a filosofia, não como algo abstrato e meditativo, mas como algo vivo, intenso, capaz de percorrer a nossa pele, se enxertar nos nossos ossos, embrulhar o estômago.
Roquentin é um dos personagens mais belos da história da literatura. Sartre expõe todos os seus conceitos filosóficos de forma poética, artística, transpirando sua fenomenologia, a partir dos dilemas existenciais que vão se apresentando a Roquentin.
A Náusea é a sensação de que o mundo vive independente de nós mesmos, que as coisas existem por si mesmas, fora dos nomes que lhes damos, que elas simplesmente "se apresentam". E que essa apresentação, essa existência, é brutal, não está preocupada com a nossa vontade ou a nossa consciência. Tudo isso é irrelevante; a árvore, encravada no chão nos seus cem anos de existência, se ergue perante meus olhos indiferente à minha palavra "árvore" ou à minha "idéia" de árvore. Ela se mostra brutalmente: não posso a ignorar.
Esse momento é de violência: o momento que me dou conta que as coisas transcendem as descrições. Exigiria algum tempo, talvez até um ensaio filosófico, mostrar que não há contradição entre essa fenomenologia da náusea, da brutalidade da coisa, e o fato, pragmatista, de que não enxergamos o mundo fora das nossas descrições. Mas, em resumo: percebemos apenas uma parcela, bem pequena, da realidade, porque pensamos na moldura da linguagem.
A Náusea é a coisa violentando nossos olhos. É um estupro mental, a consciência de que o mar não é aquela película poética, mas um buro negro e frio repleto de animais. Mas, antes de tudo, o mar é, mesmo que eu não consigo compreender. O mar é o mar, um buraco com água e animais, antes de qualquer descrição que eu queira lhe dar. Quando eu o toco, estou na minha consciência, na minha linguagem, porém a náusea ocorre quando percebo que ele está para muito além disso.
Isso é Sartre.

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Trilha sonora do post: Thom Yorke, "Analyse".