Mox in the Sky with Diamonds

sexta-feira, abril 07, 2006


O inacreditável poder das aranhas
"Quando um inseto pousa em sua teia, a viúva-negra é avisada pelas vibrações dos fios. Ela corre e envolve sua vítima numa rede espessa de fios antes de aferroá-la com suas quelíceras, pinças ocas que injetam o veneno. Após o acasalamento, a fêmea devora o macho. O casulo onde os ovos são depositados é maior que o corpo da aranha. Dele saem dezenas de filhotes."


As aranhas não são insetos. São aracnídeos. A aranha-fêmea tem prevalência sobre a aranha-macho. Utiliza-o para reprodução e depois o descarta. Atrai-o pelo instinto e, depois, mantém sua hegemonia, destruindo seu companheiro. O ardil atrai o macho e, trazendo-o para seu local de abate, faz a destruição suceder o prazer.
O mundo está cheio de mulheres. No nosso caso, por aqui, há até mais que homens. Hoje estava almoçando e, na mesa ao lado, conquanto fosse apenas o meio dia de sexta, um homem de uns 35/40 anos dividia a mesa com uma guria de uns 16-20 (e poucos) anos [é mais difícil identificar idade nas mulheres]. O garçom, discretamente, pergunta a ele se quer mais um chopp. Ele dá de ombros, pergunta a ela. Ela diz sim, "mais um por favor".
Não é preciso ter experiência para saber o que estava acontecendo. Mas fiquei pensando: pôrra, por que essa mina precisa ficar com esse cara? Simples: poucas opções.


Esse texto é bem circular, então, paciência, prezados leitores.

No sábado passado, ao sair, fiquei indignado. Não agüento mais ter que encaixar a palavra certa na hora certa para ter uma resposta incerta na noite, onde as mulheres reinam soberanas, na sua beleza estupenda e incrível poder de sensualidade. Odeio essa obrigação de ter que acertar de primeira, de não ter possibilidade de conversar mais, de ser mais um. Naquele momento, o desequilíbrio de poder entre homem e mulher é imenso --- e, por mais marrento que seja o magrão, todos que eu conheci até hoje têm suas dificuldades com essa soberania.
Mas, assim como as aranhas, as mulheres criaram uma arapuca infalível para atrair os machos. Quando ficamos solteiros, saímos correndo atrás delas na noite, e, com o poder da carne que elas dispõe sobre nós, ficamos escravos da rotina dos bares e boates. Estamos a todo dia rastejando e pedindo um pouco de cheiro, sabor e curvas femininas. Como aranhas, elas saem na noite, escolhem sua presa e a devoram.
A armadilha da mulher [atenção, aqui tudo se liga], portanto, é deslocar o eixo da conquista, tecendo sua teia na noite e fazendo com que, nós, machos, que somos minoria e, por isso, poderíamos ter o poder, sejamos seus escravos, rastejando noite-a-noite por momentos de prazer. Da nossa hegemonia no dia, passamos à servidão da noite. E não apenas voluntariamente: acreditamos, realmente, na nossa felicidade.
Com sua inacreditável capacidade estratégica, a mulher consegue virar o jogo, fazendo nós, solteiros, acreditarmos que somos felizes porque podemos sair na noite livremente. Atraídos para a sua teia.


Nós, os devorados.

Trabalho: exercício diário de mortificação
O trabalho é, basicamente, um exercício de mortificação gradual. A escravidão pela rotina tem dois efeitos: ou serializa, ou enlouquece. Os que se adaptam sucumbem (ou simplesmente são) a mediocridade cotidiana, transformando a burocracia num fim em si mesmo, prazeroso, retumbante. Os outros, mais criativos, sentem-se esmagados por uma pressão insondável, um tédio mastodonte, como se estivem em uma jaula. Sentem, aos poucos, sua subjetividade sendo esmagada pela burocracia e repetição. Têm ódio mortal de tudo, porque sua identidade aos poucos vai morrendo. Seus traços criativos, sua inteligência, os lampejos mágicos e a felicidade cotidiana aos poucos vão sendo substituídos pelo mau humor, revolta, tédio, desespero, cansaço, tristeza.

O princípio do trabalho é a universalização das tarefas: todas as atividades têm que ser acessíveis a todos. Logo, o padrão adotado terá que ser o do mais burro. Se todos devem executar as tarefas, elas devem ser o mais simples e fáceis possíveis. Isso massacra a inteligência, destrói a criatividade, impede o exercício da inventividade, que é exatamente a virtude daquele que pode pensar por si mesmo. O padrão do trabalho é o padrão da racionalidade e, como tal, impede de avançarmos nas nossas intuições, emoções e desejos. O trabalho é o inferno do artista e do filósofo. Todo aquele que enxerga o mundo para além do que é imposto é, gradualmente, mortificado por uma rotina estupidamente serializante.

Trilha sonora do post: The Verve, "She's a superstar".