Mox in the Sky with Diamonds

sexta-feira, abril 14, 2006

Crise institucional?

Uma das características da imprensa brasileira atual é o seu constante pessimismo. A todo momento procurando corrupção, crise e desentendimentos, hoje em dia, só não ver quem quer, segue a pauta ditada pela oposição [a colocação do Ministro Márcio Thomaz Bastos na berlinda é prova disso. Quem quiser acusá-lo leia isso aqui; um relato verossímel, e diga se ele cometeu algum ilícito --- antes pelo contrário]. E se pronuncia, a todo momento, uma tal crise institucional.
Pois eu digo exatamente o oposto. Provavelmente as instituições brasileiras nunca estiveram tão fortalecidas como no momento. É verdade que o Congresso desapontou com a absolvição de vários mensaleiros, mas vem investigando com liberdade o Poder Executivo, criou quantas CPIs quis, funciona livremente e o pior Presidente da sua história simplesmente caiu, irresistível num quadro de democracia madura. A queda de Severino Cavalcanti foi fruto, a rigor, muito mais de uma pressão social e da imprensa em torno de um ignorante oriundo das piores tradições políticas nacionais [cabresto], do que propriamente pela tentativa de suborno de que foi acusado. A democracia madura brasileira não suportou Severino.
No Poder Executivo, vimos o Primeiro-Ministro cair, em face da acusação de suborno de Parlamento, por pura responsabilidade política. Terminou cassado. O Ministro mais forte de todos, o da Fazenda, foi derrubado por um cidadão comum, com a acusação --- que só ocorre em um Estado de Direito --- que um direito individual seu foi quebrado. A Polícia Federal nunca teve tanta liberdade investigatória, independência para trabalhar. Hoje desmonta organizações criminosas de colarinho branco como nunca fez. O Ministério Público, que não pertence ao Executivo, mas tem seu Chefe indicado pelo Presidente, deixou de ser "engavetadoria" e passou a atuar com rigor, como vimos essa semana ao denunciar [a meu ver, até excessivamente] vários do primeiro escalão. O Bolsa-Família, que muitos chamam de assistencialista, é uma medida universal e impessoal, de transferência de renda em uma economia globalizada que não dá conta da demanda de empregos, e se não funcionasse --- como apregoam alguns, sem mostrar qualquer dado --- Lula não estaria na frente das pesquisas.
A imprensa é absolutamente livre. Critica o Governo como quer. Assume a pauta da oposição. Até neofascistas como Enéas e Heloísa Helena têm espaço para diálogo na democracia nacional. Há pouco tempo, tivemos oportunidade de votar --- equivocadamente, a meu ver --- sobre o direito de ter armas, contra todo pressão das empresas lobbistas. Temos um Ministro da Cultura que admitiu fumar maconha há pouco tempo. O Exército --- embora volta e meia apareça com declarações estapafúrdias e absurdas --- é imediatamente calado pelo alto escalão e pelos articulistas políticos. Dialogamos livremente com os mais diversos países do mundo, e a estabilidade institucional do Brasil é falada no mundo inteiro. Não há um jornal --- mesmo os extremamente conservadores --- que não diferencie Lula e Bachelet dos demais esquerdistas latino-americanos, vários dos quais caudilhos autoritários.
Por fim, o Supremo Tribunal Federal finalmente se posiciona como Corte Constitucional, fazendo valer as garantias individuais perante abusos do Poder Público. Começa a avançar a jurisprudência [garantia de defesa no processo administrativo, garantia do silêncio, progressão de regime nos crimes hediondos, em breve, quem sabe, vedação de prisão para apelar] em decisões que são mal-interpretadas pela imprensa como proteção de interesses, mas juridicamente são inatacáveis. Falta à imprensa, aliás, uma maturidade constitucional para entender o porquê das decisões do STF, que até então vinha sendo omisso na democracia brasileira.
Enfim, por todos os lados vejo avanços na consolidação institucional brasileira. Até os episódios mais espúrios --- como a absolvição de João Paulo Cunha --- mereceram críticas pela imprensa em geral e colaboram para a revolta de vários integrantes do Congresso, que, pouco a pouco, vão conseguindo forças para tocar pra frente a reforma política.
Aos tropeços, a democracia brasileira avança.
Image Hosted by ImageShack.us
HYPÔMETRO SOMEPILLS
O hypômetro somepills fala das bandas que venho ouvindo e estou com uma impressão positiva. Não trata de opiniões definitivas, isso será para outras seções, que mais além apresentarei. E diria, sem pestanejar, que nenhum disco esse ano [olha a heresia, mas enfim...] me tocou mais que "Ten Silver Drops", o novo do Secret Machines.
É simplesmente MONUMENTAL. A resenha já está escrita --- e vai publicada em www.plugitin.com.br --- mas o site está sofrendo problemas técnicos, por isso consultem nos próximos dias.
É Muito Chato
Cara, é muito chato esse blogspot.com. É só botar uma imagem que fica assim, sem espaço entre as linhas. Que merda.

Ah, me irritei. Tchau.

Trilha sonora do post: Snow Patrol, "You could be happy".