Mox in the Sky with Diamonds

terça-feira, março 07, 2006

Racismo
O episódio Antônio Carlos suscita uma série de questões importantes. Uma delas é a presença constante de racismo, mesmo que vivamos em pleno século XXI. O século XX foi o século das revoluções "transversais" --- feminina, negra e homossexual. Impulsionados por uma América institucionalmente aberta para os direitos civis, na década de 70, forçaram a sua aceitação social, mesmo que por convenções como a do "politicamente correto". O "politicamente correto" era uma forma de forçar a ruptura lingüística com convenções que tratavam de jogar mulheres, negros e homossexuais em valas inferiores, colocando-os em posição ridícula perante a cultura machista, branca e patriarcal. Assim, os KKK acabaram afundando e o mundo inteiro seguindo as "revoluções" inauguradas em São Francisco, Nova York, Paris, Londres.
Mas, pelo que se vê, não é bem assim. A Espanha --- um país que eu admiro tanto... --- vem sendo um exemplo triste de manifestações racistas, em uma população cerca de 90% branca. A tendência natural do racista é negar a existência do racismo --- como vemos em recentes declarações de Luis Aragones, técnico que deveria ter sido demitido da seleção por ter afirmado a Reyes que era melhor que o "negro de merda" Henry. A Federação Espanhola, nesse sentido, é uma grande decepção, aplicando multas pífias aos clubes e não tendo demitido seu treinador. O racismo está presente a todo momento. O ato de Antônio Carlos foi, mais uma vez, a instigação à ignorância e intolerância; a diferença em cima de uma diferença que não existe.
Um dia, quem sabe, poderemos ser mais civilizados.
Condenação antecipada?
Ah, antes que digam que estou pré-julgando o cara: todas as suas declarações retratam que evidentemente houve o ato. Inclusive a tentativa de dizer à imprensa que "se preocupe com as coisas de dentro do campo", atitude típica do racista que, mais uma vez, nega a existência do racismo.

Para os anti-americanos
Não posso perder a oportunidade de alfinetar os anti-americanos e perguntar: que outra cultura teria a oportunidade de nos fazer presenciar um romance gay com tão alta popularidade? Que outra cultura faria multidões se deslocarem para verem dois "machões" (cowboys) se beijarem e abraçarem? Brokeback Montain é uma bela história de amor, onde resta claro o quanto convenções sociais devem ceder, a todo momento, a situações em que testemunhamos o sofrimento injustificado do outro. As tradições existem para serem derrubadas, são meras "invenções" humanas. Somente a cultura pop americana poderia suscitar essa reflexão em massa, capaz de nos jogar num alçapão onde nos sintamos culpados pelos nossos preconceitos. Ang Lee foi infinitamente superior a Almodovar nesse sentido.
Mas, de minha parte, continuo preferindo as mulheres.

Coluna do Wianey Carlet, hoje (www.zh.com.br):
Racismo abjeto
"Indignação já começa a ser palavra com força insuficiente para retratar o que sinto cada vez que se perpetra uma infâmia racista. O primeiro sentimento é sempre de dor, imaginando quanto estas indignidades magoam os meus amigos negros. Domingo, no Alfredo Jaconi, o meu primeiro pensamento, após o gesto de Antônio Carlos, voou até a Restinga e desceu sobre o lar da minha doce amiga Serenita, a vovó Serenita, negra linda de pele e coração, com quem falara longamente no sábado pela manhã. Deu-me uma vontade imensa de abraçá-la, e a sua família maravilhosa, e pedir-lhe perdão pela ofensa que não atingia apenas Jeovânio, mas todas as pessoas que cometeram o "crime" de não nascerem brancas. Lembrei os queridos amigos, com os quais cruzei no Carnaval, e me veio uma vontade imensa de chorar. É o que faço, no momento em que escrevo. Choro, mas não são lágrimas de indignação. São mais do que lágrimas de dor. Elas escorrem carregadas de raiva. E me surpreendo odiando. Sim, porque indignação não é mais palavra capaz de abrigar o gigantesco nojo que estou sentindo. Gostaria de ser superior, sentir pena destes racistas miseráveis. Mas já me acomete o abominável sentimento do ódio, e eu não quero odiar. Devo desejar vida longa para aqueles que discriminam pela cor da pele. Assim, terão bastante tempo para descobrir como são asquerosos, sujos, podres e quanto emporcalham a condição humana."
E, para acrescentar, eu diria que, hoje em dia, eu sou contrário a tudo que se refira à discriminação, INCLUSIVE piadas com negros.

Direitos Humanos
Existe um feixe básico de direitos --- reconhecido por todas as nações do mundo --- que está nas declarações da ONU e vinculam todos os países que tenham a tradição liberal-democrática. Entre eles, o direito à igualdade. É lamentável como, hoje em dia, tais circunstâncias continuem soterradas pela ignorância branca prepotente.
Os fascistas --- de direita ou de esquerda --- são incapazes de compreender o significado dessas liberdades básicas, colocando seus projetos acima do indivíduo. Por isso, o projeto liberal é, ainda, o melhor. Liberal reformista, é claro, e não essa avalanche predatória que vivemos. Um liberal voltado para a concretização dos direitos assegurados em pactos internacionais.

Eu quero Serra!
De todos os projetos que se apresentam até agora, o de Lula é, ainda, o mais consistente. Nada como enfrentar o fraco Serra, com seu tom professoral e bobão, para que a eleição seja morta, muito provavelmente, no primeiro turno.
A favor de Serra, sejamos justos, está uma boa gestão no Ministério da Saúde, que inclui quebra de patentes e concretização dos genéricos. Entretanto, pelo que leio da gestão em SP, todos os vícios tecnoburocratas do PSDB estão por lá, e é bem provável que fossem se repetir, caso eleito à Presidência.

De unanimidades nós desconfiamos
Virou moda bater em Bush. Mas, muitas vezes, são apenas "sweet neocons" que o criticam, até compartilhando de suas idéias, mas sem querer pactuar com o "diabo". Quantos brasileiros que o criticam não são a favor de muitas das suas propostas [guerra contra o crime, proibição do casamento homossexual e do aborto, cultura armamentista, educação religiosa, etc., etc., etc.].
A moda, aqui no Brasil, é falar dos juros altos. Todo mundo critica. Bem, quero que me apresentem, então, uma alternativa. Inflação? Ninguém quer. Os países mais prósperos que consolidaram seu crescimento de forma parecida com o Brasil foram Espanha e Chile --- equilíbrio e conservadorismo na política econômica e persistência, para, passo a passo, consolidar suas conquistas. China e Índia são modelos duvidosos, de culturas e situações sociais bem distintas, embora tenham dimensões parecidas. Desses dois, o modelo indiano, de investimento pesado em educação, é melhor. Falar do modelo econômico da China é ignorar que esse país não é modelo para nada: é um regime totalitário e escravagista que cai sobre uma superpopulação. Assim, qualquer um cresce. O problema é parar de crescer.

A democracia ameaçada
O interesse de políticos ameaça a segurança institucional no Brasil, ao proporem --- como, lamentavelmente, fez Aldo Rebelo --- uma nova emenda constitucional, para derrubar a decisão do TSE que impôs a verticalização. Lastimável porque o interesse político --- menor --- se sobrepõe à vontade constitucional. Os danos ao Poder Judiciário seriam imensos, pois se jogaria seu poder praticamente no lixo.
Isso é MUITO sério.
MTV ressurgindo das cinzas?
Não é só mais uma trova do Lúcio Ribeiro. Realmente, o rock está voltando pra moda. Prova disso é a virada na programação da MTV, que, aos poucos, vai voltando a tocar MÚSICA e principalmente ROCK. Hoje, por exemplo, vi My Morning Jacket, Flaming Lips, White Stripes e outros, um atrás do outro, em um programa novo cujo tema era "você é mais Liam ou Noel Gallagher?". No final, constou: Liam ("Estou no mesmo nível do Elvis") e Noel ("Backstreet Boys têm que morrer"). Hehehe.
Afrodite
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Era wilson. Té más.
Trilha sonora do post: Bob Dylan, "Creep" (é verdade, vocês acreditam?)