Mox in the Sky with Diamonds

sexta-feira, março 17, 2006

A psiquiatria legitima a utilização de qualquer droga

Os psiquiatras vivem querendo nos deixar mais felizes. Não hesitam, como médicos, em nos recomendar medicamentos que solucionem nossos problemas "cerebrais", dando respostas químicas para questões mentais.
Em filosofia, especialmente a filosofia da mente (uma discussão mais clara, hoje em dia, na filosofia norte-americana do que na filosofia européia), é possível identificar os "fisicalistas" e os "não-fisicalistas" [sobre os fisicalistas, confiram aqui]. Trata-se, basicamente, de distinguir aqueles que vêem a mente como uma parte do corpo e aqueles que não vêem assim. Estou, decididamente, ao lado dos fisicalistas. A mente é uma mera invenção lingüística, a idéia de "alma" não se sustenta.
Se somos fisicalistas, é bem possível acreditarmos nos médicos e tomarmos a quantidade de drogas para o sono, a depressão, o déficit de atenção e daí por diante, que eles nos recomendam. Pois, se não há distinção entre o físico e o mental, não existe qualquer razão para que evitemos os fármacos.
O que os psiquiatras não perceberam é que, enxertando essa inundação de drogas na nossa sociedade, eles estão, aos poucos, legitimando a ingestão de qualquer substância, visto que a questão da droga se torna meramente moral. Se podemos ingerir uma substância para ficarmos "felizes", evitando a depressão, por que não podemos também cheirar cocaína ou tomar ecstasy, para aproveitar uma festa [abstraídos, aqui, os danos a terceiros, como os acidentes de trânsito]? No fundo, o fisicalismo nos impede de diferenciar uma droga de outra. Ambas são viciantes. Ambas podem levar a uma overdose. Qual a diferença entre as duas? Ambas "alteram a consciência", se entendermos por "consciência" o estado anímico formado a partir de, tão-somente, nossos próprios elementos químicos do cérebro. A que ponto chegamos, então?
Aos poucos, os psiquiatras vão rompendo com todas as fronteiras morais, especialmente aquelas provenientes da Igreja, que valoriza apenas o poder da "palavra", ao introduzir drogas que alteram nossos estados anímicos normais. Como qualquer concepção filosófica mais apropriada nos induz a dizer que não há um padrão único ser humano, não existe um "ponto ideal" da consciência, o que existe é tão-somente a busca de uma vida mais prazerosa.
A partir desse momento, cruzamo-nos com o ponto cego da questão. Onde está a raiz da proibição? Ela é, basicamente, baseada no imperativo capitalista da vida-voltada-para-o-trabalho e no cristão ideal de sacrifício. No fundo, o que está em jogo é o pecado. É somente a partir desse ponto de vista que certas drogas são proibidas e outras permitidas, ainda que ambas alterem a consciência. Somos estóicos, e não epicuristas. O prazer excessivo é proibido. É apenas esse estoicismo -- de natureza puramente moral -- que nos impede de compreender que, no fundo, se a pessoa X ou Y usa heroína, é um assunto privado dela, e nada podemos fazer a respeito. Se, ao mesmo tempo, tomamos prozac, que moral temos para falar, quando o "olho de Deus" caiu e perdemos a referência? A menos que aceitemos um padrão de pessoa, o viciado em heroína e o dependente de prozac são absolutamente iguais, nas suas alterações de consciência. Qual a diferença entre aquele que fuma haxixe antes de dormir e aquele que toma remédios "tarja preta"? Fora a questão legal, ambos alteraram quimicamente seu organismo para produzir uma sensação X. Mas uma é proibida; outra, permitida. Por quê? Porque fumar haxixe é pecaminoso. [É claro que a questão legal aqui está de lado; estamos questionando a lei].
Poderíamos dizer que as drogas ilícitas têm maior potencial viciante. Talvez seja verdade, em alguns casos. Mas a realidade é que existe um grande número de pessoas que usam e não são viciadas; assim, da mesma forma, com as drogas lícitas. A solução, no final, seria proibir todas. Apenas a "palavra" seria moralmente admissível, apenas a alteração da consciência por meio da "conversa". Nesse caso, seríamos ao menos coerentes.
Hoje, contudo, que a psiquiatria faz, ao ampliar cada vez mais o cardápio de drogas capazes de alterar nossos estados mentais é, portanto, legitimar o uso de qualquer droga, porque, ao fim e ao cabo, a decisão sobre toma-la ou não será puramente moral.
It's just rock'n'roll, it's just rock'n'roll, it's just rock'n'roll....
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O show do OASIS foi exatamente como Liam Gallagher prometeu --- rock direto. Uma chuva que resolveu cair exatamente na hora ainda animou a galera, permitindo que nos sentíssemos mais próximos de Manchester. A banda abriu com a tradicional "Fuckin' into the bushes", seguida das ótimas "Turn up the sun" e "Lyla", do último álbum. Execuções perfeitas. E então, a paulada "Bring it on down" e "Morning Glory" abriram a sessão de clássicos, deixando a platéia enlouquecida até chegarmos em "Cigarettes and Alcohol". A melhor faixa de DBTT --- "The Importance of being an idle" --- foi a seguinte, e mais Noel Gallagher com "The Masterplan", tocada irrepreensivelmente. "Songbird", confesso, desapontou um pouco, talvez porque fosse melhor que tivesse apenas um violão e voz, numa versão mais acústica. Acho que o Oasis poderia tocar outra do Heathen Chemistry, pelo menos no clima elétrico. Os fogos se acenderam de novo com a excelente "A bell will ring", grande música, e "Aquiesce" e "Live Forever" foi cantoria geral. Só podia, né? "Mucky Fingers", um dos pontos altos de Noel --- o Oasis arriscando coisas novas -- e então voltamos para Morning Glory, com as clássicas "Wonderwall" e "Champagne Supernova". Nos primeiros acordes desta, houve mais de um grito dizendo "Stand by me", e suspeito que, aqui no Brasil, o renegado Be Here Now seja tão amado quanto os dois primeiros discos --- talvez até mais que Definitely Maybe, o meu favorito. E "Rock'n'roll star" [precisa dizer mais?] fechou, com classe, a primeira parte do show. SURPRESA, depois do bis, em que a platéia canta "Don't go away" [mais Be Here Now, notaram?], eles tocam, ao contrário do repertório previsto, SUPERSONIC --- a melhor música, para o meu gosto. E a energia de "Supersonic" parece ter contagiado uma música que não me chamou muito a atenção no disco, mas no show foi, na minha opinião, a mais energética, feroz e bem executada --- "The Meaning of Soul". Foi simplesmente IMPRESSIONANTE ao vivo. "Don't look back in anger" foi a música de maior interação com a platéia, que cantou inteiramente e até arrancou um sorriso do carrancudo Noel. Fecharam com uma furiosa "My Generation", com ênfase especial nas baquetas raivosas de Zak Starkey, que toca forte e pesado como Keith Moon.
Uma impressão pessoal que ficou é que Noel está bem mais ligado na parte profissional do que propriamente no showbizz. Durante todo show e nas entrevistas [Bizz e MTV] ele pareceu estar só cumprindo protocolo, e no show esteve todo tempo discreto, embora perfeito na execução das músicas. Mas é só uma impressão. Algo que me diz que daqui a dois ou três discos teremos um Oasis bem mais Liam que Noel. Especulação, só.
Por sinal, rateada é pouco para o Roger Lerina, que além de fazer menção ao Júnior [sim, aquele bostinha mesmo], ainda disse que a música favorita dele, "Songbird", não tocou. Mas de onde nada se espera e que não sai nada mesmo, né?
Ah, e o Moptop, banda de abertura, não vale a pena não. Impressionante! Os caras conseguiram emular "Reptilia" quatro vezes.
Trilha sonora do post: Oasis, "Help".