Mox in the Sky with Diamonds

quinta-feira, março 02, 2006

Brunchner
Em viagens longas para lugares libertinos, a vida do cara acaba se transformando em uma redoma de álcool*, desregramento, indisciplina. Vocês, de regra, conhecem meu lado libertino: cunhei uma nova palavra, a fusão do "brunch" com "dinner" --- tipo, aquela refeição que o cara faz só para constar, entre um trago e outro, e, por sinal, a única do dia.
Quem, afinal, precisa comer? A vida é curta demais para isso.
O mundo é uma praia
Cheguei à conclusão, fazendo uma trilha e entrando em contato um pouco mais profundo com a natureza, que a Terra é uma grande praia, e pouco nos damos conta disso.
No centro, um conjunto de bichos devasta com fumaça, detritos e sujeira esse planeta. Bichos que se acham superiores aos demais.
Aliás, finalmente consegui convencer uma pessoa --- e não era nada burra, não --- em uma longa conversa filosófica, que não existe diferença alguma entre razão e instinto, apenas de grau. No limite, a razão é apenas um instinto adaptativo próprio dos seres humanos; que, entretanto, pode se estender aos demais animais. Vocês já pararam para pensar que realmente não existe diferença alguma entre a conduta da abelha, do macaco e do homem?
A TRILHA SONORA
Image Hosted by ImageShack.us
"First Impressions of the Earth" foi, sem dúvida alguma, A trilha sonora das minhas férias --- disparado. Li uma quantidade assombrosa de idiotices escritas por gente que certamente não escutou o disco.
Ponto 1: é o disco mais triste e revoltado dos Strokes. Julian vive a fase do "odeio o mundo" [eu sei bem o que é isso, talvez tenha me identificado]. Já começa em "You only live once" ["some people think ther're always right"], segue em "On the other side" ["I hate them all, I hate them allI hate myself For hating them So drink some more I'll love them all I'll drink even more I'll hate them even more than I did before"] ou "Evening Sun" ["They love you or they hate you/Cause they will never let you be"].
Ponto 2: os velhos Strokes ainda estão lá, em músicas mais arrastadas [no bom sentido], que lembram "Under Control" ou "Automatic Stop", pelo seu andar mais lento, especialmente as maravilhosas, fantásticas, excelentíssimas "You only live once", "On the other side" e "Razorblade". São músicas que marcam.
Ponto 3: é um disco em que eles se arriscaram. Os sons ficaram mais complexos, o próprio tempo do disco já se distancia bastante do curto "Is this it" e do curtíssimo "Room on Fire". Na modesta opinião deste, o único defeito do segundo disco era exatamente sua curta duração, que nos obrigava a ouvi-lo pelo menos duas vezes. O grande destaque do disco, além disso, é a "soltada" na voz de Julian, o que se nota desde a primeira música.
Ponto 4: como eu já disse no post anterior, "Razorblade" já vale o disco. Música espetacular, porque foi escrita sobre o amor entre namorados, no caso, provavelmente Julian e aquela gostosa do encarte. Não é, ao contrário da maioria, uma música de sofrimento, desejo não correspondido, chute na bunda --- não, na verdade é uma conversa entre homem e mulher em que as idiossincrasias da última acabam, ao final, magistralmente vencedoras. As always, of course.
Ponto 5: sim, existem algumas músicas dispensáveis, mas isso faz parte de qualquer projeto mais ambicioso, sem que o estrague ou diminua. Os Strokes cresceram como banda e confirmam serem a número 1 do "novo rock", acima de outras boas bandas como White Stripes, Franz Ferdinand e The Libertines.

A trilha sonora --- II
The Rolling Stones. Embora ouça essa banda desde os primórdios da minha existência, nunca foi tão clara sua importância, magnificiência e capacidade infinita de elaborar músicas esplêndidas. "Hot Rocks", a coletânea oficial da melhor fase dos Stones, rolou muuuuitas vezes, e a cada ouvida foi melhor e melhor.
A verdade é a seguinte: se o rock'n'roll tivesse nome de banda, seria, certamente, ROLLING STONES. Nenhuma outra banda personifica a idéia de rock como os Stones e sua genial dupla compositora. Jagger é um monstro e creio que esse seja o melhor adjetivo para defini-lo. Nada é mais sexo, drogas e rock'n'roll do que Rolling Stones. Nada.
Por que então, os Beatles? Tão-somente por amplitude. Os Beatles foram os precursores de diversos segmentos do rock, enquanto os Stones permaneceram seguros onde eram os reis. Mas, ali, são imbatíveis. São inúmeras as bandas que devem tributo a eles. Uma delas, por exemplo, é o Primal Scream, agora que concluí que "Screamadelica", sua obra-prima, é "Simpathy for the Devil" tocada para raves atoladas de ecstasy, como aquelas que rolavam em Madchester àquela época [inicío da década de 90].
Vai, então
10. Alter Ego, "Épico";
9. The Verve, "Blue";
8. The Rolling Stones, "Get off my cloud";
7. Oasis, "Turn up the sun";
6. The Rapture, "Sister Saviour";
5. Primal Scream, "Loaded";
4. The Strokes, "Juicebox";
3. The Strokes, "You only live once";
2. The Rolling Stones, "Simpathy for the devil";
1. The Strokes, "Razorblade".
Indisciplina
Sou contra tudo que signifique controle, disciplina, lavagem cerebral. Cada um deve ser exatamente o que quer, salvo se, por um ato concreto, de alguma forma lesar a outrem. Do contrário, devemos suportarmos uns aos outros, independente de qualquer juízo moral. A liberdade tem primazia.
Lula
Não surpreende o crescimento de Lula. Primeiro, porque normalmente os governantes não têm dificuldades de se reelegerem, desde que não tenham feito algo escalandosamente ruim. Segundo, porque a propaganda é intensa e imensa. A BRIOI está coberta de placas anunciando a obra, embora pouco tenha sido feito. Terceiro, e por fim, porque o Governo não vai tão mal, embora esteja tropeçando feio em alguns pontos.
Fim do socialismo
Deveríamos apagar o socialismo das nossas mentes. Seria melhor esquecer logo Marx. O mundo é formado a partir da linguagem que usamos. Pensem em qualquer coisa, da mesa ao monitor do computador. É preciso ser muito confiante para achar que existe uma "inscrição" específica nesses objetos que os identifiquem como "monitor" ou "mesa". Não --- nós lhes damos nomes, e com os nomes, as funções. O mundo, por isso, não sai da moldura da linguagem.
Os xavões marxista nos impedem de pensar. Em vez de pensarmos alternativas para uma maior abertura democrática com a circulação do povo pelos canais de decisão, em vez de pensarmos em desenvolvimento sustentável, direitos humanos, liberdades fundamentais, falamos de "burguesia", "proletariado", "neoliberalismo", "capitalismo", etc. Essas metáforas nos engessam. Quem sabe um dia o PT não seja mais aquilo que parcela dos seus membros querem que seja: reduto marxista heterodoxo, mas marxista. Quem sabe o PT, um dia, se aproxime mais da social--democracia, do liberalismo reformista, dos partidos verdes. Quem sabe, um dia, menos Marx, Trotsky e Althusser e mais John Rawls, John Dewey, Habermas e Rorty.
Li
--- Filosofia Americana, boa compilação de entrevistas da italiana Giovanna Borradori, com figuras célebres como Kuhn, Davidson, Rorty, Nozik, Quine e Rorty. Leitura leve, mas bem informativa, com ótimo prefácio em que comparadas a tradição continental e a analítica. Gostei também do esteta Arthur Danto, um filósofo que coloca Andy Warhol no mesmo patamar dos filósofos.
--- Rimbaud e Jim Morrison, de Wallace Fowlie. Um tanto quanto desapontante, porque, embora recupere informações sobre os dois, peca pela superficialidade, centra-se mais na biografia que no texto. Não recomendo, embora recomende serenamente tanto Doors quanto o fantástico Rimbaud, por sinal, meu poeta favorito.
--- "A Farmácia de Platão", de Jacques Derrida. Derrida escreve em estilo complicado, quase impenetrável, sobre o tema da escritura. Até que ponto a escritura falseia a realidade? A voz falada parece carregar um parentesco com a verdade; a escritura, por si mesma, é apenas cópia da cópia, gira em torno de si mesma e parece se desconectar da "essência" das coisas. "Pharmakón", diria Derrida, remédio e veneno ao mesmo tempo.
Pretendo
Ser mais bem humorado, mais gentil, menos ácido e autodestrutivo, beber menos, estudar mais, fazer exercícios, ser mais compreensivo e um pouco menos crítico. Conseguirei?
Só mais uma
Não sou entusiasta do carnaval. Na primeira rave que descobri, me enfiei. Era num tal de Divine Club, na BR-101 entre Porto Belo e Itapema. Sinceramente, uma das PIORES festas que já fui na minha vida. Não eram apenas as pessoas de carinha sem entender nada do que estava acontecendo. Nem mulheres palhas, compensadas pelo astral absurdo de estarmos na beira da praia. O lixo supremo foram os DJs. Com uma mistura de electro, às vezes, e house, eles simplesmente infernizaram meus ouvidos. Inclusive o hypadíssimo DJ Mau Mau, amado em todo país, foi simplesmente terrível. Eu queria psy. Aliás, eu PRECISAVA de psy, sob pena do meu cérebro fritar. Fritou.
Trilha sonora do post: Coldplay, "Talk".