Mox in the Sky with Diamonds

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Pobre Lula
Estou realmente chateado pelo Presidente Lula. Ninguém mais que eu torceu pelo sucesso desse governo, que seria uma alternativa de centro-esquerda capaz de formar um certo consenso em torno da melhoria dos nossos indicadores sociais com estabilidade econômica e sem a Doutrina.
Hoje, no entanto, Lula está com cobertor curto. Quando pesquisa da FGV indica aquilo que venho dizendo há horas: o fome zero funciona, é um programa bem elaborado e, nos seus efeitos limitados, já dá resultado, vem o resultado do PIB contra a política econômica. E, logo depois, a cassação de Dirceu.
Efetivamente, o governo está encurralado. Isso se deve, sem dúvida alguma, ao péssimo desempenho político (stricto sensu). De todas as áreas, a política foi a pior administrada durante todo mandato lulista. Mais que a área econômica ou social. É uma culpa compartilhada por Dirceu (o "superministro" da política) e do próprio Lula, que foi omisso em muitas circunstâncias e demorou muito para abrir um espaço definitivo para o PMDB. Quem lê os meus posts antigos, lá do início do Governo, sabe que eu defendia essa aliança (com o "nada" ideológico) desde sempre, a fim de garantir governabilidade. Que o PT seria alvo de linchamento pela imprensa e pela oposição, todo mundo sabia. O que me admira é que ninguém estava preparado para isso. Do três pilares - o político, o econômico e o social - o primeiro foi a pior área de todas.
Mais ou menos como aqui no Sul, só que por razões diferentes.

Eles tomam veneno achando que é medicinal
Se sentimos algum mal-estar que possa ser doença, procuramos um médico. Esperamos dele que nos dê um diagnóstico e uma solução para o problema. Sabemos que, se fossemos a outro médico, talvez a solução ou até o diagnóstico fosse diverso, mas certamente a qualificação técnica adquirida nos garante uma dose de confiança na sua solução.
Curiosamente, quando o problema é a criminalidade, a solução é diversa. Mesmo que sociólogos e estudiosos da criminologia em geral insistam que a repressão, por si só, não representa qualquer melhoria na questão do crime, preferimos ficar batendo nas mesmas teclas, apostando em leis penais cada vez mais brutais.
Ao contrário do que ocorre com a nossa saúde, deixamos de ouvir aqueles que se dedicam a estudar o fenômeno e as suas soluções. Preferimos ouvir a voz do senso comum, que exige prisão perpétua, pena de morte, colônias penais oceânicas, até violência policial.
Não ouvimos o diagnóstico que, desde a década de 70, com a escola norte-americana do labeling aproach, vem fazendo da repressão penal: ao invés de combater a criminalidade, a recrudesce; ao invés de servir como estancamento do problema, reforça os estereótipos, estigmatiza as partes envolvidas e retroalimenta o ciclo da violência. Não. Preferimos deixar de lado os conselhos, porque são só "teoria".
Na prática, gostaríamos de deixar de lado os tais "direitos humanos". Não adianta argumentar que a divisão da sociedade em cidadãos e inimigos foi o alimento que engordou o totalitarismo na Alemanha de Hitler ou na União Soviética de Stálin. Não adianta dizer que a lógica do inimigo é a que guarnece as maiores atrocidades da história da humanidade. Não, o que vale é o nosso senso comum, pau neles.
Continuamos surdos para os estudos sérios sobre criminalidade, que identificam serem o policiamento comunitário, voltado para a garantia dos direitos humanos, a adoção de programas de desarmamento, a utilização de penas alternativas e iniciativas de caráter social que realmente reduzem o índice de delitos praticados. Não. Preferimos "tolerância zero": prisão preventiva, repressão brutal, penas altíssimas.
Mesmo que praticamente todos os estudiosos da Criminologia demonstrem que essas iniciativas são apenas iniciativas de segregação social, deixando uma população inteira (de negros e pobres, claro) atrás das grades, sem tendência de diminuição, está tudo bem. Afinal, são os outros. Não importa que seja universal o conhecimento de que a pena de prisão gera um ciclo de profecias que tornam aquele que comete delitos apenas mais preparado para novos delitos. Não importa: prisão é bom, deve ser aplicado e logo.
Enfim, não importa o que esses "teóricos" falam; o que importa mesmo é o chazinho da vovó. Só que esse chazinho é de veneno.

Hard-Fi, "Stars of CCTV" (2005).


O disco de estréia do Hard-Fi, mais uma banda britânica do "novo rock", tem até uma história legal: stars of CCTV seriam as bandas que tocam nos metrôs londrinos e aparecem naquelas milhares de câmaras espalhadas. E o lançamento do álbum ocorreu poucos dias antes do atentado no metrô. Mas isso tu já leste lá naquela coluna. Vamos ao que não foi dito.
Hard-Fi é mais uma banda influenciada pelos anos 80. Isso ainda vai virar artigo, mas, no momento, me impressiona a falta de criatividade na era mp3 da turma da Rainha. Todo mundo fala mal dos americanos, mas é impressionante a redundância nas bandas novas da Ilha. Todas soam como as bandas dos anos 80, que já virou até chatice arrolar.
O que eu posso dizer é o seguinte: a banda é um synth-pop com guitarras. Terrível? Sim. A repugnância do estilo faz com que devemos deixar a banda lá no fundo do poço, na turma dos esquecidos. A pretexto de ser alegrinha, a banda recupera os piores momentos dos anos 80, parecendo aquelas músicas de academia de ginástica antigas ou de filme da sessão da tarde. De vez em quando acertam um riff, por sinal limpíssimo, mas isso não justifica o todo. Imagina como deve estar uma gostosa daquela época agora, 20 anos depois. É a mesma coisa. Nem calça apertada segura, meu.
Aliás, ao lado de tantos rótulos, é incrível como ainda não inventaram o de "rock descartável", desses que tu baixa e deleta na hora. Seria uma boa classificação.
Tu pode conferir já na faixa de abertura, "Cash Machine", a influência de bandas oitocentistas horrorosas tipo Tears for Fears, com vocais ultra-clichês e, sobretudo, absurdamente ultrapassados (confere "Feltham is singing out", cópia evidente). E assim é em TODAS as músicas. Chego a imaginar um vocalista gay [estilo Justin Hawkins] e sua banda com calça fusô, permanente e polainas rosas cantando em clipes dançantes do pior estilo (bota pra tocar "Living for the weekend"). Imagina um New Order BEM ruim. Quer dizer, pra emular Tears for Fears tem que ser muito ruim. "Unnecessary Trouble", quando parecem um pouco um Blur com teclados sinth-pop, é até constrangedora. "Hard to beat" é animada? É. Soltar a franga também. Nem por isso vamos começar a gostar disso.


Image Hosted by ImageShack.us Maricas enrustidos

É incrível. Hal, Magic Numbers, Babyshambles, Kaiser Chiefs, Hard-Fi, The Bravery ? a proliferação de merdas esse ano foi algo. Comparando com os consistentes Killers, Franz Ferdinand e Kasabian, do ano passado, o negócio é interpretar esse ano como rescaldo de lixos que tentaram entrar na boa maré de 2004. Esqueça.
Hard-Fi: um retrato do horror. Alguma hora esse negócio de emular os 80 tinha de dar MUITO errado.


Imagina
Imagina a calmaria da praia ou do mar. Silêncio absoluto, tranqüilidade absurda. De repente, em menos de um minuto, irrompem tsunamis ou uma tempestade de areia. É mais ou menos como a pop "Via Chicago" na versão do álbum "Kicking Television", Wilco ao vivo, quando a bateria e a guitarra estraçalham o dedilhado de violão que Tweddy fazia. A platéia, abismada, só pôde aplaudir.

Lista quase fechada
Há apenas duas posições em aberto na minha lista de melhores dez discos do ano. O fato de NME, Q, Uncut e outras revistas terem colocado o Arcade Fire, cujo disco é da finaleeeeira de 2004, nas listas de 2005, até facilita as coisas. Aí fica um lugar só. Vou pensar como resolver isso.
A de merdas do ano também está disputadíssima.





Trilha sonora do post: Wilco, "Muzzle of bees" (ao vivo, fantástico como no estúdio). ]