Mox in the Sky with Diamonds

sexta-feira, março 04, 2005

A verdade sobre as drogas

Tive a idéia desse post depois de conversar com um amigo que mora perto da fronteira do litoral gaúcho com o de Santa Catarina. Contava-me que um gurizão qualquer foi pego com um pedra de maconha e foi preso, passou três meses na cadeia e, tudo indica, será condenado por tráfico.
O tratamento das drogas no Brasil, hoje, é de histeria. Se sustenta em lendas do tipo: traficantes distribuem balinhas de coca na frente dos colégios para criancinhas, as drogas deixam as pessoas muito loucas e estas cometem assaltos sob sua influência, todo mundo que se droga vira viciado, etc.
Não quero posar de apologista das drogas, mas mentiras são mentiras, não importa para qual fim se diga. Aliás, hoje é eticamente aceitável que cientistas, médicos e jornalistas digam mentiras sobre drogas, a pretexto de espantar o consumo. Para quem gosta de ser LIVRE e decidir com base nas SUAS CONVICÇÕES, e não de um empilhado de ladainhas moralizantes, é importante saber a verdade.
Primeiro, alguém aí já ouviu falar de UM caso de criança viciada, por ter recebido cocaína na saída do colégio? Por que precisariam disso, se tem pessoas procurando drogas a todo momento?
Segundo, 90% das pessoas que usam drogas não são viciadas. Duvido que, comparando estatística com o álcool, o índice seja maior. Usuários de maconha e drogas sintéticas geralmente não se tornam viciados. Alguns se tornam? Sim, mas em álcool e cigarro alguns também se tornam.
O mesmo serve para os casos de violência. A incidência de violência em razão do uso de bebidas é infinitamente maior que com o uso de drogas.
Não quero dizer que liberando as drogas o número de viciados não aumentaria, que o número de acidentes e crimes com efeito de drogas também não aumentaria (especialmente com cocaína, que deixa a pessoa agressiva), mas sim que a questão não pode ser satanizada. Do tipo, as drogas são o mal. As drogas são um mal, desse ponto de vista, como o álcool, o cigarro. Ou, de outro ponto de vista, como o carro (sim, proibindo a circulação de veículos também se reduziriam mortes). O mal para alguns, para outros não. A quem cabe decidir? A cada um, individualmente.
Sob o pretexto de combater o vício criou-se uma histeria social - transformando a criminalização das drogas em verdadeira luta contra o mal - quando a questão, na verdade, é de saúde pública, tanto quanto a AIDS e o câncer de mama. A histeria social tem condenado os traficantes a penas altíssimas (não que eles sejam cidadãos exemplares, mas geralmente o problema maior não é o tráfico, mas o crime organizado, o cerceamento da liberdade, os assassinatos, etc.) e, pior, tem condenado pessoas que simplesmente se utilizam das drogas como traficantes. Pior ainda: condena-se usuários por serem usuários. Lembram dos hereges na fogueira?
O usuário, se não é viciado, escolhe utilizar e, geralmente, não causa nenhum mal social. Que sociedade é essa que diz na Constituição que o ser humano é autônomo nas suas decisões e não lhe permite fazer o que quer com seu próprio corpo?
A descriminalização de drogas leves para o tráfico e total para o usuário, como ocorreu na Holanda e em Portugal, e a Inglaterra cada vez mais suaviza, é urgente, ou nossos sucessores vão nos ver como Santa Inquisição contra as drogas.


PS: Fico feliz que o Governo Lula começou a amenizar essa política tola, ineficaz e irracional, já que começou um programa federal de redução de danos.



Trilha sonora do post: Jeff Buckley, 'You & I'.