Mox in the Sky with Diamonds

quinta-feira, novembro 25, 2004

O Interlúdio no disco do KASABIAN
Poucas bandas hoje em dia usam esse recurso, que dá um certo toque "conceitual" ao disco. Me lembro de dois: "Fitter Happier", uma espécie de interlúdio do apocalipse do controle, de Ok Computer, do Radiohead (remete ao "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley), e um mais recente, o "Interlude" do excelente "Absolution", do Muse, lançado ano passado. O interlúdio do Kasabian é uma espécie de retomada progressiva pela geração eletrônica, uma espécie de misto entre um psy qualquer e os teclados de Vangelis na trilha sonora de Blade Runner. Bonito.

Pitacos sobre 'How to dismantle an atomic bomb', by U2
Às vezes as revistas especializadas viajam. A "volta ao rock" que Bono disse que iria acontecer não seria algo como um U2 influenciado pela dupla arrasa-quarteirão que "manda" no "novo rock" (pós-2000) - The Strokes/The White Stripes. Claro que não. Por que uma banda da dimensão do U2 - que pode ser chamada, tranqüilamente, de maior banda do mundo (embora não seja exatamente o que penso) - faria algo assim? O retorno ao rock que Bono disse é um retorno a um U2 mais remoto - cuja maior referência eu diria que é 'Still haven't found what I'm looking for'. Está ali. Guitarras etéreas, soladas em tons altos, boas letras e o vocal sempre sincero. O processo de desprendimento da virada eletrônica da década de 90, que começou (apenas começou) em 'All that you can't leave behind', continua, com direito a faixas com refrões pesados como 'Beautiful Day' (no anterior) e 'Vertigo' (nesse). É uma sonoridade nova para o U2, que é completada nos dois álbuns por baladas como 'New York' (no anterior) ou 'Sometimes you can't make it on your own' (nesse). Quem sabe não teremos mais guitarras pesadas no próximo? 'How to dismantle' aposta na fórmula mais clássica, mas parece ser um álbum de uma transição de estilo. Enfim, o U2 sempre se reinventa. E, cuidado, normalmente costuma estar 10 anos na frente. Por isso é sempre perigoso criticá-los.

Faixa-a-faixa, rapidinho:

1. 'Vertigo' - punk, pesada, The Edge estraçalha.
2. 'Miracle Drug' - clima 'Joshua Tree', melodia espetacular, The Edge estraçalha;
3. 'Sometimes you can't make it on your own' - balada bonitinha, The Edge estraçalha;
4. 'Love and Peace or else' - blues simples, The Edge estraçalha;
5. 'City of blinding lights' - muito engraçado, mas o riff é idêntico a uma música do The Killers, bandinha que a crítica derramou elogios. É óbvio que só pode ser coincidência, mas, para a crítica, se é o U2, é ruim, conservador. Se é o Killers, maravilhoso. Moral da história: a música é maravilhosa. Ah, e The Edge estraçalha.
6. 'All because of you' - riff bacana e pesado no início. Solo empolgante. De quem?
7. 'A man and a woman' - base legalzinho, aqui Bono aparece fazendo o que melhor faz: cantar sobre o amor. Um baixo espetacular no meio. Bonita pra caralho!
8. 'Crumbs from your table' - guitarra éterea solada, o riff lembra 'Where's the streets have no name', vocal conjunto Bono-The Edge. Ah, The Edge brinca.
9. 'One step closer' - clima introspectivo. Baladinha tranqüila e serena.
10. 'Original of the species' - 'I did everything you want/except the thing that you want'. Tá ligado? O Bono é especialista nessas coisas. Fazer frases que descrevem com perfeição simétrica. Balada de classe. Com guitarra etérea ao fundo.
11. 'Yahweh' - musiquinha discreta. Até o título é fraco. Tá bom: tem uma linha de guitarra bacana no refrão. E tem uma crescida afú que acompanha o vocal. Deve ser implicância.

Moral da história: sou dos que acham que o Bono Vox é Deus, mas o destaque do disco, como ele mesmo disse, é o The Edge.


Considerações sobre a retrospectiva (II)
- Agora, com o U2, posso dizer que os campeões, que ainda não vou dizer quem são, estão no nível da ponta de baixo do topfive 2003, 'Absolution', do Muse, e 'Fever to tell', do Yeah Yeah Yeahs. O que não é tanto demérito assim (são BAITA discos).
- Não dá para usar lançamentos de cinema dos EUA simplesmente porque não dá pra ver esses filmes. Como eu não sou adivinho e resenha não basta pra me convencer, o critério que vale é 2004 e pronto, azar se seja ou não de "safras de Oscar" diferentes. Portanto, 21 Gramas e Kill Bill, por exemplo, estão no mesmo saco.


Os Esquecidos!
- Sabem que, de um modo geral, o filme é bom? Normalmente concordo com a crítica, por afinidade de gosto, embora certas vezes me desencontre (esse filme, por exemplo, eu gostei e foi detonado; 'Lost in Translation', por outro lado, foi idolatrado e, embora esteja longe de ser um filme ruim, não gostei). O filme têm visivelmente cenas ESPETACULARES de susto, de deixar o Sr. Shyamalan com os pêlos arrepiados. Aquela batida... A 'sucção'.... Isso vale. Mas tem também falhas grotescas no roteiro, completamente incongruente. Quer saber? Cinema também é pipoca. Vai pro saco do "Eu, Robô", na retrô de 2004. Não falei mal, mas não digam que recomendei.

'Fitter, Happier' e o 'Admirável Mundo Novo'
Já pensaram sobre isso? Música e literatura. Vou escrever no próximo post. Esse já tá bem grandinho.

Trilha sonora do post: U2, 'City of blinding lights'.