Ninguém deu bola para o final da "Casa dos Artistas". A decadência é evidente.
Estava pensando sobre esses tais reality shows. Que são, ao mesmo tempo, pedagógicos e aterrorizantes.
O ponto positivo é que fica muito clara a estrutura de algumas espécies de relações humanas: a questão do jogo. Uma frase errada, um trago fora de hora, podem prejudicar a pessoa dentro desse jogo dramático que é a vida pós-moderna. Nesse ponto, BBB e vida real têm muito em comum. Só não enxerga quem quer.
O aterrorizante é que nos olhamos no espelho e aplaudimos. A sociedade patética, que valoriza hipocrisia, humildade e dissimulação, se olha no espelho e aprova. Tanto que, dos escolhidos até hoje, todos beiravam ao ridículo. Convenhamos, de todos os seres humanos do último BBB, qual você escolheria? Ninguém gostaria de ser como a que venceu e, contudo, no jogo hipócrita do politicamente correto, ela triunfou. Somos monstros que se olham no espelho e acham bonito (me lembrei de Índios, do Legião).
Não tenho os olhos de bode de um marxista, que critica a Globo por não valorizar programas educativos, "alienando" o povo. Minha crítica é nietzscheniana: são os fracos que triunfam, ou vão até o final, os medíocres. A sociedade se coloca no espelho e valoriza aquilo de tem de mais podre: quanto mais "cordeiro", melhor.
Uma lição de Zaratustra - o que importa
Uma vez Álvares de Azevedo escreveu algo como isso: "desde quando a águia, do alto do seu vôo, se importa com a víbora, que vomita inveja, e mais tarde serve de alimento?". Creio que isso define alguma coisa do que considero como verdadeira ética.
Cultura de Cordeiro
Essa moral podre que nos alimenta é que causa fenômenos incompreensíveis como o do povo votando em um candidato de extrema direita. Nenhum outro, mais que ele, se encarregará de manter o status quo. A bandeira da ordem passará ao primeiro plano, ordem essa que significa: pobreza, miséria, exploração, "segurança" (para quem?). Ou seja: vai continuar na merda que está, porque é um cordeiro manipulado pelo poder que aceita a sua condição subjugada.
Às vezes eu simplesmente fico cético com o ser humano.
Quem entendeu
Vai saber que quero mudanças sem ser paternalista. Nego-me a considerar "coitadinho" seja lá quem for, embora veja pessoas sem opções nessa sociedade cheia de moral de calça-curta, egoísmo, inveja, senso comum burro.
A todos os dias, por exemplo, leio cartas "indignadas" por desarmar-se o "cidadão de bem". O que revela, de certa forma, o quão de direita é a maioria de população. O que faz o ser humano ser tão preso a tradições, ainda que em estado de putrefação evidente?
Post vago, obscuro, indefinido e indignado.
Trilha sonora do post: Radiohead, "The Gloaming".