Mox in the Sky with Diamonds

segunda-feira, agosto 16, 2004

O Declínio do Império Americano
- Gostaria de ter anotado as minhas impressões sobre o filme enquanto estava vendo, porque acho que perdi muita coisa. É um filme de intelectuais, queira-se ou não. Mas é bem feito. E tem toda uma comicidade própria, na vida sexual ativíssima dos seus personagens.
- Ali fica bem claro com uma personagem como o niilismo é prejudicial à vida, e ai de quem diga que Nietzsche era niilista - ele era o exato oposto. A exaltação da vida na sua forma dionisíaca, a aceitação da tragédia, o abraço grato ao destino e suas forças incomensuráveis, um hedonismo inteligente , tudo isso é Nietzsche e é, por isso, o exato oposto daquilo que a personagem pregava na sua mágoa ressentida contra a vida. Nietzsche dizia ao ressentidos: se reclamas da vida, te livra dela logo, o mundo não perde nada sem ti.
- Tentamos Scarface, mas a cena da serra elétrica foi demais para a minha amada. Trocamos o filme. Fiquei para ver sozinho.

Fórmula de todos os filmes de romance americano adolescente

Dois personagens exatamente opostos (um popular e um antipopular) + uma razão qualquer (aposta, matéria em jornal, etc.) para um tentar conquistar o outro, que o odeia ou despreza + a conclusão do divergente de que o outro "é legal" + CLIMAX - os dois se juntam + por algum motivo ou mal-entendido se separam - ANTICLIMAX + tentam retomar a sua vida, mas não conseguem = no momento final, um se declara ao outro e resolvem se juntar.
Ô coisinha bonita! (Calma, Roxy, não bate em mim!).


Crimes Hediondos
- É só olhar no "Perfil" aí ao lado para saber que eu sou, definitivamente, um liberal. Sou contra a política de "endurecimento de penas", que não resolve nada, pune demasiadamente alguns inocentes e viola direitos humanos. No caso dos crimes hediondos, tem toda razão o STF em declarar inconstitucional a lei. Publiquei até um artigo jurídico sobre o tema. A questão é a seguinte: a lei entende que, independentemente da pessoa e do crime, quem comete os crimes ali definidos irá preso em regime integralmente fechado. Ou seja, não permite a readaptação gradual do condenado à vida social. Resultado: inúmeros "mulas", por exemplo, presos com pequenas quantidades de maconha ou cocaína, ficam às vezes 05 ou 06 anos presos, na "escola do crime". Saem estigmatizados e treinados para os crimes violentos.
- Tá, e vocês perguntam, e os caras que cometeram crimes atrozes? Bom, esses podem ficar em regime integralmente, se for o caso. É que, para progredir o regime, é preciso pedir ao juiz e provar que pode. É só o juiz indeferir e mandar ficar preso. O que a lei não permite é que se individualize a pena caso a caso, que é o correto. Ou seja, nivela pelo pior. Não segue o princípio constitucional da inocência - é melhor soltar culpados do que prender inocentes. Esse é princípio básico da política criminal - lembrem-se disso quando abrirem os jornais.

Topfive Clipes
- De brincadeira, assim, montei um topfive dos melhores clipes que vieram na minha cabeça:

5º - "Don't Cry", Guns 'n' Roses - sensacional, o clipe que me fez gostar de música. Os clipes do Guns eram sempre um espetáculo;

4º - "The Scientist", Coldplay - afora a música ser das mais belas composições que já vi, a técnica de reverter o fluxo do tempo no vídeo ficou sensacional;

3º - "No More Tears", Ozzy Osbourne - aquela morena gostosa se afundando nas próprias lágrimas enquanto Ozzy olha com aquela cara de demônio gritando "No more tears".....

2º - "Sabotage", Beastie Boys - todo mundo se inspirou nesse clipe, visual seriado americano dos anos 70, a música é furiosa e o cenário é supercriativo;

1º - "Crazy", Aerosmith - Liv Tyler e Alicia Silverstone fazendo o papel de duas colegiais louquinhas semi-lésbicas?... Não, não tem discussão. É o melhor e pronto.


O que anda na vitrola
- Fiquei devendo um monte de coisas, mas vai pelo menos alguns: Elastica é ducaralho, bandinha da época que surgiu o Oasis, início do estouro do britpop, mas com um tempero mais feminino, indie e tosco; Blondie, baixei um "Best of", é anos 80, mas... vá lá, "Heart of Glass" é bonitinha e a voz da mina é pra lá de sexy; graças ao amigo Scientist, grande pescador na "zona morta" do futebol de salão, andei ouvindo 12 Memories, disco contestadíssimo do Travis, que, contudo, achei bem melhor que o sem sal Invisible Band (que passa bem a sensação de "invisible" mesmo); e o Velvet Revolver, banda do pessoal do Guns e do ex-vocal do Stone Temple Pilots. Engraçado que, realmente, não soa como nenhum dos dois - me lembrou até os Vines em algumas músicas, por causa do vocal/gritêro. Por incrível que pareça, meu winchester só tem 10Gb, o que é torna insuficiente para baixar os novos e elogiados CDs do Libertines e do Hives, ambas bandinhas da era Strokes (por sinal, fiadasputas, não vão vir mais para o Brasil - eu ia!). Uma palavrinha em separado agora.
- Me impressionou com o trabalho do Marcelo D2. Sempre simpatizei com o Planet Hemp, não só pela coragem de combater a hipocrisia social com relação à maconha, como pelo próprio som, uma mistura de hardcore, rap e outras variações pesadas, sendo uma mescla de Rage Against the Machine com Beastie Boys brasuca. O trabalho solo do D2 não tem nada a ver com isso: é uma mistura inédita de samba e hip hop. O que torna o rap brasileiro chato? A excessiva pureza, a ausência de ritmo, a seriedade às vezes excessiva. Nos EUA, o melhor do hip hop é a mistura com R&B, com dance music, funk, disco ou outros ritmos. Por que D2 não é chato que nem os Racionais? Porque é samba, tem molejo, ginga, malandragem. As letras são inteligentes, suburbanas, naturais. O ritmo é suingado, dançante, brasileiro. Resgatou em Bezerra da Silva e Zeca Pagodinho toda malandragem do samba e pagode carioca e misturou com uma boa mixagem e atualidade do hip hop. D2, com esse disco, conseguiu ocupar na cena brasileira o lugar que o Outkast ocupa na cena internacional. E poderia estar taco a taco com ele, se o mundo fosse justo.


Grunge e Glam
Podem dizer o que quiser do grunge, mas a sua grande contribuição foi eliminar batons, purpurina e laquê do rock. A história das camisas de flanela era um absurdo: era a roupa típica de Seattle, só isso. É uma deturpação do ideal grunge ("come as you are") querer tratar as roupas como se fossem "parte do movimento". Não devemos confundir alhos com bugalhos.


Clichês do futebol
- Alguns clichês do mundo do futebol: a) time bom é time ofensivo. Basta aumentar o número de atacantes, tirar os "brucutus" do meio campo, que temos os melhores times. O detalhe é que eles sempre perdem. Por quê? Quem ganha são os times equilibrados, não os ofensivos; b) falta um articulador. Há pouco tempo, era o discurso de todos os times do Brasil. Será que não notaram que são poucos os articuladores? A solução não é contratar qualquer um para isso (chegou-se a contratar o Rico por isso, hehe), mas sim bolar um esquema que não precise de articulador (ou todos os times têm que ter seu Zidane); c) bola aérea é falha da defesa. O curioso é que quase 50% dos gols saem de bola aérea. Ou seja, não é difícil saber que bola aérea é uma boa jogada, e pronto. Todos os times fazem gols assim e todos sofrem. Chega de acabar com os zagueiros por isso, às vezes é simplesmente insistência e competência do ataque.


Alguns comentários imperdíveis ao post anterior
- "A pergunta que o seu "amigo" fez à menina é uma clássica obsevação de gente preconceituosa e hipócrita." - Fefenix (exatamente o que eu queria dizer!).
- "Por estarmos em 2004, calculava cá com meus poucos neurônios que isso não mais se propagasse no mundo... E o cara ainda perdeu a chance de fazer DUAS amigas, que poderiam fazê-lo MUITO feliz." - Mariano (sim, sim, nisso nós concordamos!).



Êpa, me passei, aquele abraço!



Trilha sonora do post: Placebo, "Commercial for Levi".