Mox in the Sky with Diamonds

quinta-feira, maio 24, 2007

O PODER DA CIÊNCIA – I

Demorei a entender o que quis dizer Michel Foucault com seus livros, especialmente quando se tratava do poder. Não porque não os tenha entendido: é que as leituras, até certa época, ainda não apanhava o "cerne" da questão.

Os foucaultianos, que depois de tornaram deleuzianos, lyotardianos, guattarianos, etc., enfim, todos vindos da mesma raiz [Nietzsche] e em direção ao mesmo lugar [estético], parecem ter confundido um pouco o significado mais cru do poder. A partir do deslocamento da "verdade do valor" para o "valor da verdade", nos passos de Nietzsche, Foucault parecia ter derrubado a ciência do seu bastião de "sabedoria máxima" e colocado-a entre as práticas do poder.

Num aprofundamento ainda maior, Lyotard foi quem deu gênero - no clássico "A Condição Pós-Moderna” – à crítica “interna” da ciência, que procurava mostrar locais movediços dentro das próprias “certezas” científicas, tirando o estatuto de “verdade” do conhecimento científico [já ouviu falar de fractais? Ou de física quântica?].

Com a profusão do marxismo – ainda muito forte naquela época – não se deixou de agregar mais um vetor: ciência enquanto ideologia, manipulação da “burguesia”.

A equação do “pós-modernismo” se formou assim: fissuras internas da ciência [relativização da verdade] + ciência como ideologia [Marx] do poder [Foucault] = pós-modernismo.

Contra essa equação, não tardaram a surgir críticos contundentes. Na filosofia analítica, foram muitos os que tentaram recuperar o sentido da “verdade” além de todo relativismo. E também os físicos Alan Sokal e Jean Bricmont não tardaram a publicar um livro em que mostram a inconsistência científica de muitos exemplos e metáforas de autores como Deleuze, Virilio e Baudrillard. Eles defendem uma idéia de verdade “forte”, que teria sido perdida no “relativismo” dos pós-modernistas e serviria como fundamento racional para a orientação da filosofia, da ética e das ciências.

Quem terá razão?

A meu ver, é a uma questão que já foi dissolvida [e não resolvida] há muito tempo.

Desde Heidegger, sabe-se que as dimensões da “subjetividade” e “objetividade” existem apenas enquanto possibilidades. Ou seja, a relação com o ente [coisa] se dá de uma forma em que tentar extrair sua “objetividade” significa, tão-somente, uma das possibilidades que existem naquela coisa mesma. O ente que eu olho, em síntese, sempre será visto pelos meus olhos “entre parênteses”, ou seja, de acordo com aquilo que eu vejo nele.

Os “pós-modernos” típicos, ao insistirem em esvaziar a noção de objetividade, dão um tiro no próprio pé, à medida que a sacralizam. “A ciência é relativa; isso significa que o mundo é relativo”. Ora, o efeito performativo dessa frase é que a ciência ganha ainda mais força do que tinha. Ao tentarem desmascarar a ciência a partir da própria ciência, os seus detratores antes a retroalimentam, na medida em que parecem concebê-la como a realidade.

Se atentarmos para o que disse Heidegger, contudo, vamos ver onde está o equívoco: a ciência é apenas uma das possibilidades, não a realidade mesma, que jamais vai esgotada nas descrições que fazemos, exatamente por essas descrições serem “nossas”. A grande fissura que provocou a filosofia heideggeriana – de forma definitiva – foi a separação entre razão e realidade. A realidade é ela própria, jamais se reduz aos meus esquemas mentais. Heidegger, posteriormente, irá propor uma nova descrição da realidade, mais "aberta", que ele chamará “ontologia fundamental”.

Foi exatamente a partir desse giro heideggeriano, que tem muitos antecedentes, ressalte-se, que eu comecei a entender o que quer dizer Foucault acerca do poder.

Foucault não quer dizer que o poder “fabrica” a verdade para nos disciplinar, como querem os pós-modernos. Se a realidade não se esgota nos nossos esquemas mentais, é preciso ver, primeiro, que o próprio ato de descrever a realidade é, por si só, um ato de quem habita um mundo e emite uma fala. Não existe pensamento solto no ar.

Segundo, se a realidade não se esgota nos nossos esquemas, a ciência será apenas um desses esquemas. Não o esquema. Os “pós-modernos” da equação, ao pretenderem tirar o valor da ciência pelo argumento “interno”, acabam por reafirmar, performativamente, que a ciência é “a” descrição. Com isso, dão munição para os analíticos “durões”. Bem melhor seríamos ver a ciência uma forma técnica de ver o mundo, que não é a única.

Unindo o primeiro ponto ao segundo temos o quê? Não há uma verdade, aquela defendida pela ciência, mas uma pluralidade de verdades. O problema tanto dos “pós-modernos” quanto dos analíticos “durões” é desbancar a epistemologia como filosofia primeira. É perceber que a realidade não se esgota na minha mente, ela é separada, exterior, não se deixa reduzir pelos meus esquemas. E que as categorias "sujeito" e "objetivo" representam um modo de ver a realidade, e não "o modo". Os “pós-modernos”, preocupados em desbancar a verdade do seu lugar santificado, acabam afirmando que “não há verdade”. Com isso, hipostasiam a vontade do sujeito e, ao final, terminamos perguntando se a realidade existe mesmo. De outro lado, os analíticos “durões” parecem se enfurnar em uma bolha lógica onde todas as decisões são epistemológicas, sem percebem que não existe uma equivalência, sequer simetria, entre razão e realidade.

Por isso, a noção de verdade pode permanecer, mas apenas enquanto plural. “A” verdade só pode existir em pensamento metafísico, aquele que coloca as idéias como se fossem coisas concretas. Enfim, aquele que acopla a realidade na razão.

Onde entra Foucault aqui? Ora, o que Foucault quis dizer é que, existindo várias verdades, o poder seleciona aquelas que mais convém. As redes de poder são se formando como redes de verdade, numa realidade que é mais rica que qualquer esquema teorético. Assim, o poder produz a verdade. O que interessou a Foucault, como pensador que já desacoplou razão e realidade, foram as condições que dão a um discurso o caráter de "verdade" em detrimento de outros que não são assim considerados. É precisamente nesse momento que entra a questão do poder, enquanto estruturante da verdade. Jamais como um ser sobrenatural que determina o que é e o que não é verdade.

É isso que é preciso saber para entender que a minha casa é, ao mesmo tempo, um amontoado de tijolos, uma porção de moléculas, uma forma de habitação em um mundo capitalismo e ainda meu lar. Um monte de verdades, empilhadas. Qual dessas convém mais?

No próximo post, vou tentar provar a minha tese com base no problema do aquecimento global.

segunda-feira, maio 21, 2007

A MÁSCARA


Por alguma razão desconhecida, estavámos eu e meu amigo F quando, diante de nós, surge uma espécie de máscara terrível, uma cara vermelha que, indubitavelmente, só podia ser de Satã. Havia chamas ao redor dela e palavras terríveis -- de como o nosso destino mortal seria o de sucumbir ao Inferno -- ecoavam daquela boca.
Meu amigo me olhou e disse que, há vários dias, aquilo vinha acontecendo. Satã o estava perseguindo. Estávamos jogados em uma espécie de perseguição implacável -- na verdade ELE estava sendo perseguido -- de um Satã que aparecia várias vezes e jogava maldições.
Sabe-se lá como, meu amigo descobriu algumas palavras totalmente nonsense [tipo "Vaca/Ovos/Arroz/Verme"] e, com essa fórmula mágica, fizemos o demônio desaparecer.
Passamos alguns minutos, depois do susto inicial, conversando sobre o que poderíamos fazer para escapar do diabo. Nesse ínterim, milhares de coisas aconteceram e, provavelmente, vi a máscara muito mais vezes. Estávamos em um hotel onde ela, seguidamente, vinha e voltava. Ela aparecia e nos ameçava, e parecia que tudo iria se despedaçar. Cara-a-cara com o demo.
Então, as palavras mágicas surgiam e nós, suspirando, conseguíamos escapar.
Curioso que, enquanto conversávamos mais uma vez sobre o que fazer, eu parei e disse:
- Pera aí, mas satã não existe.
- É, é claro - respondeu ele.
Foi quando, depois de ver mais de uma vez aquela imagem maldita que tinha fogo ao seu redor, nos ameaçava e jogava pragas, perdemos TOTALMENTE o medo. Me sentia com vontade de rir, do tipo de chegar para O PRÓPRIO DIABO: 'escuta, tchê, tu não existe; não PODE existir'.
Tudo ficou tranqüilo; e não sei por que raios aquela imagem cruel e sangrenta, aquela máscara do inferno, coberta de fogo e cheia de poder, virou uma mascarizinha de alguém que estava pregando uma peça no meu amigo F, uma máscara como outra qualquer, apesar de ter sido bem real antes de nos darmos conta.
Coisa de sonho.

sábado, maio 19, 2007

SERÁ?

Será que um dia farei poesia sobre Porto Alegre - uma saudosa Porto Alegre --, recheados de lembranças de uma época passada?
Será que um dia eu cruzarei os braços e começarei a admitir que as coisas são assim mesmo, que o melhor é deixar tudo do jeito que está?
Será que um dia poderei escrever meus livros com meu próprio sangue, experimentando a sensação de expor, em carne-viva, meus pensamentos até sua crueza máxima?
Será que o disco do Interpol que vem por aí esse ano vai ser tão bom quanto parece, uma espécie de "Turn on" 02?
Será que o próximo do Radiohead será outra porralouquice experimental, do estilo dos últimos?
Será que um dia Sileno não será mais sábio e a vida se tornará leve como uma pluma?
Será que as coisas vão ficar ainda piores?
Será que um dia ela chega?
Será que o Grêmio papa a Libertadores?
Será?
Trilha sonora do post: Interpol, "Evil".

quinta-feira, maio 17, 2007

TUDO ERRADO

Quando um governante se elege, os jornais se dedicam, durante pelo menos um mês, em ficar esperando quem vai e quem não vai se aliar a ele.
Paradoxalmente, castigam o Governante quando ele não consegue montar uma base ampla, chamando-o de fracasso político, e igualmente o criticam quando monta, chamando-o de vendedor de cargos.
Há partidos que vergonhosamente vivem como sanguessugas de cargos públicos. Aliás, qual não é?
A força de um Governo é avaliada pelo número de aliados no Poder Legislativo. O Governo vai bem politicamente se consegue aprovar todos os projetos. Se não consegue, cargos. Quando um projeto polêmico está em pauta, discute-se apenas se o Governo terá votos suficientes para aprová-lo.
A imprensa fala sobre a relação do Governante com ela própria como se a crítica partisse de lugar algum, ou seja, o jornalista diz, vagamente, que "o ___ [coloque o que quiser aqui] se relaciona mal com a imprensa", como se ele próprio não fosse imprensa. Quando __ discorda, ele "critica a imprensa" -- e dê-lhe chineladas dos colunistas.
Linhas, linhas e linhas para falar sobre 1 ponto percentual a mais ou a menos de PIB. 1.001 colunas para falar sobre 0,5% da taxa Selic.
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ESTÁ TUDO ERRADO.
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Primeiro, os políticos e a imprensa impuseram essa agenda política de que o Executivo deve formar uma base ampla. Isso não é necessário. No Brasil, o sistema é presidencialista. O Congresso é o Congresso e o Governo é o Governo. Isso é uma armadilha montada por um sistema podre que obriga os governos a cederem cargos aos partidos que vivem pendurados em cargos públicos. Uma das tantas raízes da corrupção generalizada.
Segundo, a imprensa tem que parar de falar de si mesma na terceira pessoa. Ela tem seus interesses, de imprensa. O governante TEM TODO direito de criticar o que quiser, sem que isso fira, nem de longe, a liberdade de imprensa. Ao contrário: faz parte do debate democrático e representa o exercício de outra liberdade, também fundamental: a de expressão. O governante pode e deve criticar o que considera absurdo, e não dá para continuar essa confusão entre crítica de idéias e censura.
Terceiro, é hora de a imprensa começar a discutir OS ASSUNTOS da lei proposta, e não apenas se o governo tem quórum para aprová-la. Como pudemos ter aprovado uma lei de biossegurança, tratando dos temas mais polêmicos do mundo atual, sem sequer o mínimo de discussão? Tudo que se discutiu é se o Governo teria votos para aprová-la, se o PMDB iria votar contra ou a favor, etc. É esse VAZIO absoluto de jornalismo político que faz com que o Congresso tenha se tornado o quintal do Executivo, mero ratificador, sem que se possa imaginar, por exemplo, que um projeto de lei discutido amplamente e produto da democracia possa ser aprovado sem que o Governo tenha que nomear o Zé do PX para o cargo de aspone da Curadoria de serviços da porra nenhuma.
Quarto, não é proibido falar, mas chega desse blá-blá-blá por causa de meio ponto de PIB - esse mantra infindável do "crescimento". O que interessa realmente são taxas de desemprego, nível de pobreza, etc. São esses índices -- vinculados diretamente com as PESSOAS -- que interessam, e não só o "risco-Brasil". Crescer dois pontos percentuais devastando o meio ambiente? Virou dogma.
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Governo(s), imprensa e oposição(ões) parecem enredados nessa confusão terrível. Todos escravos de uma agenda invisível e errada, que retroalimenta um círculo de corrupção infindável. Ou será que é o que estou pensando -- que os políticos não sabem o que discutir e a imprensa não entende de nada mesmo?
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Trilha sonora do post: Regina Spektor, "Apres Moi".

segunda-feira, maio 14, 2007

Welcome to the mainstream, Snow Patrol



Às vezes a gente acerta. Quando, no finalzinho de 2003, o Snow Patrol lançou seu petardo "Final Straw", que teve lançamento mundial apenas em 2004, este blogueiro imediatamente percebeu que aquele disco não iria ficar restrito aos guetos indies. Com fortes guitarras e clima lo-fi, "Final Straw" tinha algo nas suas melodias que tornava o Snow Patrol unanimidade, empilhando sucessivos acertos ao longo da audição. A verdade é que seu terceiro disco trazia, ao contrário dos dois antecessores, solenemente [e merecidamente] ignorados por público e crítica, algo de "pop" que nenhuma banda britânica, salvo o Coldplay, tinha trazido depois dos anos 2000.

Não é à-toa que, no final de 2004, "Final Straw" ganhou a medalha de ouro do Somepills. Sem perder originalidade e até certo peso, derivado de densas camadas de guitarras, o álbum era uma primorosa usina de canções pop. TODAS. Mas em especial "Run".

Quando ouvi "Eyes Open" (2006) pela primeira vez, senti a mesma verve e pulsão que do álbum anterior. Ligeiramente suavizado, o Snow Patrol mantinha um certo tempero lo-fi concedido por guitarras fortes, mas tinha fortíssimo apelo pop. As músicas estavam destinadas para serem sucessos.

E não deu outra. Não foi apenas na "Q" que li, em entrevista com o vocalista Gary Lightbody, que eles eram o grande sucesso britânico, e não os hypados Monkeys. É em todo lugar. "Open your eyes", segunda faixa do álbum, toca até em rádio de patricinha. O Snow Patrol alcançou, com uma pequena limada nas guitarras e tirada no pé do acelerador [o que constatei nesse final de semana, ao ouvir novamente "Final Straw", mais pesado e veloz], o mainstream no topo, ao lado de U2 e Coldplay, bandas que transcendem o domínio do rock.

É de rir, por isso, a frase que abre o artigo do Lúcio Ribeiro na folhateen de hoje sobre os Arctic Monkeys:

"Escrever sobre essa banda inglesa hoje, maio de 2007, dá a sensação de estar escrevendo sobre o U2."

O sucesso dos Monkeys, embora grande, é o sucesso dos Killers, do Franz Ferdinand, do Razorlight. Bandas que lotam shows no Reino Unido -- local onde se realmente gosta de rock -- mas tem apelo mediano no grande público, longe do que hoje é o Snow Patrol.
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Quer mais uma prova? Quem é a banda que fecha o maior blockbuster do ano -- Homem-Aranha 3? Arctic Monkeys? Ãh?
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Como o Coldplay, o Snow Patrol saiu de bandinha indie que abria para o Belle and Sebastian para o estrelato maior. É desses que dá gosto.




"Signal Fire", da trilha do Homem-Aranha 03.




"Run", do álbum "Final Straw".



"You're all I have", do álbum "Eyes Open".

sexta-feira, maio 11, 2007

TRÊS HISTÓRIAS BÁSICAS DO ROCK

Vou contar por aqui três histórias básicas e curiosas do rock, que a maioria das pessoas deve conhecer.



A primeira é do guitarrista da banda Manic Street Preachers, uma das tantas que nadou na onda do britpop, hoje respeitada e amada no Reino Unido. Os Manics já foram de tudo: punks, baladeiros e, hoje em dia, tocam um mix de hard rock oitocentista com rock alternativo [ou seja, um hard rock que não chega ao ponto da farofa].

Grandes fãs do Clash, os Manics traziam um estilo que misturava a aura punk com guitarras pesadas, no início dos anos 90, atacando bandas da época [fantásticas] como My Bloody Valentine e Slowdive. "You love us", single de estréia, mostra a combinação. Richey James, o guitarrista, influenciava muito a banda. Depois de três álbuns [Generation Terrorists, Gold Against Soul e The Holy Bible], Richey simplesmente, num dia do ano de 1995, SUMIU. Não se sabe exatamente se ele se matou ou não: apenas consta que, após deixar o hotel Embassy normalmente, foi encontrado seu carro perto de uma ponte. Até hoje não se sabe que fim levou Richey. Só se sabe que os Manics seguiram e estouraram afú.

Hoje, depois de ser uma das poucas bandas COMUNISTAS e terem tocado de tudo, os Manics nos despejaram o belo "Send away the tigers" (2007), discaço com as influências bizarras dos anos 80, mas que, tocados por uma banda cheia de história e alma, soa rock'n'roll até os ossos.






Manics com Richey, "From despair to where"


Manics atual, "Your love alone is not enough".



Outra história bem conhecida é de Jeff Buckley. Filho e desafeto do cantor Tim Buckley, Jeff lançou, em 1994, o mundialmente aclamado álbum "Grace". Dono de uma voz poderosa, Buckley ia no mesmo estilo dos grunges, exibindo seus timbres incríveis ao lado de guitarras indiscretas, com hinos como "So real", "Grace" ou "Last kiss goodbye". Suas influências, como as dos demais, foram The Who, Led Zeppelin e Hendrix. O cara foi inspiração de ninguém menos que o Radiohead, em "Fake Plastic Trees". Thom Yorke confessou que somente conseguiu finalizar a música após ouvi-lo.

Buckley foi também dado como desaparecido depois de ter mergulhado (!?) em um rio em Mississippi "para nadar" e nunca mais sido encontrado. Apenas restaram suas roupas e uma pilha de b-sides e gravações ao vivo que hoje recheiam sua fama. Uma semana depois, seu corpo foi encontrado e, segundo a polícia, tudo indica que NÃO foi suicídio. O cara só queria nadar mesmo. Confiram as PÉROLAS de Jeff nos clipes abaixo.









Se a morte de Jeff Buckley não foi intencional, seguramente este não é o caso de Elliott Smith. É curioso que, quando ouvi "From a basement on a hill" (2003) pela primeira vez, fiquei com a sensação CLARA que de AINDA não era a hora daquele som, mas que, seguramente, cedo ou tarde, ele iria me arrebatar.

E, hoje em dia, não consigo parar de ouvir esse maldito disco. Esse "singer/songwritter" americano violou todos os protocolos ao se matar a base de FACADAS, junkie maldito viciado em heroína e crack que nos privou das suas belas composições, na sua maioria acústicas inspiradas no rock sessentista. Seqüelado ao extremo, Smith, contudo, nos deixou um belo legado que chega a mais de 05 álbuns. Esse ano foi lançada uma compilação de b-sides, elogiadíssima pela crítica, de nome "New Moon". É parar e ouvir.






Impossível não se deixar contagiar por esses dois GRANDES e essa bela banda, todos do nascedouro dos anos 90, sensacional época da música que nos presenteou tudo isso.



Trilha sonora do post: Elliott Smith, "Let's get lost".

segunda-feira, maio 07, 2007

BRASIL NA CONTRAMÃO

Quando parece que finalmente as grandes potências mundiais -- à exceção da China, é claro -- parecem se conscientizar que, a continuar dessa forma, iremos destruir o mundo em menos de 100 anos, eis que parece que o Brasil paga o preço por ter atrasado sua democracia em pelo menos 20 anos.

O assunto crescimento econômico, que é o mantra repetido à exaustão como ÚNICO termômetro de medição da competência dos Governos, especialmente pela imprensa, empresariado e sindicatos, ofusca completamente o assunto ambiental no Brasil.
Não é por coincidência que acontece A MESMA COISA no Governo Federal e no Estadual, embora com partidos e tendências opostas: há um "foco de resistência" dentro dos próprios Governos, vinculado à área do meio ambiente, que vem sendo sufocado por tecnocratas com forte acento desenvolvimentista e que simplesmente não querem saber de ambiente.
Fico preocupado porque, em nível federal, correm boatos de exploração de petróleo no Acre [o link é esse, mas o colunista não é muito confiável; está permanentemente contrário ao Governo, o que tira um pouco sua credibilidade, mas não de todo], o que poderia causar danos ao ecossistema; Lula admitiu, ainda, utilizar e desenvolver energia nuclear; além das costumeiras e já públicas brigas entre as Ministras Dilma e Marina. Aquela, de viés marxista tradicional, parece carregar a bandeira do industrialismo alucinado.
O mais preocupante é que no RS, com o partido de oposição no poder, com uma Governadora completamente anti-lula, ocorre exatamente o mesmo. Recentemente, surgiu um termo de ajustamento de conduta assinado pela Secretário do Meio Ambiente com o Ministério Público e, surpresa, eis que cai a Secretária. Os mesmos tecnocratas, na matriz ideológica inversa, cujo nascedouro é o mesmo.
O pior foi a forma de abordagem: falou-se apenas dos 4 bilhões que o Estado perderia de investimentos. Não tenho condições de opinar se era ou não viável ambientalmente; certamente, há problemas, do contrário não estariam os dois órgãos do Estado mais envolvidos com meio ambiente [Executivo e MP] a cuidar do problema. A cobertura, contudo, foi monolítica: só se enfatizava o obstáculo ao "crescimento" do Estado.
Quando França e Alemanha elegem Governos de direita e, mesmo assim, aceitam o tema do aquecimento global; quando os EUA, mesmo sendo devastadores do ambiente, começam, de baixo para cima, a reagir; enfim, quando o tema finalmente entra na agenda global, estamos atrasados a ponto de ignorá-lo! Queremos estar ao lado da China com seu crescimento compulsivo e devastador?
É verdade que a Europa já alcançou um grau de desenvolvimento social capaz de entrar nesse tipo de discussão. Mas é também verdade que as lições de quem chegou lá podem nos impedir de cometer os mesmos erros. Justiça social? Sim. Mas sem devastação do meio ambiente. De que adianta alcançar boas condições de vida agora se, daqui a três gerações, o planeta irá sumir?
É necessário voltar a perceber a Terra enquanto oikos, nossa casa - Gaia. A natureza, tal como a concebeu Francis Bacon, era um território a ser explorado e dominado pelo homem, que seria o seu senhor. Vontade de domínio levada ao extremo pela ciência e pela técnica, até chegarmos ao estado de desequilíbrio em que estamos. É nessa matriz epistemológica que foram construídas nossas ideologias políticas -- frutos do Iluminismo, tanto o marxismo quanto o liberalismo vêm da mesma raiz -- na qual a natureza era uma escrava a nosso dispor. Hoje, testemunhamos o fracasso. É por isso que os Governos Lula e Yeda, embora com atores e matrizes totalmente distintas, se encontram nesse ponto: é lá, no nascedouro das concepções modernas, com Descartes e Bacon, que se inaugurou essa idéia de trazer "felicidade" ao homem mediante domínio da natureza.
O que mais me preocupa é a ausência total de vozes a denunciar isso: nem mesmo a imprensa, que pode ser independente, tem vozes que saiam do tom monolítico do crescimento. Como se o Brasil não tivesse a imensa responsabilidade de carregar o pulmão do mundo [Amazônia], responsabilidade que ele não pode renunciar, além de uma biodiversidade incrível que todos nós sabemos que o nosso país dispõe.
Desse jeito, aquele discurso irônico e bem articulado de Cristovam Buarque -- que todos gostamos, à época -- acerca da internacionalização da Amazônia, vai ficar cômico, senão trágico.
Ou reagimos, ou seremos soterrados por um crescimento com data para acabar.
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Trilha sonora do post: Fields, "The Death".

sexta-feira, maio 04, 2007

DEZ MÚSICAS IMPERDÍVEIS DE 2007


10. The Cinematics, "Break".





Uns quatro posts abaixo está o clipe do Youtube, onde dá para conferior o vigor dançante dessa banda que bebe no pós-punk britânico e no revival atual, especialmente as influências óbvias de Interpol e Editors. Mas "Break" flui delícia, bela canção.

9. LCD Soundsystem, "All my Friends".

James Murphy é o cara mais amado do cenário indie atual. O cara que lançou o Rapture e semeou toda cena electro em Nova York, repetida no "new rave" britânico, lançou seu poderosíssimo "Sound of Silver", aclamado pela crítica mundial, e despejou esse maravilhoso hino com pitadas de minimal techno. A música ganhou até cover do Franz Ferdinand [no myspace do LCD dá pra ouvir!].

8. Arcade Fire, "Intervention".

Uma canção difícil da difícil banda canadense, que, como todas as outras, vai se apossando epicamente da tua mente até grudar que nem super bonder, num embalo eletrizante que se mostra irresistível.

7. Wilco, "Impossible Germany".

O melhor solo de guitarra do ano. Precisa mais?

6. Grinderman, "No Pussy Blues".




Universalmente definida como "um chute na sua bunda". Rock culhudo.


5. The Good, The Bad & The Queen, "Herculean".

Sensacional canção que traz toda psicodelia do TGTBTQ recalchutada em guitarras espectrais e vocal pop de Damon Albarn.

4. Black Rebel Motorcycle Club, "Cold wind".

"Baby 81", apesar de não ter sido espinafrado pela crítica, não é o bicho. Inconstante, extenso, ligeiramente cansativo. Mas tem singles que funcionam que é uma beleza. "Cold wind" é o BRMC na sua melhor forma: sombrio, melancólico, pesado e contagiante.

3. Manic Street Preachers, "Underdogs".

Guitarras limpas, riff encorpado e um vocal perfeito. Agressiva, mas pop. ROCK, enfim. This song is for the freaks.

2. The Shins, "Phantom Limb".





O mais delicioso POP DE QUALIDADE do ano. Byrds, Beach Boys e Beatles -- a inspiração é clara das bandas que fazem o mais delicioso pop com base em perfeitas harmonias vocais. Preciosa, não canso de ouvir. Pra comer mulher.

1. Arctic Monkeys, "Fluorescent Adolescent".

Blah, blah, blah. Antes que me acusem, digo que continuo com o mesmo conceito sobre os Monkeys: banda boa, mas que não tem nada de espetacular e é inferior a Strokes, Franz ou Libertines, pra ficar em três da mesma geração. Mas "Fluorescent Adolescent" é simplesmente o riff MAIS SAFADO do ano, simplesmente colante e exigente de 100000000 reproduções por segundo na tua mente.




MENÇÃO HONROSA: Battles, "Atlas" - A COISA MAIS ESTRANHA surgida nos últimos anos, dançante e artê, cabeçuda e básica, totalmente exótica.