Mox in the Sky with Diamonds

sexta-feira, abril 28, 2006


Anatomia de um sonho
Mercury Rev, "The Deserter's songs" (1998).

O sonho é um tema que percorre a história da arte. Podemos lembrar dos românticos, como Novalis e Calderón de la Barca, de Shakespeare, Kafka, Rimbaud, Baudrillard, Mallarmé ou, mais recentemente, de Lennon. Outros domínios também se aventuraram por aí e - mais de que todos - foi a psicologia com Freud que explorou o universo onírico como nunca antes fora explorado.

Todos esses artistas pretenderam borrar as fronteiras entre o onírico e o real, ampliando os limites da nossa fria razão. Ampliando nossas percepções, escapamos da realidade nua e crua, excessivamente dolorosa aos olhos de quem realmente pretende vê-la.

Ao ouvir "The Deserter's Songs", da banda Mercury Rev, a intersecção entre sonho e música definitivamente se consolidou. O disco foi lançado em 1998. Um dos integrantes, Dave Fridmann, é também produtor do Flaming Lips, banda com a qual eles se assemelham (alguns até falam de "bandas gêmeas"), mas, enquanto o Lips nos jogam numa atmosfera de psicodelia e LSD, o Mercury Rev nos estabelece no mundo dos sonhos.

"Deserter's" é um disco conceitual. Um disco em que as músicas estão amarradas, visivelmente há uma intenção de que seja tomado como uma coisa só, algo esplendidamente pretensioso, mas que foi capaz de nos trazer obras como "Sgt. Peppers", "Ok Computer" ou "The Dark Side". E a jornada é bem sucedida.

Assim como o Spiritualized, o Mercury Rev carrega o rótulo de "dream pop". Mas, como nunca, esse rótulo combina com o som. Porque, ao mesmo tempo em que a leveza das melodias e o vocal suave trazem uma dose pop, tudo parece se passar em uma outra dimensão, onde experimentalismo e os teclados etéreos nos transportam. Ao ouvir "Deserter's", me senti numa espécie de limbo, entre as nuvens, onde a brancura e pureza predominam. Há momentos tensos, como explosões de pesadelos, tensões, mas tudo se passa em outra dimensão. Definitivamente, eles pertencem a outro mundo.

"Holes", "Tonite it shows" e "Endlessly" pertencem ao mundo dos sonhos calmos, tranqüilizantes, viagens em nuvens brancas. Diferentes instrumentos como saxofones, sintetizadores, corais, violinos e flautas se alternam em um experimentalismo discreto, agradável, sutil. O vocal é doce e suave, além de natural. O som oscila grandiosamente, de um pop até elementos de valsa, como se entre anjos estivéssemos. Tudo é paz. Planamos sobre o horizonte. Voamos pelo nosso inconsciente, nas costas dos anjos.

"I collected coins" é um interlúdio mágico, lúdico, que conecta a atmosfera dos sonhos com "Opus 40", esta ligeiramente parece menos onírica que as demais, embora a melodia seja igualmente doce, mas menos "pura". Em outras palavras: rock. Aqui, parece que os anjos nos deixaram aterrizar. Paramos para conversar com as nossas ilusões. Os mesmos elementos combinados de forma diversa, com refrão mais forte, mas primando absolutamente pela harmonia. Um pacífico assovio nos demonstra a tranqüilidade do experimentalismo do Mercury Rev, levado sem qualquer sensação de desconforto ao ouvinte. Aí, como eu disse, está o "pop". Um saxofone em "Hudson Line" é o destaque, conduzindo a melodia na mesma calmaria, com direito a alguns solinhos de guitarra. Lembrem-se, ainda estamos sonhando, mas pousamos.

Mas nem sempre o onírico é pacífico. Em "The Happy End (The Drunk Room)" somos jogados em uma espécie de prisão tensa, aterrorizante, um quarto caustrofóbico onde as paredes se movem, o ar se comprime, tudo fica sufocante. O "País das Maravilhas" na sua faceta terrível. Um piano barroco repete as mesmas notas como se fosse uma metralhadora.

E, depois do inferno, conseguimos fugir para mais uma música agradável, mas aqui mais recheada. Voamos, pousamos, fomos sufocados e, agora, nada mais é branco. "Goddess on a highway" é cinza. Nem branco, nem preto. Guitarras e teclados brincam e temos um clima que lembra "Ok Computer", onde gélidas harmonias desembocam em agudos prolongados, especialmente por timbres altos de guitarras tocados de forma agressiva.

E então, a melhor. "The Funny Bird" é robótica, o vocal se despedaça em efeitos, a melodia começa pop, porém aos poucos vai engordando, até desembocar em fúria no refrão. Aqui, definitivamente, a guitarra é a protagonista. O som cresce e se torna até agressivo, em um solo pedalado que traduz gritos por todos os lados. "The Funny Bird" é psicodelia onírica. LSD mergulhado no sonho. Tudo parece estar despedaçado e sem sentido, não há mais unidade, tudo parece fragmento. Jogados em um local espacial, desconhecido, cheio de explosões e harmonia, contraditório, fragmentado, instável.

Depois da tempestade, uma nova dimensão. Me lembro de "2001: Uma Odisséia no Espaço", quando o viajante passa por um série de locais estranhos para desembocar naquela sala, solitário, um local tranqüilo mas inóspito, com uma aura indecifrável de mistério. Talvez nessa mesma sala caia a viajante das canções do deserto, em "Pick up if your there". Um teclado triste, um canto agoniado de uma máquina, robótico, desta vez mais parecido com o belo "Kid A" (2000). Um grito perdido das máquinas. Que termina em uma narração de fundo, parecendo vir da nossa própria mente, bem interna.

Depois, a dança. Tantas viagens diferentes, o branco, o negro, o cinza, a tempestade, a máquina e, no final, a celebração dionisíaca. Aqui, em "Delta Sun Bottleneck Stomp" finalmente o experimentalismo do Mercury Rev se propõe a criar uma melodia mais alegre, celebratória, dionisíaca. Deus finalmente dança. Aqui temos uma certo parentesco com a música eletrônica, especialmente Moby e sua freguesia. Ainda uma homenagem, creio eu, aos Doors, cantando o vocalista "Hello, hello, hellooooo", ao sabor do rock eletrônico.

A música se interrompe aos 3min40 e retorna, completamente distinta, aos 4min20, onde tudo parece uma brincadeira de Tom e Jerry. Ouçam e me digam se entendem. Mais um arranjo clássico, repetindo estruturas já antes exploradas pela banda, para brincar de gato e rato com nossos ouvidos. E "Rag Tag", silêncio.

Depois do disco, acordar: tristeza.

terça-feira, abril 25, 2006

O auge do egocentrismo

Finalmente eu descobri que cheguei ao máximo do egocentrismo. Descobri quando, ao conversar com um bom amigo que tenho pouco contato, comecei a filosofar sobre a bosta da vida de solteiro e ele, imediatamente, me respondeu: eu sei o que tu pensa. Quer dizer, ele andou lendo isso aqui.

Que importa a vocês a minha vida? É muita imbecilidade da minha parte achar que é interessante para os outros lerem a minha rotina. Aliás, eu mesmo não gosto de ler textos que se aprofundem demais na pessoalidade, especialmente quando se trata de blogs, locais que começaram assim e hoje - finalmente - já ganham o contorno que eu sempre tentei dar ao meu: uma espécie de website movediço, sobre assuntos gerais, e não um tedioso diário.

Pior: por que EU tenho que falar da minha vida aqui? Pra quê me expor assim? Bom, isso só a terapia dirá, embora eu esteja um pouco sem vontade de voltar para a terapia.

Mais: realmente eu ando instável. É um saco isso. Como vcs sabem, adoro hipérboles. Então não se assustem. Ficção e realidade se entrecruzam, o importante é o choque do texto, que é mais terapia que pensamento. O restante é com vocês.

Leão

Há algumas semanas, escrevi por aqui que Leão, apesar de arrogante e truculento, é um bom treinador. Hoje, ele caiu.
Isso se deve, fundamentalmente, à transformação do círculo "virtuoso" em círculo "vicioso". Num momento, os jogadores acreditam no treinador e cumprem à risca suas ordens, o que faz com que a equipe renda mais, se o técnico não for nenhum abostardo. Entretanto, em momentos de crise, esse círculo tem conteúdo inverso: os jogadores deixam de acreditar, deixam de cumprir e o técnico reclama deles, pedindo reforços. Com isso, todas as tendências se invertem e o time cai.

Entretanto, uma coisa tem que ser consignada: a torcida do Palmeiras é a mais burra do Brasil, disparado. É a única que reclama SEMPRE de TODOS os treinadores que passam, inclusive Luiz Felipe Scolari. Em 2001, se não me engano, o Palmeiras era líder do campeonato com Celso Roth (péssimo) e a torcida vaiava todas as partidas. Resultado? O Palmeiras foi caindo, caindo até não se classificar. A torcida verde QUER o insucesso. É uma legião de burros.

Brasil pós-Richthofen

A imprensa redescobriu uma das suas vocações mais antigas: fazer inimigos públicos. Depois do caso Richtenhofen, onde foi decretada ridiculamente sua prisão preventiva [por ter mentido no Fantástico (!!!)], surgem aos montes casos bizarros nos jornais e na tevê.

O tempo passa, mas o homem não muda. Continua adorando seus bodes expiatórios.

Moralismo

A quantidade de besteiras escritas pela imprensa diante da crise política está começando a se transformar em uma biblioteca. Dizem que o STF tem que julgar rápido, que Márcio Thomaz Bastos deve ser responsabilizado, etc.
É impressionante como a boa intenção de certos articulistas em defender a ética na coisa pública não leva em consideração as circunstâncias políticas e jurídicas que envolvem os episódios. Um Ministro da Justiça não pode simplesmente denunciar o Colega da Fazenda sem ter certeza disso, sem antes ter feito uma investigação. É normal que ministros se encontrem, aconselhem, auxiliem. Como seria diferente? Uma semana é "lentidão" apenas nos padrões de tempo real da imprensa. Um articulista da Folha disse que, "se estivéssemos em um país civilizado", o Ministro da Fazenda já teria sido demitido --- e isso foi no dia da quebra do sigilo. Meu Deus! Essa exigência patética equivale a dizer que, se eu chegar na casa de um amigo e ele estiver violando uma conta bancária, eu teria obrigação de ligar para a polícia e dedurá-lo. Posso ter ido à casa dele para tomar uma cerveja, mas teria que o denunciar. Sabem o que é isso? Inquisição.
Um processo criminal não leva --- ainda bem --- quatro meses para ser julgado. Há razões para isso. Mas será que alguém quer ouvir?

Não estou só

Posso ser maluco, mas estou bem acompanhado.
Também o inteligente filósofo
Renato Janine Ribeiro defende uma espécie de "concertación" entre PT e PSDB, isolando o "atraso" do outro lado, entre as alternativas que ele vê como solução para a crise política.

Responsabilidade Política

A responsabilidade política é uma categoria nebulosa, evidentemente pela própria natureza da situação a que ela se refere. Mas uma coisa é fato: nossa democracia é representativa, logo, o poder é do povo, o mandatário o exerce em nome do povo.
No momento em que as condições políticas não se manifestam mais, o mandatário deve cair. O poder é provisório, senão não estamos falando de democracia. Não existe "direito adquirido" de Parlamentar, tampouco "presunção de inocência". O que existem são fatores reais de poder que interferem, ou não, na sua legitimidade. Tomem Lula e Dirceu como exemplo. As provas contra os dois são as mesmas: nenhuma. Mas o segundo não teve condições políticas de prosseguir, a pressão dos fatores reais de poder foi forte demais. Já Lula sobreviveu e bem à crise. Isso não tem nada a ver com inocência ou culpa --- é uma questão puramente política.

Já a responsabilidade jurídica (civil, administrativa, criminal) é outra coisa.



Trilha sonora do post: Grandaddy, "So you'll aim towards the sky" (linda).

sábado, abril 22, 2006


O paradoxo da tragédia cotidiana

Nietzsche, meu grande e único mestre, costumava dizer que o platonismo substituiu a dimensão trágica da vida por um ideal metafísico, uma ilusão de que esse mundo seria "falso" (ou de aparências) e a Verdade estaria em outro mundo --- o das idéias (ou, simplesmente, real). O mestre via nisso um sintoma terrível de decadência, uma amargura dos fracos e fracassados, que, ressentidos e invejosos, espancavam e censuravam esse mundo por não serem suficientemente fortes para agüentá-lo. Os fortes, segundo ele, seriam aqueles que suportariam o destino em todas as suas faces ("amor fati"), dizendo um sim irrestrito à tragicidade da vida.
Dor e prazer, por isso, seriam duas faces da mesma moeda --- numa das passagens da sua obra, certamente a mais bela e profunda frase que já li na vida, ele diz que "Para que exista a alegria eterna da criação, para que a vontade de viver se afirme eternamente por si mesma, é necessário também que existam as dores do parto. A palavra Dionísio significa tudo isso".
Nietzsche foi, por isso, o mais profundo de todos os pensadores.
Mas como ser forte o bastante para suportar a tragédia da nossa vida?
De minha parte, já abandonei todas as coisas que me vinculavam, de alguma forma, a idéias metafísicas. Deus, Amor, Verdade. Meu romantismo se esvaeceu aos poucos, numa espécie de desidratação contínua, até desembocar em um ceticismo total que deixa algumas pessoas pasmas. Meu desprendimento de tudo às vezes dói no estômago de alguns, a falta de planos e
projetos que permitem prender meus pés no chão e deixar as pessoas dizerem "ele é isso".
Nietzsche me ensinou a reler a inscrição do oráculo de Delfos que ficou famosa na boca de Sócrates: "conhece-te a ti mesmo". O mestre diz que, antes que "conhece", "torna-te" um ti mesmo. Por isso, meu único projeto, hoje em dia, é tornar-me um espírito livre.
Mas eu ia falar de relacionamentos. Ia dizer que, assim como falei no último post, a vida de solteiro é um lixo. Mas, detalhe: a vida a dois também é. Ser solteiro implica não ter companhia contínua, afeto permanente, passar por momentos de carência e solidão, rastejar aos pés de
quem não merece. Porém viver a dois também tem seus problemas: a própria alteridade é um problema. Viver com o outro significa, primeiro, ser "fiador", depois agüentar suas idiossincrasias, suportar suas pressões e depressões, abrir mão da liberdade.
Hoje eu reformularia Sartre: o inferno não é os outros. O inferno é os outros e nós mesmos. Sozinho, inferno. Acompanhado, inferno. O paradoxo da tragédia cotidiana é que, sozinhos ou acompanhados, o dizer sim à vida é sempre dor e prazer.
Trilha sonora do post: Velvet Underground, "Sweet Jane".

quarta-feira, abril 19, 2006

Que furada, hein, Bush!
O fenômeno Bush, que quintuplicou o anti-americanismo no Brasil e em outros países, e é tão criticado que, hoje em dia, já se suspeita dos seus críticos, conseguiu criar um problema insolúvel para si. Depois de começar uma guerra no Afeganistão atrás de um terrorista que não foi pego, ir contra toda opinião pública mundial e contra até a ONU ao entrar no Iraque, finalmente vem à tona a existência de material nucluear - só que não é na Iraque, mas no Irã. Bush conseguiu a façanha de fazer os xiitas [precisa dizer mais?] assumirem o controle do Iraque e, provavelmente, quando acabar a intervenção militar haverá uma aliança entre os dois países. Aí sim, a pretensa ameaça estará presente, exatamente quando as tropas americanas irão embora. E o que faremos? Não será legítima uma intervenção militar no Irã, para proteger os ocidentais do Governo Messiânico e fundamentalista dos islâmicos, que deterão poder nuclear? Como Bush vai se justificar?

Dionísio
Ouço um monte de lamentos das pessoas que gostariam de viver mais, aproveitar mais, blah, blah, blah.
Conselho: parem de ouvir o Morrissey e VIVAM, então. Mas depois agüentem o tranco. Viver o excesso é sempre tormentoso: acordar com a cabeça doendo, depois de ter falado um monte de merda na noite, feito cagadas e enchido o saco de meio mundo é sempre um risco.
Sejam autênticos o suficiente para agüentar.

Solteiro? Merda
A vida de solteiro é uma BOSTA. Tá, é bom ser livre, não dar explicações para ninguém, poder fazer o projeto de vida que bem entender, poder fazer uma loucurinha de vez em quando, pegar alguém inesperada, de repente, e não precisar explicar, etc. Mas, de regra, é uma bosta. A solidão é uma grande merda que corrói nossa auto-estima. A falta de afeto permanente nos deixa mais fracos e vulneráveis, e acabamos rastejando por quem não merece. Especialmente quando estamos bêbados.

Brasileirada por cima
O Metacritic, já falei dele aqui, faz a média ponderada de resenhas musicais. E olha só que curioso, o primeiro lugar até agora é "Tropicalia: a Brazilian Revolution in Sound", ou seja, uma coletânea dos tropicalistas. E, em quinto lugar, o Tom Zé, com seu álbum "Estudando o Pagode"!

segunda-feira, abril 17, 2006

O que ler na Internet?
Tentei escrever um outro post, mas achei-o demasiado monótono, uma soma de assuntos pouco interessantes. Então resolvi apresentar os sites que leio na Internet, para quem já não os lê. São boas leituras para a telinha que não exigem grande atenção.
* Filosofia - O Portal da Filosofia, assim como os blogs do seu editor, Paulo Ghiraldelli Jr., são muito interessantes, especialmente por abordarem a filosofia americana, ênfase em Rorty e Davidson. Também o CríticanaRede é interessante --- o editor, Desidério Murcho, embora também dê ênfase para a filosofia americana, vai pelo outro lado, Searle, Blackburn ---, vale a pena conferir alguns bons artigos. A Enciclopédia Stanford é bem boa também.
* Política - O UOL é o melhor. A Folha possui um bom quadro de colunistas, com destaque para o pessimista-ácido Clóvis Rossi, colunas semanais de Mangabeira Unger e os colunistas que entram no jogo interno de Brasília, como a Eliane Cantanhede e Kennedy Alencar. Em alguns pontos, a crítica é exagerada e moralista [ex., Márcio Thomaz Bastos e "dança da pizza"], mas de modo geral é um jornal equilibrado, com leve inclinação anti-petista. Vinícius Motta e Fernando Rodrigues são exemplo de uma excessiva rebeldia e moralismo, aderindo a uma espécie de discurso "políticos lá, eu aqui". O cronista mais brilhante da Internet escreve gratuitamente na Folha Online, é o Hélio Schwartsman, que escreve às quintas-feiras. É um dos poucos liberais de esquerda na imprensa brasileira. De vez quando, extrai-se uma coluna boa no sintético espaço de Gilberto Dimmenstein, que se foca mais em educação e urbanidade, e também escreve na Folha Online.
Em segundo lugar, o excelente site NoMínimo, que aborda temas variados, de sexo a música, passando por política, cinema e dia-a-dia. Recomendo Ricardo Setti, que ultimamente anda mais fraco nas colunas, Sérgio Bermudes, Ricardo Kotscho e Xico Vargas. Mas, sobretudo, os dois melhores colunistas são o editor Tutty Vasquez, extremamente bem humorado nas suas alfinetadas diárias, e Pedro Dória, que foi quem "lançou" a Bruna Surfistinha, na sua coluna bem boa sobre sexo. Ainda tem Carla Rodrigues, que resenha lançamentos de livros [de verdade, não do Paulo Coelho ou Dan Brown].
O Terra traz notícias, e só. De colunismo, é pobre. ZH também é fraca, mas Rozane de Oliveira é uma colunista razoável.
* Cinema - teria vários para falar, mas o melhor site de cinema, sem dúvida, é o Cinemaemcena, que conta com um excelente colunista, Pablo Villaça. Concordo com 90% das críticas dele, são equilibradas entre conteúdo e técnica, em linguagem simples e lógica, e agradáveis de ler. O Omelete também fala de cinema, além de assuntos gerais. É um site "clean", bem organizado e variado, mas um pouco superficial. Ricardo Calil é um colunista do NoMínimo sobre o tema, e escreve bem, embora eu nem sempre concorde com suas análises [ex., Crash]. Um bom Google também tem sua validade.
E, por fim, o maior site de cinema do mundo --- o IMDB (Internet Movie Data Base) --- que contém dados de todos os filmes que já vi. É completo.
* Música - são vários. Os meus dois preferidos são o Gordurama e o Scream & Yell. O primeiro tem críticas ácidas e bem pessoais, mas os seus editores são bem humorados e informados, transitam entre vários estilos musicais e tentam imprimir um certo conteúdo auto-referencial nas resenhas, tornando-as mais agradáveis. Mesmo quando não se concorda, a leitura é divertida. O S&Y é bem amplo, fala também de cinema, e tem resenhas equilibradas principalmente pelo seu editor, Marcelo Costa. Além deles, tem o Abacaxi Atômico, que tem algumas coisas legais e outras bem palhas, o DyingDays [bem completo e informativo] e, claro, o Plugitin, onde este que vos fala tem sua coluna também. Por esses sites, já dá para tirar um termômetro do que se fala de rock no Brasil. Ah, e tem o Lúcio Ribeiro, da Folha Online, onde tu pega uma metralhadora de bandas e passa pela peneira umas duas ou três. Minha suspeita é que a ouvida de Lúcio de cada CD não deve durar mais que quinze minutos. Mais dois: Álvaro Pereira Jr., da Folha Teen, eu não gosto muito, geralmente não concordo; Arthur Dapieve, do NoMínimo, é excelente.
Lá fora, visito mais a Pitchfork, com suas resenhas ácidas e perfeccionistas, e a NME, que embora faça crítica baba-ovo tem boas informações, e sobretudo a "Bíblia" www.allmusic.com, um verdadeiro mapa de todos os lados da músicas. O AllMusic centraliza praticamente tudo que se queira saber sobre música, especialmente o rock, no meu caso. Gosto de algumas comunidades no Orkut sobre música, especialmente e Brit e a Yankee Rock Comunnity. Tem também o Metacritic, que faz uma média ponderada de todas as notas dadas por diversas revistas.
Não vou escrever sobre blogs, porque posso injustiçar alguém. Alguns que ando lendo são bem bons, tipo Cuidado! Tinta Fresca, Síncope, Cem Anos de Solidão, Tem Rímel nos meus óculos, o "abandonado" Ignorance is bliss e outros. Os links estão aí do lado.
* Futebol - gosto, além do Terra, que compila quase todos os jornais internacionais, do As e Marca. O coluna do Tostão, da Folha de São Paulo, é a melhor do Brasil. Rodrigo Bueno e Juca Kfouri também mandam bem na Folha. Wianey Carlet e Luiz Zini Pires, da ZH, são boas leituras. David Coimbra também. O Prof. Ostermann, embora seja meu comentarista favorito, é um pouco dispersivo na sua coluna, e isso a torna um pouco entediante.
* Outros - Contardo Calligaris, sensacional psicanalista que escreve na Folha, Fernando Gabeira [também Folha] e Juremir Machado da Silva [Correio do Povo]. O site ÚltimaInstância às vezes tem artigos bem bons.
Bom, era isso, espero ter ajudado a enriquecer as suas leituras. Me recomendem também as de vocês.
Trilha sonora do post: Wilco, "Theologians".

sexta-feira, abril 14, 2006

Crise institucional?

Uma das características da imprensa brasileira atual é o seu constante pessimismo. A todo momento procurando corrupção, crise e desentendimentos, hoje em dia, só não ver quem quer, segue a pauta ditada pela oposição [a colocação do Ministro Márcio Thomaz Bastos na berlinda é prova disso. Quem quiser acusá-lo leia isso aqui; um relato verossímel, e diga se ele cometeu algum ilícito --- antes pelo contrário]. E se pronuncia, a todo momento, uma tal crise institucional.
Pois eu digo exatamente o oposto. Provavelmente as instituições brasileiras nunca estiveram tão fortalecidas como no momento. É verdade que o Congresso desapontou com a absolvição de vários mensaleiros, mas vem investigando com liberdade o Poder Executivo, criou quantas CPIs quis, funciona livremente e o pior Presidente da sua história simplesmente caiu, irresistível num quadro de democracia madura. A queda de Severino Cavalcanti foi fruto, a rigor, muito mais de uma pressão social e da imprensa em torno de um ignorante oriundo das piores tradições políticas nacionais [cabresto], do que propriamente pela tentativa de suborno de que foi acusado. A democracia madura brasileira não suportou Severino.
No Poder Executivo, vimos o Primeiro-Ministro cair, em face da acusação de suborno de Parlamento, por pura responsabilidade política. Terminou cassado. O Ministro mais forte de todos, o da Fazenda, foi derrubado por um cidadão comum, com a acusação --- que só ocorre em um Estado de Direito --- que um direito individual seu foi quebrado. A Polícia Federal nunca teve tanta liberdade investigatória, independência para trabalhar. Hoje desmonta organizações criminosas de colarinho branco como nunca fez. O Ministério Público, que não pertence ao Executivo, mas tem seu Chefe indicado pelo Presidente, deixou de ser "engavetadoria" e passou a atuar com rigor, como vimos essa semana ao denunciar [a meu ver, até excessivamente] vários do primeiro escalão. O Bolsa-Família, que muitos chamam de assistencialista, é uma medida universal e impessoal, de transferência de renda em uma economia globalizada que não dá conta da demanda de empregos, e se não funcionasse --- como apregoam alguns, sem mostrar qualquer dado --- Lula não estaria na frente das pesquisas.
A imprensa é absolutamente livre. Critica o Governo como quer. Assume a pauta da oposição. Até neofascistas como Enéas e Heloísa Helena têm espaço para diálogo na democracia nacional. Há pouco tempo, tivemos oportunidade de votar --- equivocadamente, a meu ver --- sobre o direito de ter armas, contra todo pressão das empresas lobbistas. Temos um Ministro da Cultura que admitiu fumar maconha há pouco tempo. O Exército --- embora volta e meia apareça com declarações estapafúrdias e absurdas --- é imediatamente calado pelo alto escalão e pelos articulistas políticos. Dialogamos livremente com os mais diversos países do mundo, e a estabilidade institucional do Brasil é falada no mundo inteiro. Não há um jornal --- mesmo os extremamente conservadores --- que não diferencie Lula e Bachelet dos demais esquerdistas latino-americanos, vários dos quais caudilhos autoritários.
Por fim, o Supremo Tribunal Federal finalmente se posiciona como Corte Constitucional, fazendo valer as garantias individuais perante abusos do Poder Público. Começa a avançar a jurisprudência [garantia de defesa no processo administrativo, garantia do silêncio, progressão de regime nos crimes hediondos, em breve, quem sabe, vedação de prisão para apelar] em decisões que são mal-interpretadas pela imprensa como proteção de interesses, mas juridicamente são inatacáveis. Falta à imprensa, aliás, uma maturidade constitucional para entender o porquê das decisões do STF, que até então vinha sendo omisso na democracia brasileira.
Enfim, por todos os lados vejo avanços na consolidação institucional brasileira. Até os episódios mais espúrios --- como a absolvição de João Paulo Cunha --- mereceram críticas pela imprensa em geral e colaboram para a revolta de vários integrantes do Congresso, que, pouco a pouco, vão conseguindo forças para tocar pra frente a reforma política.
Aos tropeços, a democracia brasileira avança.
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HYPÔMETRO SOMEPILLS
O hypômetro somepills fala das bandas que venho ouvindo e estou com uma impressão positiva. Não trata de opiniões definitivas, isso será para outras seções, que mais além apresentarei. E diria, sem pestanejar, que nenhum disco esse ano [olha a heresia, mas enfim...] me tocou mais que "Ten Silver Drops", o novo do Secret Machines.
É simplesmente MONUMENTAL. A resenha já está escrita --- e vai publicada em www.plugitin.com.br --- mas o site está sofrendo problemas técnicos, por isso consultem nos próximos dias.
É Muito Chato
Cara, é muito chato esse blogspot.com. É só botar uma imagem que fica assim, sem espaço entre as linhas. Que merda.

Ah, me irritei. Tchau.

Trilha sonora do post: Snow Patrol, "You could be happy".

sexta-feira, abril 07, 2006


O inacreditável poder das aranhas
"Quando um inseto pousa em sua teia, a viúva-negra é avisada pelas vibrações dos fios. Ela corre e envolve sua vítima numa rede espessa de fios antes de aferroá-la com suas quelíceras, pinças ocas que injetam o veneno. Após o acasalamento, a fêmea devora o macho. O casulo onde os ovos são depositados é maior que o corpo da aranha. Dele saem dezenas de filhotes."


As aranhas não são insetos. São aracnídeos. A aranha-fêmea tem prevalência sobre a aranha-macho. Utiliza-o para reprodução e depois o descarta. Atrai-o pelo instinto e, depois, mantém sua hegemonia, destruindo seu companheiro. O ardil atrai o macho e, trazendo-o para seu local de abate, faz a destruição suceder o prazer.
O mundo está cheio de mulheres. No nosso caso, por aqui, há até mais que homens. Hoje estava almoçando e, na mesa ao lado, conquanto fosse apenas o meio dia de sexta, um homem de uns 35/40 anos dividia a mesa com uma guria de uns 16-20 (e poucos) anos [é mais difícil identificar idade nas mulheres]. O garçom, discretamente, pergunta a ele se quer mais um chopp. Ele dá de ombros, pergunta a ela. Ela diz sim, "mais um por favor".
Não é preciso ter experiência para saber o que estava acontecendo. Mas fiquei pensando: pôrra, por que essa mina precisa ficar com esse cara? Simples: poucas opções.


Esse texto é bem circular, então, paciência, prezados leitores.

No sábado passado, ao sair, fiquei indignado. Não agüento mais ter que encaixar a palavra certa na hora certa para ter uma resposta incerta na noite, onde as mulheres reinam soberanas, na sua beleza estupenda e incrível poder de sensualidade. Odeio essa obrigação de ter que acertar de primeira, de não ter possibilidade de conversar mais, de ser mais um. Naquele momento, o desequilíbrio de poder entre homem e mulher é imenso --- e, por mais marrento que seja o magrão, todos que eu conheci até hoje têm suas dificuldades com essa soberania.
Mas, assim como as aranhas, as mulheres criaram uma arapuca infalível para atrair os machos. Quando ficamos solteiros, saímos correndo atrás delas na noite, e, com o poder da carne que elas dispõe sobre nós, ficamos escravos da rotina dos bares e boates. Estamos a todo dia rastejando e pedindo um pouco de cheiro, sabor e curvas femininas. Como aranhas, elas saem na noite, escolhem sua presa e a devoram.
A armadilha da mulher [atenção, aqui tudo se liga], portanto, é deslocar o eixo da conquista, tecendo sua teia na noite e fazendo com que, nós, machos, que somos minoria e, por isso, poderíamos ter o poder, sejamos seus escravos, rastejando noite-a-noite por momentos de prazer. Da nossa hegemonia no dia, passamos à servidão da noite. E não apenas voluntariamente: acreditamos, realmente, na nossa felicidade.
Com sua inacreditável capacidade estratégica, a mulher consegue virar o jogo, fazendo nós, solteiros, acreditarmos que somos felizes porque podemos sair na noite livremente. Atraídos para a sua teia.


Nós, os devorados.

Trabalho: exercício diário de mortificação
O trabalho é, basicamente, um exercício de mortificação gradual. A escravidão pela rotina tem dois efeitos: ou serializa, ou enlouquece. Os que se adaptam sucumbem (ou simplesmente são) a mediocridade cotidiana, transformando a burocracia num fim em si mesmo, prazeroso, retumbante. Os outros, mais criativos, sentem-se esmagados por uma pressão insondável, um tédio mastodonte, como se estivem em uma jaula. Sentem, aos poucos, sua subjetividade sendo esmagada pela burocracia e repetição. Têm ódio mortal de tudo, porque sua identidade aos poucos vai morrendo. Seus traços criativos, sua inteligência, os lampejos mágicos e a felicidade cotidiana aos poucos vão sendo substituídos pelo mau humor, revolta, tédio, desespero, cansaço, tristeza.

O princípio do trabalho é a universalização das tarefas: todas as atividades têm que ser acessíveis a todos. Logo, o padrão adotado terá que ser o do mais burro. Se todos devem executar as tarefas, elas devem ser o mais simples e fáceis possíveis. Isso massacra a inteligência, destrói a criatividade, impede o exercício da inventividade, que é exatamente a virtude daquele que pode pensar por si mesmo. O padrão do trabalho é o padrão da racionalidade e, como tal, impede de avançarmos nas nossas intuições, emoções e desejos. O trabalho é o inferno do artista e do filósofo. Todo aquele que enxerga o mundo para além do que é imposto é, gradualmente, mortificado por uma rotina estupidamente serializante.

Trilha sonora do post: The Verve, "She's a superstar".