Mox in the Sky with Diamonds

quinta-feira, março 30, 2006

O Fiador
O grande problema de assumir um relacionamento é que passamos à condição de fiador do outro.
Quando namoramos com alguém, passamos a ser co-responsáveis pelo seu ato. A pessoa com quem ficamos passa a ser responsabilidade nossa. Temos que justificar suas ações. Tudo que essa pessoa faz nos diz respeito, porque ela se torna uma espécie de extensão de nós mesmos. Não é mais possível desvincular seus atos dos nossos. Se algo estoura, estoura para os dois. Não existe desvinculação, falar dela é como falar de ti. Porque, para todos os efeitos, essa pessoa é a melhor do mundo --- do contrário, como justificar toda dedicação, carinho, paixão, fidelidade? Ao assumirmos uma relação, assumimos também o outro como parte de nós mesmos. Nos tornamos fiadores.
Se tivéssemos levado os hippies de San Francisco mais a sério, talvez pudéssemos pensar diferente. Mas, hoje, eles perderam; e nós perdemos também.

Dias Contados
Não acredito mais em romantismo. Simplesmente não acredito mais.
E acho que o mais angustiante de tudo é saber que, ao conhecer uma pessoa com quem tenhas a esperança de amor eterno, deverias saber que cada momento deve ser aproveitado ao máximo --- pois tudo é dias contados.
Os dias contados não são só da nossa vida. São, também, das nossas paixões. Ao conhecer uma pessoa interessante, ao se apaixonar, a única certeza que podes ter é que essa paixão terá seus dias contados. E, um dia, irá terminar. A relação um dia irá terminar.
Assim, a grande angústia da relação amorosa é a mesma grande angústia da vida --- a certeza de que, a qualquer dia, ela poderá acabar.
Trilha sonora do post: Neva Dinova, "A Picture in a Pocket".

segunda-feira, março 27, 2006

Medo de Palocci
Inocente ou não, Antônio Palocci não deveria ter medo de deixar o Planalto pelas razões que a imprensa vem noticiando, ou seja, pelo medo de algum juiz de primeiro grau decrete sua prisão preventiva por irregularidades nas "República de Ribeirão". A prisão preventiva há tempos é usada como "narcótico" social, onde brilham os holofotes de quem pede e decreta e o réu é condenado sumariamente. Que justificativa teríamos para prender, de imediato, o Ministro Antônio Palocci? Nenhuma. Inocente ou não, merece ser processado em liberdade, como deveria ser em um verdadeiro Estado de Direito.

O STF cada vez melhor
Curiosamente, quanto mais o STF melhora, mais ele é criticado. Antigamente, quando poucas ou nenhuma linha era dedicada pela imprensa ao Tribunal, seus Ministros (deveriam ser chamados de juízes, e não ministros) limitavam-se a confirmações burocráticas de decisões - administrativas ou judiciais - dando força zero à Constituição. Agora, com a nova formação, o STF finalmente começa a fazer valer as garantias individuais, dentre elas o direito ao silêncio e a garantia do foco nas investigações de CPI. A propalada "crise institucional" não existe: o que existe é, sim, um Supremo que finalmente resolveu exercer as suas atribuições e, por isso, incomoda.
Aliás, a quantidade de bobagens ditas por gente séria sobre o STF está começando a virar oceânica: entre elas, a idéia de que ele seria "responsável" pelas investigações, que "deveria investigar", etc, etc. A função do Supremo é puramente negativa: é o Ministério Público, as CPIs e a Polícia que devem investigar. O Supremo é o fiador dos direitos individuais contra abusos nessas investigações.

E....
Bom para rir é o programa ensaiado pelo PSOL, PSTU e PCO, típico de gente "de esquerda" que vive em outro mundo. A Venezuela como exemplo de democracia? Me poupem.

Dois bons técnicos e o efeito circular
Pessoalmente, eu detesto Leão. Nunca vi uma pessoa tão antipática, arrogante, cheia de si. Chega a doer os olhos ver suas entrevistas repletas de empáfia e arrogância. Entretanto, tenho que admitir: os seus sucessos, hoje em dia, o tornam um técnico credenciado, capaz de mobilizar grupos e fazer valer suas determinações.
Uma das explicações para isso é o "efeito circular" que gera o técnico bem sucedido: a partir dos seus sucessos, ele conquista a confiança dos jogadores e consegue que eles executem em campo o que ele determina. Ao fazerem isso, o time ganha consistência tática e os resultados vêm. É um efeito circular, que depende da capacidade do treinador inspirar confiança nos jogadores.
Leão ia bem no Palmeiras, especialmente no campeonato paulista, até se deparar com uma pedra no sapato: Luxemburgo, que consegue o mesmo, e é melhor.

Mancini e Cicinho
Parreira sempre disse que não convocava Mancini para a seleção por ele ser ala, e não lateral, muito embora estivesse arrebentando na Roma. E Mancini continua marcando gols, até hoje.
O que Parreira não explica é que, mesmo sendo tão ofensivo quanto Mancini, Cicinho se tornou o reserva de Cafú.
Giros internéticos
Dêem uma olhada nisso aqui (clica no aqui, pôrra). Muito engraçado.
Sobre os Beatles, muito legal. Leiam aqui.
A Dança do... ser humano
Nunca defendi mensaleiro e continuo criticando o PT por todos os seus erros. Outra coisa é o desvairio que se instalou contra a deputada Angela Guadagnin por ela ter comemorado, com uma dança, a absolvição de um colega. Ora, nos dói tanto saber que, por baixo da fantasia de deputado, estão apenas seres humanos?
Se o colega e amigo dela foi absolvido, nada mais natural e catártico do que dança --- mesmo Nietzsche que acreditaria em Deus, desde que Ele dançasse. Não gosto de execrações públicas: elas prosperar desde sempre e, freqüentemente, são irresistivelmente injustas. Que o digam Sócrates, Jesus, Giordano Bruno e outros que morreram em praça pública, para o gozo dos moralistas.
Uma pequena crítica à Academia....
O pós-estruturalismo francês, que lentamente invade as universidades brasileiras, já é discutido nos EUA há mais de dez anos, e hoje em dia ele vai perdendo força pelo seu maior defeito: o niilismo político. A incapacidade de formar arranjos institucionais sólidos torna a corrente de Deleuze, Foucault, Derrida, Virilio e Baudrillard uma espécie de crítica ultra-utópica, incapaz de tocar a realidade. Aqui, é possível ver isso em professores que defendem o voto nulo, como se compromisso algum tivéssemos com a construção da democracia no Brasil.
Novidades de Madrid
Fernando Martín anunciou (vejam aqui) que há sete treinadores na mira do Madrid: Mourinho (Chelsea), Capello (Juventus), Ancelotti (Milan), Wenger (Arsenal), Eriksson (Inglaterra), Lippi (Itália) e Benitez (Liverpool).
Boas novas para los "aficcionados". São, talvez, os sete melhores técnicos da Europa, faltando apenas Luiz Felipe Scolari na lista. Ao contrário de seu antecessor, Florentino Perez, Martín aposta agora em treinador de perfil centralizador. Desses, o mais fraco é Eriksson, e creio que seja o favorito. Já Lippi, sem dúvida, não é boa opção. Mourinho (impossível), Capello e Benitez seriam as melhores opções. E recomendaria que o grande vencedor Fernando Hierro compusesse a comissão técnica, como auxiliar.
Pílulas musicais
- Nunca vi uma definição de adaptar tão bem a uma banda quanto a de "dream pop" se adapta ao Mercury Rev. As músicas te jogam numa atmosfera absolutamente onírica.
- Arctic Monkeys é legal, por incrível que pareça. A maldita "I bet you look good on the dance floor" simplesmente grudou na minha mente e, no trago do sábado [o único dos últimos tempos, para o meu sofrimento] ficou me martelando no sono. Uma cruza entre a estilo dançante e "zap" do Franz Ferdinand com muito tempero The Libertines, que é a maior influência. Curiosidade, pelo jeito nem eles gostam de Babyshambles.
- Flaming Lips é bom pacas.
- Jogue uma camada de noise (camadas de guitarras amplificadas e microfonia) sobre o rock anos 50 mais comportado [não falo de Chuck Berry, mas de Everly Brothers] e, por vezes, surf music estilo Beach Boys, e temos a criatividade do Raveonettes, bandinha malditamente instigante, em "Chain Gang of Love". Acho legais essas colagens.
- The String Quartet, um quarteto de violinos, tocando Ok Computer e Kid A é demais pra mim. É demais. Fones de ouvido te colocam próximos do céu. Aliás, um dia inventarei um novo ramo de estudos culturais, onde a música não será tomada como mera seqüência de letras, mas nas suas próprias implicações instrumentais como construtoras de novas subjetividades. Estudos sinestésicos, posso até chamar. Kid A, por exemplo, é a invenção da subjetividade robótica. Outra hora desenvolvo isso melhor.
Crash
Quem diz que Crash é rasteiro e superficial simplesmente não entendeu o filme, ou não quis entender. Isso acontece, por exemplo, com o ótimo Ricardo Calil, do NoMínimo (www.ibest.com). Já o Pablo Villaça (www.cinemaemcena.com.br) é praticamente infalível.
Trilha sonora do post: Mercury Rev, "Nite and frog".

quarta-feira, março 22, 2006



Yeah Yeah Yeahs e Flaming Lips
Yeah Yeah Yeahs lançam seu segundo disco, "Show me your bones". Primeira impressão? Estranho. O conceito de "Fever to tell", primeiro disco do trio de New York era, basicamente, saturar as guitarras até os nossos limites sonoros, com uma bateria pauleira e a vocalista cantando como uma cadela no cio. Basicamente, coisa para mentes doentias. Obviamente, eu gostei. Agora, no entanto, o trio parece ter seguido um caminho diferente, mais ou menos na linha do The Breeders, banda de Kim Deal (Pixies), com dois pés cravados na distorção indie, mas um pouco mais melódica e "carinhosa" em relação ao seu primeiro álbum.
Os Flaming Lips mandam um disco bala, que já vazou antes de ser lançado, mas ainda não tenho muitas conclusões. Só posso dizer que, ouvindo bem agora "Yoshimi battles the pink robots" (2002), estou simplesmente viciado. O som é alterado em relação à duplinha Transmitions/Clouds, que ganhou um post há um tempo nesse blog, de uma distorção psicodélica em guitarras rasgadas passou a um apuro melódico maior, um pop desenhado em psicotrópicos. Fico devendo comentário sobre "At war with the mistics".
Meu tempo se foi
Meu tempo está sendo basicamente consumido pelo Mestrado. Não bastasse isso, tive um mês de março de trabalho absurdo, por duas pessoas, praticamente amassado pelos processos que me rodeavam. Agora dou uma descansada, ouvindo o ótimo Mercury Rev, de um texto de Habermas. Ontem fui a um churrasco e, podre de cansado, acabei ficando bêbado demais e incapaz para sair na noite. Sinto falta imensa da boêmia, da cerveja, dos amigos. Mas é questão de prioridade: um aninho, pelo menos, de sacrifício. No restante, os acontecimentos andam meio parados: salvo um ou outro telefonema.
Coisa chata
Não acompanhei o BBB desse ano, e nem me arrependo. Mas, se há uma coisa que me irrita, é a mania das pessoas querem dar o título para uma "pessoa que precisa", ou seja, alguém pobre. Ora, se é um jogo, deve vencer o melhor. Quem quer ajudar os pobres comece votando em políticos preocupados com o problema, apoie iniciativas que tentem corrigir a desigualdade, luta para efetivação dos direitos humanos. Votar no "pobre" do BBB, normalmente uma figura medíocre, é apenas reafirmar nossa hipocrisia e amor pela fraqueza.
Ok
É verdade que o Lula está em campanha desde o início desse ano, pelo menos. Mas e Alckmin? E Serra? E Garotinho? E Rigotto? Todos ocupam cargos públicos e se utilizam do poder para divulgarem sua candidatura, da mesma forma que o Presidente. No jogo podre da política brasileira, apenas o otário deixa de fazer o errado, mas todos são hipócritas.
E, falando ainda em política, me parece a coisa mais óbvia do mundo que o caseiro Francenildo foi pago pela oposição para dizer o que está dizendo, nunca vi uma insinuação tão clara de corrupção não ser tratada como "leviandade" --- e parece meio óbvio o porquê. Nisso tudo, foi de uma burrice monumental a quebra do seu sigilo, que apenas desviou o foco das investigações. Uma estratégia bem montada poderia ter desmascarado --- e desmoralizado --- o PFL, que finalmente mostra suas garras de partido que sustentou a Ditadura Militar e teve nos seus quadros Hildebrando Pascoal.
Onde está a alma?
Partindo o cérebro em pedaços, o que resta da alma? Corte um pedaço do seu cérebro e você corta, sim, um pedaço da sua alma. Ou seja, as relações mentais são puramente físicas, porém temos que descrevê-las com outro vocabulário, o do mental, porque há processo reflexivo, que age com auxílio da memória, e nos permite pensar sobre nós mesmos. A isso as pessoas normalmente nomeiam "alma" e consideram a "diferença" do ser humano em relação aos outros animais.
Blogspot
É incrível, mas esse blogspot não gosta de mim. Não sei por que raios toda vez que insiro uma figura ele fica todo desconfigurado. Shit.
Post meio sem inspiração.
Trilha sonora do post: Mercury Rev, "A Drop in Time".

segunda-feira, março 20, 2006

Não somos mais kierkegaardianos
(atenção: spoiler de Match Point, de Woody Allen)

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Johansson, a mais linda do cinema atual

O filósofo Soren Kierkegaard foi o principal inspirador da obra-prima "Crime e Castigo", de Fiodor Dostoievski, em que o grande personagem Raskolnikov comete o crime perfeito --- pretende assassinar uma velha exploradora "imprestável" e acaba matando também uma outra mulher, mas consegue omitir todas as evidências --- e, posteriormente, acaba se arrependendo e se entregando à Polícia, indicando onde escondeu as provas, pois nada podia ser provado contra ele.
Kierkegaard acredita na existência em três estágios: o estético, que é o nosso normal, onde prevalece a lógica hedonista; o moral, em que a pessoa se volta para o cumprimento das regras morais/sociais; e, como último, o religioso, em que nos desprenderíamos de todas as vinculações com o mundo e nos dedicaríamos totalmente à vida religiosa. Kierkegaard era, antes de tudo, coerente: para ele, se acreditamos realmente no cristianismo, nossa vida não pode ser levada da forma que é.
O grande russo faz, em seu livro, uma espécie de desenho do personagem kierkegaardiano. Raskolnikov livra-se de todas as suas vinculações e entrega-se, numa expiação voluntária e voltada para o sacrifício.
Match Point, por isso, é uma ironia de Woody Allen ao personagem de Dostoievski. Ao contrário de Raskolnikov, o protagonista é, todo momento, um hedonista, e não hesita em se aproveitar dos prazeres da vida mesmo indo contra seus princípios e desejos. Ao casar com uma ricaça que, visivelmente, não é apaixonado, ele ganha luxo e dinheiro. Mas ele precisava, também, da carne feminina, e então foi buscar na bela Scarllet Johansson os prazeres da luxúria.
Antes de tudo um pecador, o personagem de Allen também comete o crime perfeito, mas a resposta do Diretor é diversa da de Dostoievski: aqui é o cinismo e o hedonismo que prevalecem.
A ruína dos nossos valores morais e, sobretudo, religiosos? Sem dúvida. Match Point é, antes de tudo, um filme que zomba dos princípios, um tratado de cinismo pós-moderno. Por isso, um ótimo e surpreendente filme.
Ainda sobre a mente
Quando me referi aos fisicalistas, não confundir com os materialistas do século XIX. Prossigo a discussão.
Não é possível falar de uma realidade imaterial onde teríamos, quem sabe, nossos espíritos, sonhos e pensamentos flutuando? A menos que caíamos nessa armadilha platônica, somente é possível falar de "mente" como algo material, quer dizer, nosso cérebro. Portanto, são os elementos químicos que estão ali dentro que determinam o que sentimos, pensamos, falamos.
Isso não significa que não possamos falar de psiqué. Nossas relações mentais, contudo, são meras descrições lingüísticas daquilo que o físico faz, sem que signifiquem um funcionamento independente. Donald Davidson diz, nessa linha, que todos os fenômenos mentais são físicos, mas é impossível reduzir as leis psicológicas a descrições físicas. Uma ambigüidade terrível, que faz com Davidson seja uma leitura terrível e, ao mesmo tempo, instigante. A mim, cada vez fica mais claro isso.
A crítica é ruim?
Com todas as restrições do mundo, pretendo votar em Olívio Dutra para governador. No entanto, não concordo mais com esse hábito petista, que já compartilhei, de defender todas as posturas do partido. É equivocado e diria, inclusive, que estamos pior por causa disso. É preciso que sejamos o tempo inteiro críticos, seja com quem for, pois só assim avançamos e podemos construir algo novo. Ou será que alguém ainda acredita em "socialismo democrático" por aqui?
Implicações de Davidson
Outras questões que põe Davidson é que todo conhecimento é obtido intersubjetivamente, mediante um processo que denomina "triangulação". Nada se dá de forma "solipsista", quer dizer, com o sujeito apreendendo e dando o nome à coisa. Ao contrário, não existe uma tal "linguagem privada", um diálogo mental com o si-mesmo, mas sim uma interação social que nos ajuda a construir o conhecimento. Imaginem o golpe que se dá na distinção sujeito/objeto, relativismo/essencialismo.
Outra questão é que, para Davidson, não existe algo como a linguagem. Assim como Rorty, Davidson não distingue a língua do tamanduá das nossas palavras. Ambas são apenas meios de adaptação, e não a linguagem como uma revelação da "verdade" ou "essência" das coisas. Somos, assim, apenas bípedes sem penas.
E, pensando nisso, cheguei a duas conclusões: primeira, que é impossível falar em evolução. Como provar que somos melhores que os tubarões? Porque temos a técnica? Ora, achar que isso seria uma evolução para os tubarões é puro nonsense; são seres aquáticos perfeitamente adaptados ao seu meio. Qualquer comparação com outro bicho será puro nonsense. Sentimentos e inteligência são apenas nomes, e é bem provável que os animais também os tenham. Segunda, no limite, não haverá distinção entre nós e a IA. Se somos fisicalistas, não existe nenhuma essência (alma) que nos diferencie deles --- ainda mais se seguirmos Matrix e vermos que "sentimentos são apenas palavras". Diremos que os robôs não são reais? Mas...what's real?
Novos textos
No Plug it in! vocês podem acompanhar minhas últimas resenhas --- Secret Machines e Richard Ashcroft.
Autocrítica (?)
Ao contrário do que havia prometido, meus posts não têm ganho tom intimista e tenho pouca coisa para contar por aqui. Pouca coisa interessante acontecendo; e os bons momentos são impublicáveis.
Moro na tristeza
Morada estranha --- me separo e junto.
Mas aqui é meu habitat.
Locus de orgulho e excesso.
Cansado.
Doce esteira onde caminho.
Por caminhos de pedras metafísicas.
Vales de insuficiência seca.
O ar etéreo de uma estação neutra.
Onde céu, mar e sol se tocam.
Numa conjunção
onde se encontram tempo e espaço.
Estou em um portal
Para um infinito para além do infinito.
Olho para qualquer direção
e todos os momentos são iguais
como a indicar
que tudo ocorre ao mesmo tempo ---
o tempo é uma ilusão.
Dimensões estranhas se apresentam
Entre-espaços e entre-lugares.
Pontos não-localizáveis.
Contínuos descontínuos.
Paradoxos indecifráveis.
Marada passageira.
Vagueio como um vagabundo dos sentimentos
Parasitando as ruas as emoções
Comprando a felicidade
em farmácias coloridas.
Me perdi em canteiros de traços e vermes.
Adocicado
Por caricaturas de fluor líquido
Deslizei
em montanhas de gelo seco
Tempestades atômicas
Hidrogênio líquido
Lixo nuclear.
Estou vivendo em terceira pessoa
Olhando por fora do meu corpo
Suprimi o atrito
Ah sim! O quero
Atrito. Atrito. Atrito.
E detrito.
Faço viagens por moradas de prazer.
Mas a minha casa é a tristeza.
Trilha sonora do post: Arctic Monkeys, "When the sun goes down".

sexta-feira, março 17, 2006

A psiquiatria legitima a utilização de qualquer droga

Os psiquiatras vivem querendo nos deixar mais felizes. Não hesitam, como médicos, em nos recomendar medicamentos que solucionem nossos problemas "cerebrais", dando respostas químicas para questões mentais.
Em filosofia, especialmente a filosofia da mente (uma discussão mais clara, hoje em dia, na filosofia norte-americana do que na filosofia européia), é possível identificar os "fisicalistas" e os "não-fisicalistas" [sobre os fisicalistas, confiram aqui]. Trata-se, basicamente, de distinguir aqueles que vêem a mente como uma parte do corpo e aqueles que não vêem assim. Estou, decididamente, ao lado dos fisicalistas. A mente é uma mera invenção lingüística, a idéia de "alma" não se sustenta.
Se somos fisicalistas, é bem possível acreditarmos nos médicos e tomarmos a quantidade de drogas para o sono, a depressão, o déficit de atenção e daí por diante, que eles nos recomendam. Pois, se não há distinção entre o físico e o mental, não existe qualquer razão para que evitemos os fármacos.
O que os psiquiatras não perceberam é que, enxertando essa inundação de drogas na nossa sociedade, eles estão, aos poucos, legitimando a ingestão de qualquer substância, visto que a questão da droga se torna meramente moral. Se podemos ingerir uma substância para ficarmos "felizes", evitando a depressão, por que não podemos também cheirar cocaína ou tomar ecstasy, para aproveitar uma festa [abstraídos, aqui, os danos a terceiros, como os acidentes de trânsito]? No fundo, o fisicalismo nos impede de diferenciar uma droga de outra. Ambas são viciantes. Ambas podem levar a uma overdose. Qual a diferença entre as duas? Ambas "alteram a consciência", se entendermos por "consciência" o estado anímico formado a partir de, tão-somente, nossos próprios elementos químicos do cérebro. A que ponto chegamos, então?
Aos poucos, os psiquiatras vão rompendo com todas as fronteiras morais, especialmente aquelas provenientes da Igreja, que valoriza apenas o poder da "palavra", ao introduzir drogas que alteram nossos estados anímicos normais. Como qualquer concepção filosófica mais apropriada nos induz a dizer que não há um padrão único ser humano, não existe um "ponto ideal" da consciência, o que existe é tão-somente a busca de uma vida mais prazerosa.
A partir desse momento, cruzamo-nos com o ponto cego da questão. Onde está a raiz da proibição? Ela é, basicamente, baseada no imperativo capitalista da vida-voltada-para-o-trabalho e no cristão ideal de sacrifício. No fundo, o que está em jogo é o pecado. É somente a partir desse ponto de vista que certas drogas são proibidas e outras permitidas, ainda que ambas alterem a consciência. Somos estóicos, e não epicuristas. O prazer excessivo é proibido. É apenas esse estoicismo -- de natureza puramente moral -- que nos impede de compreender que, no fundo, se a pessoa X ou Y usa heroína, é um assunto privado dela, e nada podemos fazer a respeito. Se, ao mesmo tempo, tomamos prozac, que moral temos para falar, quando o "olho de Deus" caiu e perdemos a referência? A menos que aceitemos um padrão de pessoa, o viciado em heroína e o dependente de prozac são absolutamente iguais, nas suas alterações de consciência. Qual a diferença entre aquele que fuma haxixe antes de dormir e aquele que toma remédios "tarja preta"? Fora a questão legal, ambos alteraram quimicamente seu organismo para produzir uma sensação X. Mas uma é proibida; outra, permitida. Por quê? Porque fumar haxixe é pecaminoso. [É claro que a questão legal aqui está de lado; estamos questionando a lei].
Poderíamos dizer que as drogas ilícitas têm maior potencial viciante. Talvez seja verdade, em alguns casos. Mas a realidade é que existe um grande número de pessoas que usam e não são viciadas; assim, da mesma forma, com as drogas lícitas. A solução, no final, seria proibir todas. Apenas a "palavra" seria moralmente admissível, apenas a alteração da consciência por meio da "conversa". Nesse caso, seríamos ao menos coerentes.
Hoje, contudo, que a psiquiatria faz, ao ampliar cada vez mais o cardápio de drogas capazes de alterar nossos estados mentais é, portanto, legitimar o uso de qualquer droga, porque, ao fim e ao cabo, a decisão sobre toma-la ou não será puramente moral.
It's just rock'n'roll, it's just rock'n'roll, it's just rock'n'roll....
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O show do OASIS foi exatamente como Liam Gallagher prometeu --- rock direto. Uma chuva que resolveu cair exatamente na hora ainda animou a galera, permitindo que nos sentíssemos mais próximos de Manchester. A banda abriu com a tradicional "Fuckin' into the bushes", seguida das ótimas "Turn up the sun" e "Lyla", do último álbum. Execuções perfeitas. E então, a paulada "Bring it on down" e "Morning Glory" abriram a sessão de clássicos, deixando a platéia enlouquecida até chegarmos em "Cigarettes and Alcohol". A melhor faixa de DBTT --- "The Importance of being an idle" --- foi a seguinte, e mais Noel Gallagher com "The Masterplan", tocada irrepreensivelmente. "Songbird", confesso, desapontou um pouco, talvez porque fosse melhor que tivesse apenas um violão e voz, numa versão mais acústica. Acho que o Oasis poderia tocar outra do Heathen Chemistry, pelo menos no clima elétrico. Os fogos se acenderam de novo com a excelente "A bell will ring", grande música, e "Aquiesce" e "Live Forever" foi cantoria geral. Só podia, né? "Mucky Fingers", um dos pontos altos de Noel --- o Oasis arriscando coisas novas -- e então voltamos para Morning Glory, com as clássicas "Wonderwall" e "Champagne Supernova". Nos primeiros acordes desta, houve mais de um grito dizendo "Stand by me", e suspeito que, aqui no Brasil, o renegado Be Here Now seja tão amado quanto os dois primeiros discos --- talvez até mais que Definitely Maybe, o meu favorito. E "Rock'n'roll star" [precisa dizer mais?] fechou, com classe, a primeira parte do show. SURPRESA, depois do bis, em que a platéia canta "Don't go away" [mais Be Here Now, notaram?], eles tocam, ao contrário do repertório previsto, SUPERSONIC --- a melhor música, para o meu gosto. E a energia de "Supersonic" parece ter contagiado uma música que não me chamou muito a atenção no disco, mas no show foi, na minha opinião, a mais energética, feroz e bem executada --- "The Meaning of Soul". Foi simplesmente IMPRESSIONANTE ao vivo. "Don't look back in anger" foi a música de maior interação com a platéia, que cantou inteiramente e até arrancou um sorriso do carrancudo Noel. Fecharam com uma furiosa "My Generation", com ênfase especial nas baquetas raivosas de Zak Starkey, que toca forte e pesado como Keith Moon.
Uma impressão pessoal que ficou é que Noel está bem mais ligado na parte profissional do que propriamente no showbizz. Durante todo show e nas entrevistas [Bizz e MTV] ele pareceu estar só cumprindo protocolo, e no show esteve todo tempo discreto, embora perfeito na execução das músicas. Mas é só uma impressão. Algo que me diz que daqui a dois ou três discos teremos um Oasis bem mais Liam que Noel. Especulação, só.
Por sinal, rateada é pouco para o Roger Lerina, que além de fazer menção ao Júnior [sim, aquele bostinha mesmo], ainda disse que a música favorita dele, "Songbird", não tocou. Mas de onde nada se espera e que não sai nada mesmo, né?
Ah, e o Moptop, banda de abertura, não vale a pena não. Impressionante! Os caras conseguiram emular "Reptilia" quatro vezes.
Trilha sonora do post: Oasis, "Help".

sábado, março 11, 2006

Caiu a casa
Se ainda existiam dúvidas sobre a falência da "bandeira da ética" do PT, agora elas definitivamente se dissiparam. O visível "acordão" com o pefelê mostra que os interesses ligados ao poder se sobrepõem aos da ética. Caixa 2, pelo jeito, deixou de ser um ato ilícito para o PT. Lastimável.

Oposição...
E a oposição, inclusive o PSDB, que nunca teve autoridade moral pra nada, agora que não tem mesmo: trabalhou incessantemente para absolver Roberto Brant (PFL). Como criticar agora?

Destruição do laboratório
Os movimentos ambientalistas merecem todo o respeito. Lutam por todos nós, e por Gaia, a raiz desse planeta que nós, macacos mais complexos, teimamos em querer destruir.
Entretanto, é terrível ver a proliferação desses movimentos proto-marxistas, normalmente compostos por pessoas de pouca inteligência e autoritarismo crônico, queimar o filme, como ocorreu aqui no RS, quando destruído um laboratório de pesquisas. É esse o problema do marxismo e sua visão "revolucionária": o impasse do diálogo real, nos termos da democracia.

Por sinal
O candidato Olívio Dutra rateou feio --- e a coluna da Rosane de Oliveira, na ZH, notou ---, ao dizer que há "falta de diálogo" sobre a situação do Estado. Ora, nada é mais "dialogado" que isso atualmente.
O problema dos xiitas do PT aqui no Estado é que, para eles, dialogar significa concordar com suas idéias. Quando um xiita diz que há "falta de diálogo" desconfie --- no fundo, ele quer apenas que sua posição prevaleça. Mais um rescaldo marxista, com pouco apreço pela democracia.

Operação militar no RJ e o caso da TAM
No fundo, toda essa discussão em torno da ação do exército no RJ e sobre o general que obrigou o vôo a retornar à pista para embarcar envolve, como um magma subterrâneo, a visão que a pessoa tem do exército.
Eu, que sou um pacifista crônico, simplesmente odeio essa cultura militarista. Não acho que um general tenha prerrogativas especiais em um vôo comum --- se quer prerrogativas, voe com avião militar ---, nem que o roubo de dez fuzis justifique uma intervenção do exército [que, aliás, prova sua incompetência em zelar pelo próprio arsenal]. Um conceito de "autoridade" se coloca por baixo dessas ações e eu simplesmente não o aceito. Assim, a ação militar se justificaria para "restaurar a imagem do exército", certamente.
Se pudesse, extinguiria todos os exércitos e suas culturas estúpidas.

Ronaldo
Não há dúvidas do talento de Ronaldo. Poucos atacantes na história do futebol tiveram a mesma explosão, sua principal característica, e sobretudo sua capacidade de decidir --- sua "estrela".
Mas, apesar de Pelé realmente empilhar bobagens, ele acertou ao dizer que Ronaldo joga fora sua carreira pela sua vida pessoal. Está na cara que Ronaldo não está preocupado em se aperfeiçoar [aprender a cabecear, por exemplo] e mesmo em se manter em um estado perfeito de forma física. Joga para fazer uns golzinhos, manter o prestígio e comer mais modelos. Eu venho dizendo isso há tempos --- e isso prejudica o ambiente do Madrid, um clube envolvido com showbizz e, por conseqüência, predisposto a esse tipo de comportamento.
Para nós, brasileiros, há esperanças, porque Ronaldo costuma se motivar com as cobranças. Para os madrilenhos, contudo, não resta nada --- o jogador Ronaldo se ausentou faz tempo.

Erro crasso
Por sinal, como notou o Tostão na sua ótima coluna, houve um avanço de Beckham para a ponta direita, providência que representa a adoção do esquema do Barcelona, com três na frente. Erro lastimável de um técnico sem personalidade, que não enxerga a dificuldade de finalização de Beckham e que, jogando mais atrás, pode ocupar espaços no meio-campo e fazer seus lançamentos precisos. A conta vai para Florentino Perez, um presidente que sempre preferiu treinadores de "perfil bajo".

Aliás

Ronaldo tem apenas 29 anos. Parece estar em fim de carreira, sem movimentação em campo e com uma forma física prejudicado. Henry, em ótima fase, tem 30. Estranho, não? Falta profissionalismo.

Alemanha
É um tremendo equívoco achar que a Alemanha vai se dar mal na Copa. Os dois primeiros títulos alemães foram conquistados contra times superiores [até lendários, a Hungria de Puskas e a Laranja Mecânica] , jogando em casa, é provável que o time vá longe. O fator local interfere muito na Copa, basta ver que, normalmente, países de futebol em nível mais baixo [Coréia, México, etc.] costumam fazer suas melhores campanhas. Sem falar dos grandes que, normalmente, papam a taça [Inglaterra, França, Argentina, a própria Alemanha].

Nota zero
O show da Cachorro Grande no Opinião [09.03] prejudicado pelas péssimas condições do local. Me senti, literalmente, numa sauna. Mas literalmente mesmo. Todos definhávamos enquanto o Cachorro tocava como banda de hard rock, com solos longos e direito até a Jumpin' Jack Flash ao final. Nota zero para o Opinião, que cobrou 20 reais para nos dar as piores condições de show dos últimos tempos.

Finalmente notaram
Até que enfim a imprensa começa a notar que a tecnologia mp3 tem efeitos benéficos para o mercado musical, "incluindo" diversas bandas. Até agora, ele comia na mão das gravadoras, que preferem defender seu discurso corporativo e manter o "jabá". Pesquisa recentemente realizado mostrou que apenas os artistas de grande porte são prejudicados com o mp3, todos os demais são beneficiados com divulgação.
Afinal, há dez anos atrás quem ouviria falar de Death Cab for Cutie, Snow Patrol ou Bright Eyes? Estaríamos tendo que agüentar Nickelback ou Linkin Park.
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No próximo post, comento os filmes que vi nos últimos dias: Boa Noite Boa Sorte, Capote, O Segredo de Brokeback Montain e Match Point.
Eu não consigo mais formatar essas bostas!
Trilha sonora do post: Franz Ferdinand, "Outsiders".

terça-feira, março 07, 2006

Racismo
O episódio Antônio Carlos suscita uma série de questões importantes. Uma delas é a presença constante de racismo, mesmo que vivamos em pleno século XXI. O século XX foi o século das revoluções "transversais" --- feminina, negra e homossexual. Impulsionados por uma América institucionalmente aberta para os direitos civis, na década de 70, forçaram a sua aceitação social, mesmo que por convenções como a do "politicamente correto". O "politicamente correto" era uma forma de forçar a ruptura lingüística com convenções que tratavam de jogar mulheres, negros e homossexuais em valas inferiores, colocando-os em posição ridícula perante a cultura machista, branca e patriarcal. Assim, os KKK acabaram afundando e o mundo inteiro seguindo as "revoluções" inauguradas em São Francisco, Nova York, Paris, Londres.
Mas, pelo que se vê, não é bem assim. A Espanha --- um país que eu admiro tanto... --- vem sendo um exemplo triste de manifestações racistas, em uma população cerca de 90% branca. A tendência natural do racista é negar a existência do racismo --- como vemos em recentes declarações de Luis Aragones, técnico que deveria ter sido demitido da seleção por ter afirmado a Reyes que era melhor que o "negro de merda" Henry. A Federação Espanhola, nesse sentido, é uma grande decepção, aplicando multas pífias aos clubes e não tendo demitido seu treinador. O racismo está presente a todo momento. O ato de Antônio Carlos foi, mais uma vez, a instigação à ignorância e intolerância; a diferença em cima de uma diferença que não existe.
Um dia, quem sabe, poderemos ser mais civilizados.
Condenação antecipada?
Ah, antes que digam que estou pré-julgando o cara: todas as suas declarações retratam que evidentemente houve o ato. Inclusive a tentativa de dizer à imprensa que "se preocupe com as coisas de dentro do campo", atitude típica do racista que, mais uma vez, nega a existência do racismo.

Para os anti-americanos
Não posso perder a oportunidade de alfinetar os anti-americanos e perguntar: que outra cultura teria a oportunidade de nos fazer presenciar um romance gay com tão alta popularidade? Que outra cultura faria multidões se deslocarem para verem dois "machões" (cowboys) se beijarem e abraçarem? Brokeback Montain é uma bela história de amor, onde resta claro o quanto convenções sociais devem ceder, a todo momento, a situações em que testemunhamos o sofrimento injustificado do outro. As tradições existem para serem derrubadas, são meras "invenções" humanas. Somente a cultura pop americana poderia suscitar essa reflexão em massa, capaz de nos jogar num alçapão onde nos sintamos culpados pelos nossos preconceitos. Ang Lee foi infinitamente superior a Almodovar nesse sentido.
Mas, de minha parte, continuo preferindo as mulheres.

Coluna do Wianey Carlet, hoje (www.zh.com.br):
Racismo abjeto
"Indignação já começa a ser palavra com força insuficiente para retratar o que sinto cada vez que se perpetra uma infâmia racista. O primeiro sentimento é sempre de dor, imaginando quanto estas indignidades magoam os meus amigos negros. Domingo, no Alfredo Jaconi, o meu primeiro pensamento, após o gesto de Antônio Carlos, voou até a Restinga e desceu sobre o lar da minha doce amiga Serenita, a vovó Serenita, negra linda de pele e coração, com quem falara longamente no sábado pela manhã. Deu-me uma vontade imensa de abraçá-la, e a sua família maravilhosa, e pedir-lhe perdão pela ofensa que não atingia apenas Jeovânio, mas todas as pessoas que cometeram o "crime" de não nascerem brancas. Lembrei os queridos amigos, com os quais cruzei no Carnaval, e me veio uma vontade imensa de chorar. É o que faço, no momento em que escrevo. Choro, mas não são lágrimas de indignação. São mais do que lágrimas de dor. Elas escorrem carregadas de raiva. E me surpreendo odiando. Sim, porque indignação não é mais palavra capaz de abrigar o gigantesco nojo que estou sentindo. Gostaria de ser superior, sentir pena destes racistas miseráveis. Mas já me acomete o abominável sentimento do ódio, e eu não quero odiar. Devo desejar vida longa para aqueles que discriminam pela cor da pele. Assim, terão bastante tempo para descobrir como são asquerosos, sujos, podres e quanto emporcalham a condição humana."
E, para acrescentar, eu diria que, hoje em dia, eu sou contrário a tudo que se refira à discriminação, INCLUSIVE piadas com negros.

Direitos Humanos
Existe um feixe básico de direitos --- reconhecido por todas as nações do mundo --- que está nas declarações da ONU e vinculam todos os países que tenham a tradição liberal-democrática. Entre eles, o direito à igualdade. É lamentável como, hoje em dia, tais circunstâncias continuem soterradas pela ignorância branca prepotente.
Os fascistas --- de direita ou de esquerda --- são incapazes de compreender o significado dessas liberdades básicas, colocando seus projetos acima do indivíduo. Por isso, o projeto liberal é, ainda, o melhor. Liberal reformista, é claro, e não essa avalanche predatória que vivemos. Um liberal voltado para a concretização dos direitos assegurados em pactos internacionais.

Eu quero Serra!
De todos os projetos que se apresentam até agora, o de Lula é, ainda, o mais consistente. Nada como enfrentar o fraco Serra, com seu tom professoral e bobão, para que a eleição seja morta, muito provavelmente, no primeiro turno.
A favor de Serra, sejamos justos, está uma boa gestão no Ministério da Saúde, que inclui quebra de patentes e concretização dos genéricos. Entretanto, pelo que leio da gestão em SP, todos os vícios tecnoburocratas do PSDB estão por lá, e é bem provável que fossem se repetir, caso eleito à Presidência.

De unanimidades nós desconfiamos
Virou moda bater em Bush. Mas, muitas vezes, são apenas "sweet neocons" que o criticam, até compartilhando de suas idéias, mas sem querer pactuar com o "diabo". Quantos brasileiros que o criticam não são a favor de muitas das suas propostas [guerra contra o crime, proibição do casamento homossexual e do aborto, cultura armamentista, educação religiosa, etc., etc., etc.].
A moda, aqui no Brasil, é falar dos juros altos. Todo mundo critica. Bem, quero que me apresentem, então, uma alternativa. Inflação? Ninguém quer. Os países mais prósperos que consolidaram seu crescimento de forma parecida com o Brasil foram Espanha e Chile --- equilíbrio e conservadorismo na política econômica e persistência, para, passo a passo, consolidar suas conquistas. China e Índia são modelos duvidosos, de culturas e situações sociais bem distintas, embora tenham dimensões parecidas. Desses dois, o modelo indiano, de investimento pesado em educação, é melhor. Falar do modelo econômico da China é ignorar que esse país não é modelo para nada: é um regime totalitário e escravagista que cai sobre uma superpopulação. Assim, qualquer um cresce. O problema é parar de crescer.

A democracia ameaçada
O interesse de políticos ameaça a segurança institucional no Brasil, ao proporem --- como, lamentavelmente, fez Aldo Rebelo --- uma nova emenda constitucional, para derrubar a decisão do TSE que impôs a verticalização. Lastimável porque o interesse político --- menor --- se sobrepõe à vontade constitucional. Os danos ao Poder Judiciário seriam imensos, pois se jogaria seu poder praticamente no lixo.
Isso é MUITO sério.
MTV ressurgindo das cinzas?
Não é só mais uma trova do Lúcio Ribeiro. Realmente, o rock está voltando pra moda. Prova disso é a virada na programação da MTV, que, aos poucos, vai voltando a tocar MÚSICA e principalmente ROCK. Hoje, por exemplo, vi My Morning Jacket, Flaming Lips, White Stripes e outros, um atrás do outro, em um programa novo cujo tema era "você é mais Liam ou Noel Gallagher?". No final, constou: Liam ("Estou no mesmo nível do Elvis") e Noel ("Backstreet Boys têm que morrer"). Hehehe.
Afrodite
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Era wilson. Té más.
Trilha sonora do post: Bob Dylan, "Creep" (é verdade, vocês acreditam?)

segunda-feira, março 06, 2006

Quem lê somepills já sabia!
(consultem os originais clicando em "previous", na barra ao lado)

http://somepills.blogspot.com.
Segunda-feira, Dezembro 19, 2005


TOPTEN FILMES DO ANO

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1. Crash ("Crash", Dir. Paul Haggis)
Onde a política de inclusão de minorias dos EUA foi parar? Identidades culturais levadas ao extremo, até a ignorância perante a humanidade do outro atingir o cume, e depois se reerguer diante da tragicidade da vida cotidiana. Crash é mais do que um retrato dos dilemas norte-americanos: é um retrato dos dilemas da pós-modernidade mundial. Medalha de ouro.
Trilha sonora do post: Spiritualized, "Stay with me".
posted by -MOX- at
01:29

Give me your paranoya (2)




Quinta-feira, Novembro 10, 2005

Crash: o conflito de identidades da pós-modernidade e Levinas

CRASH brinca com a identidade, a inflacionando. Costumamos realçar a identidade de cada um - o rico, o negro, o árabe, o oriental -, através de um multiculturalismo em que cada cultura vai valorizada (e essencializada) em si mesma. Crash é o próprio filme da pós-modernidade norte-americana: conflitos interculturais dentro da própria sociedade, fraturada em tribos. Cultura negra, persa, consumista, política, oriental, etc.O filme é extremamente similar a Magnólia (outro clássico): situações dramáticas vividas por pessoas diferentes, cuja ligação é extremamente tênue, como um fio de cabelo, levadas ao extremo da tensão. (SPOILER) Um policial que molesta uma negra, cujo marido é um negro com temor da sua própria identidade, mais tarde salvará a vida da sua vítima, que inicialmente o rejeita, depois aceita a ajuda. O persa que não fala inglês vê um sujeito tatuado arrumar a fechadura da sua loja, que mais tarde é arrombada. Vai atrás dele, tentando o matar, até se defrontar com a filha, que o "salva". A ricaça é assaltada por negros e infla seus preconceitos, até cair da escada e se dar conta que a sua única amiga é justamente a empregada, aquela a quem desprezava (FIM DO SPOILER).Em todas as situações do filme temos situações amplamente delicadas, em que as identidades se chocam de forma violenta, seguindo, praticamente, a lógica do amigo vs. inimigo. O estrangeiro (em sentido amplo) é rejeitado ou rejeita. A explosão de identidades distintas entre si causa rupturas de conversação, dor e sofrimento. Cada um vive em si mesmo e tem a autorização para ser como quiser - o negro que assalta, o persa que compra arma, a rica que despreza os outros. Todos escravos dos estereótipos que se alimentam de si mesmos. Devoram-se. O respeito à diferença não é, a rigor, respeito à diferença, mas simples indiferença. O negro que realiza o crime é a profecia-que-cumpre-a-si-mesma. A flecha do destino está no inconsciente coletivo: todos imaginam que ele irá o fazer, inclusive ele próprio. A expectativa é tão forte que se torna irresistível. A auto-imagem é desenhada socialmente. Não somos sujeitos desvinculados do mundo que nos rodeia.Crash tem realmente força quando finalmente nos curvamos perante o imperativo ético, de que fala o filósofo Emmanuel Levinas. É somente enquanto percebo o Outro como Rosto, ou seja, como um diferente (e não como um igual) e, com isso, assumo a respectiva responsabilidade pelo nosso encontro (não espero que o Outro seja como eu, o Outro rompe com o eu), com o respectivo trauma, que posso dar um passo adiante em direção a uma nova perspectiva de humanidade.A solução, assim, não passa pela reafirmação de uma identidade sobre a outra, se sobrepondo ou impondo, mas pelo Olhar ao Outro enquanto Rosto, pessoa, independentemente das suas características culturais ou físicas. Por trás da identidade, um Infinito se apresenta: o Infinito do Outro, que não se restringe ao meu pensamento, rompe com o meu eu na sua diferença. Inflacionar a sua identidade (negros são negros, por isso devem ser tratados assim ou assado) significa, em outros termos, aplicar a ele o Mesmo, impor-lhe o Mesmo que a minha mente concebe, a minha visão acerca da sua condição humana. O Outro, contudo, é sempre rompimento com o eu. É infinito porque, por mais simples que pareça, nunca as minhas categorias intelectivas irão percebê-lo na sua totalidade.Em todos os momentos em que as identidades desvanecem, o Outro-coisificado (negro, asiático, tatuado, etc.) deixa de ser alguma coisa para ser alguém, ganha um Rosto perante nós, extrapolando aquele estereótipo que lhe conferimos. Crash explora soberanamente o confronto do Outro-enquanto-coisa para o Outro-enquanto-alguém. Não o negro, mas o Outro que está ali, o ser humano que está ali com seu Rosto, perante o qual devemos nos responsabilizar sem querer, nele, ver o Mesmo que nós. Crash, por isso, é, antes de tudo, um filme levinasiano, em que a fratura multicultural americana leva a ambientes de tensão máxima, com as identidades hiper-inflacionadas até a situação atingir o cume de tensão (corrupção), para, em seguida, o Rosto erguer-se como salvação. A abertura para o Outro (hospitalidade) revigora as relações humanas e transforma o filme, antes que uma metáfora da política de identidades enrijecida [e, por isso, débil, à medida que excessivamente ontológica (coisificante)], num espelho da ética do Outro.

sexta-feira, março 03, 2006

Foucault, Deleuze ou Baudrillard?
Libertar-se das amarras. Por acaso, algum dia já pensaste em pensar o que passa na cabeça daqueles que dizem o que é certo ou errado? Em caso positivo, por acaso não foi uma espécie de vácuo? Ao que parece, somos todos infestados por um controle mental doentio, uma espécie de estrutura onipresente.
Daí a discussão existente entre Michel Foucault, Gilles Deleuze e Jean Baudrillard.
Foucault foi o primeiro filósofo a pensar a questão do poder. Acrescentou ingredientes sociológicos, psicológicos, etc. Foucault usa a idéia de Jeremy Bentham, filósofo utilitarista britânico, da criação de um "olho central" no presídio que permitiria ao vigilante observar todas as celas sem ser, ao mesmo tempo, visto. Esse "olho" é o Panóptico. Foucault trata a questão do poder como o Panóptico: é uma espécie de cela fechada onde somos confinados e, a partir de estruturas disciplinares, constantemente vigiados. Mais: através de estruturas disciplinares fechadas --- escolas, manicômicos, prisões, conventos, fábricas, sala do psiquiatra ---, somos treinados e, ao final, moldados por estruturas que engolem nossa subjetividade.
A idéia reitora da filosofia pós-cartesiana, portanto, que era a noção de sujeito, perde força porque é engolida por estruturas disciplinares, transformando o sujeito em "assujeitado". Como falar do homem de Kant, Rousseau e mesmo Marx, por exemplo, um ser plenamente racional, autônomo, voluntário em suas decisões, depois de constatarmos que grande parte de nossas crenças são "moldadas" e que somos confinados em redutos prontos para aprisionar nossa consciência mediante adestramento?
Assim, a visão foucaultiana de sociedade, hoje em dia ainda extremamente influente, especialmente entre os pensadores da corrente pós-estruturalista francesa [dentre os quais, Deleuze e Baudrillard], comporta a idéia de que o ser humano é dominado e adestrado por estruturas de poder, e não por decisões racionais tomadas segundo nossos próprios interesses individuais. Foucault não fala sobre a "verdade na história", mas sobre a "história da verdade". Não lhe interessam um suposto "fundamento último" que aproximaria de uma "realidade" ou "verdade", mas sim como o poder, ao longo do tempo, define aquilo que é verdade e o que não é. Essa inversão metodológica, a rigor, abriu um flanco para vários estudos sobre o "biopoder", que significa o domínio exercido por essas estruturas disciplinares nos corpos humanos.
Gilles Deleuze, em artigo publicado por aqui no seu "Conversações", faz uma progressão geométrica do pensamento foucaultiano. Deleuze não discorda de Foucault quanto ao poder disciplinar: ele, no entanto, sinala que a era a que Foucault se referia já passou. Deleuze escreve que estamos, agora, não mais diante da "sociedade disciplinar", que adestrava mediante instituições fechadas. Estaríamos, agora, diante das "sociedades de controle", espécie de sociedade onde o controle se exerceria onipresentemente, a céu aberto.
Dessa forma, não precisaríamos mais estar diante de uma escola como instituição total. O controle é exercido de forma diferida: não mais estudar durante anos na escola e se graduar, mas a permanente necessidade de estudar. O controle não exige mais confinamento. Ele é diferido no tempo, um continuum. Todos são vigiados, todos devem, todos são dependentes de estruturas que aprenderam a se libertar da necessidade de confinamento e passaram a exercer seu domínio por extensão.
Jean Baudrillard, por fim, discorda de Foucault e Deleuze. Baudrillard acredita que o poder não se exerce mais da forma como os dois colocavam. Na verdade, Baudrillard vê o poder como uma hiper-realização de si próprio. O conceito de hiper-real é bem exemplificado pelo caso da pornografia. Será que, se assistimos ao vivo uma transa ou mesmo quando transamos temos acesso à mesma visão que temos quando vemos um filme pornô? Os closes são uma espécie de hiper-realidade: a realidade se inflaciona ao ponto de parecer uma simulação de si própria.
O poder, segundo Baudrillard, teria se hiper-realizado e, com isso, se dissipado na sua própria virtualidade. Assim, o poder, de estrutura disciplinar e de controle, transforma-se em espécie de infinita simulação de si próprio, descontínua e virtual. Um exemplo dessa simulação pode ser dado quando perguntamos "quem está por trás disso" e, no entanto, não conseguimos identificar. É como se redes de poder se alastrassem por infinita simulação de si próprias, reproduzindo uma espécie de ponto sem origem, virtual e indeciso. Por isso, a própria pergunta em torno do poder independe da sua real natureza: o simulacro é real.
Assim, temos três visões distintas do poder: na primeira, ele é disciplinar e exercido mediante adestramento em instituições fechados; na segunda, é exercido a céu aberto, mediante técnicas de extensão que permitem controlar a pessoa; na terceira, por fim, ele já perdeu seu conteúdo e passou a ser infinita simulação de si próprio.
No próximo post, vou fazer a crítica dessas tendências a partir dos pontos de vista de Norbert Elias, Jürgen Habermas e Richard Rorty.
Trilha sonora do post: Interpol, "Roland".

quinta-feira, março 02, 2006

Brunchner
Em viagens longas para lugares libertinos, a vida do cara acaba se transformando em uma redoma de álcool*, desregramento, indisciplina. Vocês, de regra, conhecem meu lado libertino: cunhei uma nova palavra, a fusão do "brunch" com "dinner" --- tipo, aquela refeição que o cara faz só para constar, entre um trago e outro, e, por sinal, a única do dia.
Quem, afinal, precisa comer? A vida é curta demais para isso.
O mundo é uma praia
Cheguei à conclusão, fazendo uma trilha e entrando em contato um pouco mais profundo com a natureza, que a Terra é uma grande praia, e pouco nos damos conta disso.
No centro, um conjunto de bichos devasta com fumaça, detritos e sujeira esse planeta. Bichos que se acham superiores aos demais.
Aliás, finalmente consegui convencer uma pessoa --- e não era nada burra, não --- em uma longa conversa filosófica, que não existe diferença alguma entre razão e instinto, apenas de grau. No limite, a razão é apenas um instinto adaptativo próprio dos seres humanos; que, entretanto, pode se estender aos demais animais. Vocês já pararam para pensar que realmente não existe diferença alguma entre a conduta da abelha, do macaco e do homem?
A TRILHA SONORA
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"First Impressions of the Earth" foi, sem dúvida alguma, A trilha sonora das minhas férias --- disparado. Li uma quantidade assombrosa de idiotices escritas por gente que certamente não escutou o disco.
Ponto 1: é o disco mais triste e revoltado dos Strokes. Julian vive a fase do "odeio o mundo" [eu sei bem o que é isso, talvez tenha me identificado]. Já começa em "You only live once" ["some people think ther're always right"], segue em "On the other side" ["I hate them all, I hate them allI hate myself For hating them So drink some more I'll love them all I'll drink even more I'll hate them even more than I did before"] ou "Evening Sun" ["They love you or they hate you/Cause they will never let you be"].
Ponto 2: os velhos Strokes ainda estão lá, em músicas mais arrastadas [no bom sentido], que lembram "Under Control" ou "Automatic Stop", pelo seu andar mais lento, especialmente as maravilhosas, fantásticas, excelentíssimas "You only live once", "On the other side" e "Razorblade". São músicas que marcam.
Ponto 3: é um disco em que eles se arriscaram. Os sons ficaram mais complexos, o próprio tempo do disco já se distancia bastante do curto "Is this it" e do curtíssimo "Room on Fire". Na modesta opinião deste, o único defeito do segundo disco era exatamente sua curta duração, que nos obrigava a ouvi-lo pelo menos duas vezes. O grande destaque do disco, além disso, é a "soltada" na voz de Julian, o que se nota desde a primeira música.
Ponto 4: como eu já disse no post anterior, "Razorblade" já vale o disco. Música espetacular, porque foi escrita sobre o amor entre namorados, no caso, provavelmente Julian e aquela gostosa do encarte. Não é, ao contrário da maioria, uma música de sofrimento, desejo não correspondido, chute na bunda --- não, na verdade é uma conversa entre homem e mulher em que as idiossincrasias da última acabam, ao final, magistralmente vencedoras. As always, of course.
Ponto 5: sim, existem algumas músicas dispensáveis, mas isso faz parte de qualquer projeto mais ambicioso, sem que o estrague ou diminua. Os Strokes cresceram como banda e confirmam serem a número 1 do "novo rock", acima de outras boas bandas como White Stripes, Franz Ferdinand e The Libertines.

A trilha sonora --- II
The Rolling Stones. Embora ouça essa banda desde os primórdios da minha existência, nunca foi tão clara sua importância, magnificiência e capacidade infinita de elaborar músicas esplêndidas. "Hot Rocks", a coletânea oficial da melhor fase dos Stones, rolou muuuuitas vezes, e a cada ouvida foi melhor e melhor.
A verdade é a seguinte: se o rock'n'roll tivesse nome de banda, seria, certamente, ROLLING STONES. Nenhuma outra banda personifica a idéia de rock como os Stones e sua genial dupla compositora. Jagger é um monstro e creio que esse seja o melhor adjetivo para defini-lo. Nada é mais sexo, drogas e rock'n'roll do que Rolling Stones. Nada.
Por que então, os Beatles? Tão-somente por amplitude. Os Beatles foram os precursores de diversos segmentos do rock, enquanto os Stones permaneceram seguros onde eram os reis. Mas, ali, são imbatíveis. São inúmeras as bandas que devem tributo a eles. Uma delas, por exemplo, é o Primal Scream, agora que concluí que "Screamadelica", sua obra-prima, é "Simpathy for the Devil" tocada para raves atoladas de ecstasy, como aquelas que rolavam em Madchester àquela época [inicío da década de 90].
Vai, então
10. Alter Ego, "Épico";
9. The Verve, "Blue";
8. The Rolling Stones, "Get off my cloud";
7. Oasis, "Turn up the sun";
6. The Rapture, "Sister Saviour";
5. Primal Scream, "Loaded";
4. The Strokes, "Juicebox";
3. The Strokes, "You only live once";
2. The Rolling Stones, "Simpathy for the devil";
1. The Strokes, "Razorblade".
Indisciplina
Sou contra tudo que signifique controle, disciplina, lavagem cerebral. Cada um deve ser exatamente o que quer, salvo se, por um ato concreto, de alguma forma lesar a outrem. Do contrário, devemos suportarmos uns aos outros, independente de qualquer juízo moral. A liberdade tem primazia.
Lula
Não surpreende o crescimento de Lula. Primeiro, porque normalmente os governantes não têm dificuldades de se reelegerem, desde que não tenham feito algo escalandosamente ruim. Segundo, porque a propaganda é intensa e imensa. A BRIOI está coberta de placas anunciando a obra, embora pouco tenha sido feito. Terceiro, e por fim, porque o Governo não vai tão mal, embora esteja tropeçando feio em alguns pontos.
Fim do socialismo
Deveríamos apagar o socialismo das nossas mentes. Seria melhor esquecer logo Marx. O mundo é formado a partir da linguagem que usamos. Pensem em qualquer coisa, da mesa ao monitor do computador. É preciso ser muito confiante para achar que existe uma "inscrição" específica nesses objetos que os identifiquem como "monitor" ou "mesa". Não --- nós lhes damos nomes, e com os nomes, as funções. O mundo, por isso, não sai da moldura da linguagem.
Os xavões marxista nos impedem de pensar. Em vez de pensarmos alternativas para uma maior abertura democrática com a circulação do povo pelos canais de decisão, em vez de pensarmos em desenvolvimento sustentável, direitos humanos, liberdades fundamentais, falamos de "burguesia", "proletariado", "neoliberalismo", "capitalismo", etc. Essas metáforas nos engessam. Quem sabe um dia o PT não seja mais aquilo que parcela dos seus membros querem que seja: reduto marxista heterodoxo, mas marxista. Quem sabe o PT, um dia, se aproxime mais da social--democracia, do liberalismo reformista, dos partidos verdes. Quem sabe, um dia, menos Marx, Trotsky e Althusser e mais John Rawls, John Dewey, Habermas e Rorty.
Li
--- Filosofia Americana, boa compilação de entrevistas da italiana Giovanna Borradori, com figuras célebres como Kuhn, Davidson, Rorty, Nozik, Quine e Rorty. Leitura leve, mas bem informativa, com ótimo prefácio em que comparadas a tradição continental e a analítica. Gostei também do esteta Arthur Danto, um filósofo que coloca Andy Warhol no mesmo patamar dos filósofos.
--- Rimbaud e Jim Morrison, de Wallace Fowlie. Um tanto quanto desapontante, porque, embora recupere informações sobre os dois, peca pela superficialidade, centra-se mais na biografia que no texto. Não recomendo, embora recomende serenamente tanto Doors quanto o fantástico Rimbaud, por sinal, meu poeta favorito.
--- "A Farmácia de Platão", de Jacques Derrida. Derrida escreve em estilo complicado, quase impenetrável, sobre o tema da escritura. Até que ponto a escritura falseia a realidade? A voz falada parece carregar um parentesco com a verdade; a escritura, por si mesma, é apenas cópia da cópia, gira em torno de si mesma e parece se desconectar da "essência" das coisas. "Pharmakón", diria Derrida, remédio e veneno ao mesmo tempo.
Pretendo
Ser mais bem humorado, mais gentil, menos ácido e autodestrutivo, beber menos, estudar mais, fazer exercícios, ser mais compreensivo e um pouco menos crítico. Conseguirei?
Só mais uma
Não sou entusiasta do carnaval. Na primeira rave que descobri, me enfiei. Era num tal de Divine Club, na BR-101 entre Porto Belo e Itapema. Sinceramente, uma das PIORES festas que já fui na minha vida. Não eram apenas as pessoas de carinha sem entender nada do que estava acontecendo. Nem mulheres palhas, compensadas pelo astral absurdo de estarmos na beira da praia. O lixo supremo foram os DJs. Com uma mistura de electro, às vezes, e house, eles simplesmente infernizaram meus ouvidos. Inclusive o hypadíssimo DJ Mau Mau, amado em todo país, foi simplesmente terrível. Eu queria psy. Aliás, eu PRECISAVA de psy, sob pena do meu cérebro fritar. Fritou.
Trilha sonora do post: Coldplay, "Talk".